Jair Bolsonaro é um homem mau. Narcisista (que se acha um mito a ser admirado), psicopata (sem empatia com os outros) e “maquiavelista” (faz o diabo em nome de seus interesses), ele se enquadra com precisão no que a psicologia chama de “tríade obscura” para caracterizar uma “pessoa ruim”. Deveria ser legalmente interditado.
A personificação do homem mau veio da percepção aguda da jornalista Dora Kramer em seu artigo desta semana na revista Veja. Sob o título “Mortos não votam”, ela desenhou a perversidade que habita “um presidente sem noção do que seja governar… referido no voraz desleixo em relação ao bem estar coletivo”.
Mas a maldade de Bolsonaro é ainda mais profunda. Nunca escondeu o gosto diabólico pelo mal, não raro dito em nome de Deus. Quando deputado, aplaudia torturadores. Dizia que o erro da ditadura foi torturar e não matar – “uns 30 mil, começando por Fernando Henrique Cardoso”.
Para ele não basta encastelar o governo ao seu mando absoluto, com generais da reserva e da ativa em permanente continência. É preciso estabelecer o império do mal, onde têm voz mais altiva os que demonstram maior capacidade de destruição. Nele, sobressai gente como Ernesto Araújo, que, cheio de orgulho de o Brasil ter se tornado um pária, acaba de assegurar ao mundo que o país não tem problemas com a Covid-19, o sistema de atendimento à Saúde vai bem e o ritmo de vacinação melhor ainda.
Jair Bolsonaro é um homem mau. Só o gosto pela maldade pode fazer um líder incentivar o descumprimento de regras simples de uso de máscaras e distanciamento quando a pandemia recrudesce e pessoas morrem como moscas. Tem de ter crueldade de sobra para pregar o uso de medicamentos sabidamente ineficazes ou desdenhar das vacinas. E excesso de ruindade para tratar como “mimimi” uma praga que na média das duas últimas semanas matou um brasileiro por minuto.
Um homem mau que se superou na crueza ao colocar Eduardo Pazuello na Saúde. Sabia que o indicado era impróprio para a tarefa, que, confessadamente, nem mesmo tinha noção do que era o SUS. Fixou ali o intendente da cloroquina, que desconhece a linha do Equador e confunde os estados do Amazonas e do Amapá na hora de enviar lotes de vacina.
Bolsonaro é mau. A maldade orienta as suas ações, seu desgoverno, sua cruzada de desconstrução. Em todas as áreas.
Na sexta-feira, uma publicação no Diário Oficial cortou o acesso a recursos da lei de incentivo para produções culturais em regiões com lockdown ou limitação de circulação das pessoas. Retaliação às medidas sanitárias urgentes definidas por estados e municípios. Mais do que governadores e prefeitos, puniu artistas e cidadãos – os que pagam os impostos que ele deveria gerenciar -, dificultando a produção de espetáculos, incluindo os online. Maldade pura, com requintes de crueldade.
Mesmo antes da pandemia, o país sabia e preferiu não ver que Bolsonaro era um homem mau. Agora, 260 mil mortos depois, os insultos cotidianos do presidente somados à absoluta inépcia de seu governo começam a transpor a indignação. Para além das notas de repúdio, governadores e prefeitos vão às compras de vacinas, políticos substituem o governo central na negociação com laboratórios, a sociedade civil reforça pedidos de impeachment.
Às dezenas de pedidos de impeachment já protocolados na Câmara dos Deputados, entre eles um de médicos renomados, junta-se o primeiro requerimento de interdição, feito pelo PDT ao Supremo Tribunal Federal, apontando a espiral de insanidade do presidente.
Há motivos de sobra. Pelo comportamento “cruel, degradante ou agressivo”, por “gostar de causar sofrimento aos outros”, a persona Bolsonaro se encaixa na “tétrade obscura”, na qual, segundo especialistas, o sadismo se soma ao trio já identificado nas “pessoas ruins”.
Não tem saída. É preciso interditar o homem mau.
Mary Zaidan é jornalista