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Quase finado (José Paulo Cavalcanti Filho)

“Ai, que vida boa”

Por José Paulo Cavalcanti Filho
Atualizado em 18 nov 2020, 19h45 - Publicado em 6 nov 2020, 14h00

Segunda passada foi Finados. O dia de chorar nossos mortos. E lembrei de fazer, aqui, uma comemoração torta dessa data. Relatando, ao amigo leitor, como será meu triste fim. Cemitério de Santo Amaro, em frente ao túmulo do avô (ex-governador Agamenon Magalhães). Maria Lectícia olha para mim, com ar inocente, e diz: “Quando o primeiro de nós dois morrer, EU vou lhe enterrar aqui”. Fiquei preocupado. Não pelo fato da morte certa, um dia. E antes dela, claro. É o que desejo. Imitando Machado de Assis, com sua Carolina. Embora não tenha planos de que isso ocorra tão cedo. A preocupação era porque à direita do mausoléu, sob a inscrição HISTÓRIA, o sol da tarde é forte. E deve ficar muito quente, lá dentro. Desagradável, para os hóspedes. Por isso perguntei “De que lado?”. E ela, “Escolha”. No lado esquerdo, sob a inscrição VIRTUS, vi que havia pequena mangueira sombreando. Seria bem mais agradável. E disse, apontando, “Aqui”. Sei, portanto, até onde serei enterrado. Um privilégio.

Na lápide, prometeu por frase que vivo repetindo, “Ai, que vida boa”. Se achasse ruim, poderia usar Poe, “Nunca mais”. Ou Sinatra, “O melhor ainda está por vir”. Ou Jimi Hendryx, “Nos veremos na próxima, baby. Não demore”. Ou, mesmo, Evita, “Cumpri minha humilde imitação de Cristo”. Só não a maldição que Shakespeare deixou para a dele, em Stratford-upon-Avon, “Maldito será aquele que mover meus ossos”. Ou a que Jô Soares deseja para o seu, “Enfim, magro”.  Mas estou em dúvida. Ari Barroso, antes de partir, deixou no papel sua derradeira vontade. De que, no túmulo, estivesse a frase “Aqui jaz um homem que odiava jazz”. E a mulher não cumpriu. Desconfio que assim também será, comigo.

Para completar, fiz três pedidos. Primeiro. Não acredito em Deus, mas vai ver que ele existe. Nem que haja um céu, ou que mereça ir para lá. Só que se acaso for, com a enorme hipermetropia que tenho, não vou ver nada. “Como vai José?”. E, eu, “Quem fala?”. “É J. Cristo, rapaz, não estás me reconhecendo?”. Um vexame. O padre Sérgio Absalão, da Igrejinha dos Aflitos (na Rosa e Silva), garantiu que no céu todos seremos perfeitos. Sem precisar usar os tais óculos. Mas prefiro não confiar nessa tese. E pedi, então, para ser enterrado com eles. Lectícia prometeu. Mas estou quase certo de que não vai por no rosto, como pedi. Talvez, no bolso do paletó. Seja. Melhor que nada. Segundo pedido, isso acredito fará, que pusesse junto um charuto Montecristo. Pelo sim, pelo não…

Por fim, ninguém sabe, fui honrado com a mais importante comenda concedida pelo governo brasileiro, a Ordem do Rio Branco. Tanto que só pode ser entregue pelo Presidente da República. Quando o diplomata do Itamarati ligou, para combinar a cerimônia, pedi que mandassem pelos Correios. O homem disse que nunca ocorreu algo assim, antes. O normal é receber com pompas e bater fotos, para sair nas colunas sociais. Mas acabou aceitando. O terceiro pedido era de que Lectícia me enterrasse com ela. Pelo menos os amigos, que fossem ao velório, iriam saber que fui. Não teve conversa.  “Faço não, é muito cafona”. Danou-se. Morto, no calor, sem ver direito, sozinho e descondecorado. A sorte é que isso vai acontecer apenas em 2.500. Ou ainda mais tarde, espero.

José Paulo Cavalcanti Filho.

jp@jpc.com.br

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