O que diferencia um sábio de um ignorante? (por Mirian Guaraciaba)
Juiz esparramou seu próprio veneno

Um cadáver. Milhares de cadáveres.
O pensamento é de Aristóteles, filósofo grego, nascido em 384 Antes de Cristo. Dita dessa maneira, a frase ilustra os dias que vivemos. Pandemia da ignorância. A vida burlada em alucinações.
A praga do vírus continua poderosa. A ignorância, idem. E quando se adiciona arrogância, surge a sequela: Eduardo Almeida Prado Rocha de Siqueira. Nome pomposo do desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo, que, desdenhoso, humilhou um guarda-civil após ser multado por andar sem máscara na orla de Santos.
Almeida Prado julga pessoas. Nas ruas, o Juiz esparramou seu próprio veneno, ignorou decreto municipal, chamou o agente de fiscalização de “analfabeto”, tentou dar uma carteirada, rasgou a multa e sujou a praia com o papel picado.
Protótipo do brasilieiro prepotente, o gesto do desembargador é arremedado todos os dias. No País que elegeu um déspota presunçoso, inepto, as cenas de desrespeito e empáfia contam suas proprias histórias.
Na Barra da Tijuca, um sujeito agrediu verbalmente um fiscal da vigilância sanitária, ao ser abordado por estar desrespeitando o distanciamento social e o uso de mascaras. Foi chamado de cidadão, e reagiu: “Cidadão, não, engenheiro formado, melhor que voce”.
Há um mês, a médica Ticyana D’Azambujja foi violentamente agredida por um grupo de três homens e uma mulher, no Grajaú, Zona Norte do Rio, depos de reclamar várias vezes de festas barulhentas durante o período de isolamento social.
Um dos homens quebrou os joelhos da médica. Bem treinado, é o PM Luiz Eduardo Salgueiro, sargento do Batalhão de Choque da Polícia Militar do Rio. Tyciana teve fraturas por todo o corpo.
Nesse fim-de-semana, turistas gauchos xingaram fiscais da Prefeitura de Balneário Camboriú, Santa Catarina, por terem sido abordados sem a máscara de proteção.
Assim caminha o Brasil do Corona. Sem regras, sem empatia, sem punição, sem máscaras, espíchando a pandemia. Na maioria das cidades, praias, ruas, shoppings já andam cheios como se não houvesse amanhã.
Sem querer ser urubu de má noticia, como diria minha sábia amiga Tânia, a pandemia não acabou. Avança aterradora. Pena que não acometa de uma vez esses cidadãos do bem que tanto mal fazem à humanidade. Mereciam.
PS: A frase de Aristóteles: “A diferença entre um homem sábio e um homem ignorante é a mesma entre um homem vivo e um cadáver.” (384-322, AC).
Mirian Guaraciaba é jornalista