Esgotou-se, ontem, o prazo de 48 horas dado pela juíza federal Ana Lúcia Petri Betto, da 14ª Vara Cível Federal de São Paulo, para que o presidente Jair Bolsonaro tornasse público os laudos com os resultados de todos os exames que fez para o novo coronavírus.
A mesma juíza, na semana anterior, havia dado um prazo de cinco dias que não foi cumprido pelo presidente. Para descumprir o segundo prazo, Bolsonaro entrou com uma ação no Tribunal Federal Regional da 3ª Região, em São Paulo.
E, ali, a desembargadora Mônica Autran Machado concedeu-lhe um terceiro prazo. Ele ganhou mais cinco dias. Segundo a desembargadora, esse será o tempo necessário para que a Justiça decida se existe não interesse público nos resultados dos exames.
Alega a defesa de Bolsonaro que tornar público os resultados seria uma invasão de sua privacidade. Que ele já disse que fez duas vezes testes para saber se fora infectado e que os resultados foram negativos. A palavra dele, portanto, seria suficiente.
Sem essa de zelo por sua privacidade e de confiança em sua palavra! Desde quando Bolsonaro se preocupou em defender sua privacidade? Mal terminou de ser operado depois da facada que levou em Juiz de Fora, seu corpo foi filmado e exposto na internet.
Pode-se ver o tamanho do corte que ele sofreu e detalhes da costura feita pelo cirurgião que o operou. Viu-se, também, o senador evangélico que rezava sobre seu corpo invocando as divindades para que o socorresem em hora tão difícil.
Transferido de Juiz de Fora para um hospital em São Paulo, o sofrimento do então candidato a presidente da República foi registrado em vídeos diários postados nas redes sociais. Jamais a intimidade de um paciente fora devassada de tal maneira.
Desde que eleito e empossado, perdeu-se a conta do número de vezes que Bolsonaro participou de programas na televisão sempre a levantar a camisa para mostrar o que quase lhe custou a vida. Parecia sentir prazer nisso. Virou uma espécie de gigolô da facada.
E agora se dá ao desplante de dizer que querem desrespeitar seu direito à privacidade? O presidente Donald Trump, a quem ele imita quando o convém, fez o teste do Covid-19 e autorizou a Casa Branca a divulgá-lo sem que ninguém pedisse. Testou negativo.
O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, testou, deu positivo e os resultados dos exames foram mostrados. Internou-se para tratamento médico. Um homem público deve satisfações aos que o elegeram e também aos que lhe negaram o voto. Elementar.
Por que Bolsonaro se nega a fazer o que é devido? Há poucos dias, em entrevista a uma emissora de rádio do Rio Grande do Sul, ele voltou a repetir sua desculpa favorita nesse caso: “Eu talvez já tenha pegado esse vírus no passado. Talvez, talvez, e nem senti”.
É o que a República em peso acredita que aconteceu, daí seu pavor em confirmar. Porque se pegou a doença, comportou-se como um irresponsável ao transitar entre pessoas sem tomar o cuidado obrigatório e pode ter infectado muitas delas.
Quanto a desejar que se confie em sua palavra, infelizmente é tudo o que não é possível. Bolsonaro é um mentiroso compulsivo. Mente quanto acha necessário. Mente para se defender e para atacar seus desafetos. Mente pelo simples prazer de mentir.
Tudo o que diz deve ser testado antes que se acredite. E grande parte do que diz não resiste ao teste.