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O primeiro blog brasileiro com notícias e comentários diários sobre o que acontece na política. No ar desde 2004. Por Ricardo Noblat. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
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O líder moral (por Gaudêncio Torquato)

Um perfil aplaudido por todas as classes sociais

Por Gaudêncio Torquato
21 mar 2021, 12h00

Há pastores por todos os lados tentando juntar ovelhas dispersas pelo planeta. Tentativas inócuas, os animais não reconhecem a voz do pastor. A imagem cai bem no ciclo atual da Humanidade. Há políticos de todos os estilos, autoritários e demagogos, liberais e conservadores, populistas e articuladores.

A paisagem é árida quando se procura um perfil identificado com lealdade moral, qualidade central em um estadista, cuja índole agregadora e admirada facilita a busca de soluções para atender às populações. Enfrenta desafios, ciente de que a coragem e a resiliência são essenciais para se ganhar a guerra. Churchill, por exemplo, de tanto insistir, convenceu os EUA a entrarem na Segunda Guerra.

O líder moral resiste ao tempo, à tempestade e à bonança. Não se subordina a partidos caçadores de recompensas. Entende a política como “a habilidade de prever o que vai acontecer amanhã, na semana que vem, no mês que vem e no ano que vem, porém com a capacidade de explicar depois por que nada daquilo aconteceu”, como definia Churchill.

Quem seria capaz de promover hoje um “swadesh”, boicote às mercadorias importadas ou deixar de pagar tributos escorchantes à Inglaterra, como sugeriu Gandhi aos indianos, como estratégia para alavancar a economia de seu país? Ele foi um formidável ícone moral.

Outro exemplo é John Kennedy. Sua fala empolgava as multidões: “Não pergunte o que seu país pode fazer por você, mas o que você pode fazer por seu país”. O carisma se estampava na face sorridente, no sonho de ver uma América feliz, apelo de outro líder moral dos EUA, Martin Luther King.

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E em nossos trópicos? Comecemos pela década de 50. O retrato é o de Juscelino Kubitschek, JK, cujo sorriso aberto conquistava a massa. Desenvolvimentista, consolidou a indústria automobilística e construiu Brasília: “Deste Planalto Central, desta solidão que em breve se transformará em cérebro das altas decisões nacionais, lanço os olhos mais uma vez sobre o amanhã do meu país e antevejo esta Alvorada com fé inquebrantável e uma confiança sem limites no seu grande destino.

Vemos, a seguir, Jânio Quadros, com seu olhar oblíquo e medidas esdrúxulas. Ficou apenas sete meses na Presidência, mas tinha carisma. Implantou uma política externa independente, ganhando apoio mundial durante a Guerra Fria. Era respeitado. Na campanha para prefeito de São Paulo, em 1985, fez contundentes pronunciamentos contra bandidos e corruptos. Um certeiro recado para o momento. Com seu estilo histriônico, ganhou de Fernando Henrique.

Pulemos para os tempos de redemocratização. Sarney não conseguiu vencer a inflação. Litúrgico. Collor cavalgava no cavalo do marketing. Itamar, sério, mas sem carisma. FHC, ainda com Itamar, criou o Real. Um schollar, porém sem carisma. De JQ até hoje, só apareceu Luiz Inácio com estoque de carisma e certa lealdade moral restrita aos petistas. Mas os escândalos que envolveram o PT corroeram sua dimensão ao dividir o Brasil em “nós e eles”.

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Em suma, falta-nos hoje um líder moral, um perfil aplaudido por todas as classes sociais. Quem souber onde ele se encontra, favor anunciar o nome.

 

Gaudêncio Torquato é jornalista, escritor, professor titular da USP e consultor político

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