Comecei a minha vida quando o Brasil era o país do futuro. Hoje tenho medo de terminá-la sendo o país do passado. Durante a maior parte do século XX éramos amplamente reconhecidos como fadados a estar no grupo dos países ricos num tempo não muito distante.
Desde o início dos anos 1900 a nossa renda por habitante cresceu regularmente a taxas elevadas, chegando a quase 3% nas décadas de 20 e 30, passando a 4,1% na década de 50, e 5,8% nos anos 70, mesmo com a população crescendo muito rapidamente.
Em dólares de ano 2000 a renda por habitante dos brasileiros saltou de US$ 586,00 em 1940 para US$ 3.052,00 em 1980, multiplicando-se mais de cinco vezes. Se esse ritmo fosse mantido, nossa renda hoje em dólares estaria em torno de US$ 16 mil em preços correntes ou mais de US$ 30 mil em termos da chamada paridade do poder de compra, que ajusta a renda pelos preços vigentes em cada país. O Brasil seria hoje um país rico.
Isto infelizmente não aconteceu, por uma variedade de causas sobre as quais não se estabeleceu ainda um consenso razoável. Desde 1980 a economia brasileira não teve mais um crescimento regular e em alguns períodos longos como as décadas de 81/90 e 2011/2020 tivemos crescimento negativo da renda por habitante e ficamos mais pobres.
As nações podem ter muitos objetivos, fracassar em alguns deles e ter êxito em outros, seguindo seu caminho na história sem maiores percalços. No Brasil, porque temos extensão territorial, grande população e uma infinidade de recursos, ao mesmo tempo em que a maioria da população vive na pobreza ou mesmo na miséria, o crescimento econômico tem que ser um objetivo central.
Manter-se por quase 40 anos praticamente na estagnação, por culpa exclusivamente nossa, é um pecado sem remissão.
Estamos vivendo agora um dos piores momentos de nossa história. Mais uma vez estamos regredindo na economia e para piorar estamos sendo devastados por uma pandemia que o governo fracassou em prever e não se empenhou em combater.
Para completar, nossa sociedade está dividida, sem rumo e orientação. Daqui a um ano e meio a nação vai se reunir para escolher se deseja mais quatro anos deste Governo ou, ao contrário, um outro governo diferente.
Consultando as pesquisas de opinião mais recentes podemos perceber uma nação que se divide entre três rumos. Cerca de 32% afirmam que votariam em Lula, 30% que votariam em Bolsonaro e, em torno de 27% que votariam numa lista de nomes de uma possível terceira via.
Em termos gerais, as opções são praticamente equivalentes. Quase dois terços das pessoas projetam uma volta a algum passado. A opção Bolsonaro é a escolha pela volta de um país mais autoritário e mais militarizado, onde a ordem prevalece sobre tudo o mais, nos moldes do que foi o regime militar que durou de 1964 a 1985 e que legou à sociedade civil recessão, inflação e insolvência do Estado.
A maioria das pessoas que expressa esta preferência nostálgica, na verdade não vivenciou o regime militar. Só as pessoas hoje com mais de 70 anos tiveram de fato esta experiência e representam uma parcela muito pequena dos eleitores.
Os 13 anos de Governos do PT são igualmente uma volta a um passado que não terminou bem. Os anos de Lula e Dilma foram anos de um crescimento irregular que, no seu final combinou profunda recessão econômica, inflação e crise fiscal.
Além disso trouxe para a vida nacional polarização política, uma crise moral sem precedentes, corrupção institucionalizada e a desvalorização da política.
Um país indeciso entre voltar a um ou outro desses passados é certamente um país que não acredita mais em qualquer futuro melhor. O passado é algo a que não se deve voltar senão como uma introspecção que nos ilumine para que evitemos repetir os mesmos erros.
Um fio de esperança sobrevive porque um terço dos brasileiros mantém firme sua recusa em seguir nesses caminhos sombrios. Quem sabe ainda podem ser muito mais?
Roberto Brant escreve no Capital Político. Ele foi deputado federal constituinte por Minas Gerais, secretário de Fazenda no governo Hélio Garcia em Minas, ministro da Previdência e Assistência Social do governo de Fernando Henrique Cardoso. Preside atualmente o Instituto CNA. Escreve nos jornais Correio Braziliense e Estado de Minas.