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O primeiro blog brasileiro com notícias e comentários diários sobre o que acontece na política. No ar desde 2004. Por Ricardo Noblat. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.

Sociedade contra os delírios kafkianos de Bolsonaro (Por Juan Arias)

Está sendo criada uma frente ampla?

Por Juan Arias
28 nov 2020, 13h00

Os partidos políticos já falam abertamente em começar a criar uma frente ampla contra o bolsonarismo. Não será fácil porque cada partido irá querer seu candidato próprio em um baile de egos. Talvez o mais importante seja que está se organizando ao mesmo tempo essa frente plural por parte da sociedade que pede a saída de um presidente que a cada dia atenta contra as essências deste país. “Saia, já!”, é uma das frases mais escutadas sempre que Bolsonaro lança uma de suas barbaridades kafkianas, destrutivas e alimentadoras de ódio entre os brasileiros. A última foi a negação descarada de que no Brasil existe racismo. Como nos tempos da ditadura militar, Bolsonaro defende hoje que o racismo brasileiro é “importado” do exterior para prejudicar o país, algo típico de todos os ditadores de direita e esquerda.

Em um discurso na primeira viagem aos Estados Unidos, o recém-eleito Jair Bolsonaro, cercado de extremistas de direita, anunciou que havia chegado para “desconstruir” o Brasil. E está sendo fiel a sua promessa. Dia a dia, frase a frase, discurso a discurso, o novo presidente vai quebrando os vidros dos edifícios deste país construído com o esforço de todos, começando pelos mais excluídos.

O último exemplo foi seu desastroso discurso ao G20, a reunião dos países mais importantes do mundo economicamente. Enquanto o país chorava pela brutal execução do negro João Alberto Silvério de Freitas, de 40 anos, pelos seguranças brancos de um Carrefour, Bolsonaro, sem uma palavra de repúdio ao crime cometido à luz do dia diante dos clientes atônitos, negou que exista racismo no Brasil e que o problema é que existem “brasileiros bons e brasileiros maus”. Uma afirmação de um simplismo que espanta.

Fernando Gabeira, que não é nenhum extremista, acaba de afirmar que tem a sensação de que “Bolsonaro está se dissipando no ar”. É possível, mas o problema é que deixará o ar infestado com o vírus de sua insensatez política. O Brasil, de fato, está lutando com duas epidemias ao mesmo tempo, a do coronavírus e a tóxica de uma política que desfigura cada dia mais o rosto deste país.

É que o Brasil imaginário que Bolsonaro desenha quando fala está deixando incrédulos os outros países que já tiveram uma imagem melhor do Brasil. Bolsonaro e suas hostes mais extremistas estão tentando criar uma mistura do realismo mágico de Gabriel García Márquez, do teatro do absurdo e do mundo kafkiano do grande poeta austro-húngaro.

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O Brasil dos sonhos autoritários e negacionistas de Bolsonaro é capaz de negar que aqui existem o sol e as praias. Para ele não existe a pandemia apesar de que, com os Estados Unidos, o Brasil seja o país do mundo com mais números de mortos e infectados. Para ele não existe racismo, não existe fome, não existe destruição da Amazônia, não existe homofobia e o desprezo pela mulher, não houve ditadura militar. Seu negacionismo da realidade que está diante dos olhos de todos é patológico.

É notório que no Brasil sempre existiu o realismo mágico até em sua faceta de corrupção. Que melhor exemplo do que o ilustre senador com quem a polícia semanas atrás encontrou dinheiro escondido entre as nádegas? Na política brasileira sempre houve exemplos do teatro do absurdo, mas nunca houve um presidente com uma política tão kafkiana. É uma política, de fato, que se funda no negativo. O kafkiano, que abunda na política de Bolsonaro, como bem explicou em um ensaio o médico, psiquiatra e psicanalista argentino, radicado na Espanha, Eduardo Braier, está estreitamente ligado “ao funesto”, a “elementos persecutórios”, à “angustiosa negatividade”, ao “desassossego e ao desespero”.

Além de tudo isso é preciso acrescentar a idiossincrasia do capitão Bolsonaro, um certo sarcasmo como quando zomba do racismo que assola milhões de pessoas, e faz brincadeira como a de que é daltônico e só consegue ver as cores verde e amarela da bandeira brasileira. E quando afirma que os negros dos quilombos “não servem nem para procriar”. E que este é um país de maricas e de covardes cheios de ódio.

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A sociedade brasileira começa a se cansar das loucuras calculadas e negativistas de Bolsonaro e se sente cada vez mais envergonhada de que a nação esteja nas mãos de um presidente que, apesar dos freios colocados pelos generais de seu Governo, é como um cavalo descontrolado cujas limitações, como ensina a psicologia, o levam a superar-se dia após dia em seus julgamentos arrogantes e negativos sobre este país que começa a perder a paciência e a se sentir humilhado dentro e fora do país. “Aqui quem manda sou eu”, repete como um mantra dos complexados.

O despertar do melhor e mais saudável da sociedade sem diferença de cores políticas e religiosas é como uma revolução silenciosa, mas real. A única que será capaz de fazer frente nas urnas ao pesadelo que o país está vivendo.

O Brasil voltará a ter a fé perdida nos que deveriam velar para engrandecê-lo em vez de humilhá-lo, enquanto a parte sã da sociedade não renuncia aos valores da democracia e quer paz, segurança uma economia que não negue o pão a ninguém e que seja respeitada e valorizada pelo peso real que tem no mundo.

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Já há quem comece, cansado de uma política que está desconstruindo o país, a pensar se será possível aguentar mais dois anos de descalabro político e social ao que o bolsonarismo está submetendo o país enquanto a educação está sendo atacada e humilhada, a cultura envergonhada e as relações internacionais prostituídas.

A solução e a responsabilidade também são das instituições democráticas do Estado que, em vez de flertar com Bolsonaro em conciliábulos noturnos, deveriam usar o poder que lhes é concedido pela Constituição para colocar um ponto final, conectadas com o melhor da sociedade democrática, a um poder que pisoteou todas as promessas de esperança de um Brasil mais limpo politicamente, o que o presidente havia prometido e depois traiu, na sacralidade das urnas.

(Transcrito do jornal El País)

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