
O ator e diretor de cinema Clint Eastwood, 90 anos, como grande entusiasta do jazz, sempre alimentou sua relação com a música ao longo de toda a carreira. O jazz está presente em seus filmes, na trilhas sonora, na vida dos personagens ou na temática escolhida. Ele é o produtor e diretor de Bird (1988), a biografia de Charles Parker, que é um dos melhores filmes de jazz de todos os tempos.
Clint Eastwood despontou para o estrelato como o personagem sem nome no spaghetti western Por um Punhado de Dólares (1964), dirigido pelo italiano Sergio Leone. Depois, ele assumiu o papel do detetive durão Harry Calahan, que estreou em Perseguidor Implacável (Dirty Harry – 1971), de Don Siegel. São mais de 70 filmes como ator; 40, como diretor; e 50 como produtor.
Mas antes de entrar para o cinema, Eastwood chegou a ganhar a vida como pianista de jazz na Califórnia. Nascido em San Francisco, filho de uma professora de canto, a música foi sua primeira paixão. Ele cresceu escutando os discos de jazz de sua mãe, especialmente os do pianista Fats Waller. Adolescente, Eastwood já participava de jam sessions, tocando o piano em um pequeno clube local.
Morador de San Francisco, Clint Eastwood assistiu, em primeira fila, o surgimento do cool jazz da Costa Oeste. No clube Blackhawk, ele viu nascer o famoso quinteto de Gerry Mulligan, com Chet Baker; e o quarteto de Dave Brubeck, com Paul Desmond. Charlie Parker era ainda um desconhecido quando ele o viu tocando em um concerto de Lester Young com Coleman Hawkins.
Já consagrado como ator, Clint Eastwood seguia acompanhando de perto a cena jazz dos Estados Unidos. Estava presente na primeira edição do Festival de Jazz de Monterey, em 1958, e o festival se tornou, para ele, um programa anual. Em pouco anos, Eastwood passou a fazer parte da própria diretoria do festival, participando das decisões de programação e financiamento.
Na primeira película que Clint Eastwood dirigiu, um filme de suspense, de 1971, o jazz está presente já no título: Play Misty For Me. Misty é a composição de Erroll Garner que a personagem feminina sempre pede que o D.J. de Eastwood toque para ela. O filme tem cenas de Erroll Garner e Cannonball Adderley tocando, exatamente, no Festival de jazz de Monterrey.
Além de ter produzido documentários sobre os músicos de jazz Thelonious Monk (Straight, No Chaser – 1988) e Dave Brubeck (In His Own Sweet Way – 2010), Clint Eastwood é o nome oculto em outro dos grandes filmes de jazz: ‘Round Midnight (1986), do diretor francês Bertrand Tavernier. Eastwood usou seu prestígio para ajudar Tavernier a conseguir os recursos que financiaram o projeto.
Além das películas citadas, o jornal inglês The Telegraph publicou uma lista de 30 dos melhores filmes de jazz, que pode ser acessada aqui. E no vídeo a seguir, temos a abertura de Bird, de Clint Eastwood, com Forest Whitaker no papel de Charlie Parker.
Flávio de Mattos é jornalista e escreve aqui sobre jazz a cada 15 dias. Dirigiu a Rádio Senado. Produz o programa Improviso – O Jazz do Brasil, que pode ser acessado no endereço: senado.leg.br/radio