Supremo Espetáculo
Logo presos e condenados, antigos e futuros, reais ou potenciais, reagiram.
De fato, nunca houve mesmo razão para esperar o melhor. A gente é que foi persistente. E, ao longo de séculos, foi se acostumando a abraçar qualquer fiapo de esperança. Talvez existisse alguma redenção depois de tanto sacrifício. A gente sempre quis. Ou melhor, torceu.
Era luz fraca, mas a vontade de acreditar era grande. E ajudou muito ver algemas decorando os pulsos inesperados de gente que, embora conhecida, caminhava em direção a cadeia sempre tentando, inutilmente, cobrir o rosto.
As mudanças, a muito desejadas, vinham aplaudidas e apoiadas por uma população sedenta de mudança. Sob o abano de folhas de palmeira, a esperança de controlar o caos e combater a corrupção entrava triunfante, saudada que foi pelo povo, no ex país do futebol.
Foi bonita a festa. Mas não durou. Logo presos e condenados, antigos e futuros, reais ou potenciais, reagiram. Sequestraram as expectativas. E encarceraram a ideia de que tudo poderia mudar. Ou pelo menos melhorar um pouco. e assim foi.
Não houve arrependimento. Somente pagamentos em moeda, de prata, ouro, ou em nossos tempos, em todo tipo de transação, eletrônica ou não. Foi época de vários Judas. Alguns ajudaram a justiça traindo companheiros. A maioria, simplesmente traiu a nação. E a todos seus cidadãos.
O Brasil tem Judas de todas as espécies. Nenhum arrependido. O remorso não os aflige. Em pais que nunca fez questão de fazer sentido, é quase obrigatório que Judas não se arrependa ou não seja malhado. Nem passe muito tempo na cadeia.
O calvário da esperança tropical tem de tudo. Na busca da mudança, a gente esta conhecendo o rosto feio que emerge da degradação das instituições, que, com toda franqueza, nunca funcionaram lá muito bem. Alguns juízes lavam as mãos. Outros as sujam. Nenhum julga.
A esperança chegou em gloria, viveu efêmera, passou pelo calvário de um sistema judicial farsesco, e talvez, brevemente, alcance a gloria da crucificação em mais um supremo e deprimente espetáculo.
Talvez não houvessem mesmo razões para esperar mais. O erro talvez tenha sido acreditar. Em nação sem justiça, bons juízes sempre faltam.
Elton Simões mora no Canadá. É President and Chair of the Board do ADR Institute of BC; e Board Director no ADR Institute of Canada. É árbitro, mediador e diretor não-executivo, formado em direito e administração de empresas, com MBA no INSEAD e Mestrado em Resolução de Conflitos na University of Victoria. E-mail: esimoes@uvic.ca .