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O mapa da destruição

Os locais onde ocorre o desmatamento são os mesmos há anos e mesmo décadas

Por Ricardo Noblat
Atualizado em 18 nov 2020, 20h01 - Publicado em 24 ago 2020, 12h00

Editorial de O Estado de S. Paulo (24/8/2020)

A devastação da Floresta Amazônica, dada a sua extensão, impacto e carga simbólica, clama aos céus e com justiça atrai os olhares do mundo inteiro. Mas, além dela, os outros cinco biomas nacionais – Cerrado, Mata Atlântica, Caatinga, Pantanal e Pampa – também estão sob pressão.

Na Mata Atlântica, segundo o Atlas da Fundação SOS Mata Atlântica, entre 2018 e 2019 o desmatamento cresceu 27% após dois anos consecutivos de queda. No Cerrado, em 2019, o tamanho médio dos desmatamentos em relação à área total do bioma foi maior do que na Amazônia.

No Pantanal, os focos de queimada neste ano aumentaram 131% em relação ao mesmo período do ano passado. Apenas nos 15 primeiros dias de agosto, os focos já somaram quase o dobro em relação a agosto do ano passado. Já é o maior índice desde agosto de 2005, quando se atingiu o pico histórico de queimadas no Pantanal em um único mês. Nesse ritmo, agosto de 2020 quebrará este triste recorde.

O cenário este ano é particularmente preocupante, porque às condições climáticas desfavoráveis soma-se uma crise sanitária. Nos primeiros meses de 2020, a temperatura no Oceano Atlântico apresentou um aumento acima de toda a média histórica, o que tende a provocar secas no sudoeste da Amazônia e regiões adjacentes. O aumento de partículas carbonizadas na atmosfera, por sua vez, degrada a qualidade do ar induzindo a uma maior incidência de doenças respiratórias numa região onde o sistema de saúde já é cronicamente vulnerável. Acrescente-se a isso o fato de que, historicamente, nos anos de eleições municipais tem aumentado o número de municípios desmatadores.

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O mais amargo nesse quadro, e particularmente vexatório para o poder público, é que, afora o aumento da intensidade, não há nenhum ineditismo em relação à localização dos focos. Ou seja, os responsáveis são os suspeitos de sempre, apenas atuando com mais impunidade.

Na Mata Atlântica, dos 3.429 municípios do bioma, apenas 400 (11%) são responsáveis pelo desmatamento e menos de 3% (100 municípios, localizados sobretudo em Minas Gerais, Bahia, Paraná e Piauí) são responsáveis por 71% de todo o desmatamento. “É de conhecimento das autoridades onde ocorre o desmatamento da Mata Atlântica ano a ano”, disse Marcia Hirota, diretora da SOS Mata Atlântica. “Zerar o desmatamento no bioma passa por priorização do poder público e estratégias nestes locais.”

Segundo o projeto Mapbiomas, em 2019 os Estados que apresentaram mais eventos de desmatamento no País foram Pará (18,5 mil), Acre (9,3 mil), Amazonas (7 mil), Rondônia (5,3 mil) e Mato Grosso (4,7 mil). Em termos de área desmatada, os maiores foram Pará (299 mil hectares), Mato Grosso (202 mil ha) e Amazonas (126 mil ha). Juntos, estes três Estados respondem por mais da metade das áreas desmatadas no País.

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A devastação na Amazônia tem impacto global. Mas a necessidade de uma repressão massiva e abrangente ao desmatamento ilegal na região não deveria distrair a atenção das autoridades em relação a outros biomas igualmente – e em certos aspectos até mais – importantes para o bem-estar da população brasileira.

Da Mata Atlântica, por exemplo, restam apenas 12,4% da cobertura original, perfazendo 15% do território nacional. No total de áreas desmatadas no Brasil em 2019, segundo o Mapbiomas, a porção da Mata Atlântica (0,9%) é pequena se comparada ao Cerrado (33,5%) e à Amazônia (63,2%). Mas a Mata, como lembra a SOS Mata Atlântica, é a casa de aproximadamente 70% da população e é o bioma mais próximo das grandes cidades brasileiras, oferecendo uma das poucas oportunidades de contato com a natureza para quase 3.500 municípios, além de garantir água, melhoria do clima, da saúde e do bem-estar das pessoas.

O fato tristemente notável é que lá, como nos outros biomas, há uma resiliência dos padrões de desmatamento: a intensidade varia, mas os locais são os mesmos há anos e mesmo décadas. Ou seja, não há desculpas para a inação do poder público. Sabe-se perfeitamente bem onde e quando se darão as agressões. Para reprimi-las, basta querer.

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