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O filho da empregada doméstica rejeitado pelo pai, ministro de tribunal

Os dois, até hoje, nunca se encontraram

Por Ricardo Noblat Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 30 jul 2020, 18h56 - Publicado em 14 Maio 2020, 09h00

Até os 18 anos, Tiago Silva, agora com 37, atual diretor do Programa de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon) em Santa Catarina, não sabia quem era seu pai. Sua mãe, Regina da Silva, empregada doméstica, se recusava a dizer. Sua avó materna, que ajudou a criá-lo, foi quem finalmente revelou o segredo.

Quando engravidou, Regina trabalhava como lavadeira na casa da família Mussi, em Florianópolis. Demitida, teve o filho e assistiu em silêncio à ascensão profissional do homem que jamais admitiu que fosse o pai de Tiago. Advogado, depois desembargador, o homem chegou a presidente do Tribunal de Justiça do Estado.

Dali, saltou em 2007 para o cargo de ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Hoje, Jorge Mussi, aos 68 anos de idade, é o vice-presidente do tribunal. Tiago enfrentou durante sete anos uma batalha na justiça para que Mussi o reconhecesse como filho. Ao cabo, venceu, embora o pai tenha se negado a fazer exame de DNA.

Embora tenha direito a usar o sobrenome Mussi, Tiago prefere o Silva, da sua mãe. Tiago Silva se elegeu três vezes vereador em Florianópolis. Em uma delas, foi o mais votado. Nunca tornou pública sua história. Só o fez agora depois da morte da mãe.

Abaixo, segue seu relato postado no Facebook.

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NÃO RECEBI O CONVITE

É com essa frase que tenho respondido as pessoas que me parabenizam pela nomeação do meu pai a vice-presidência do Superior Tribunal de Justiça. Não recebi o convite para a posse. Fiquei sabendo da sua nomeação como todos os outros, pela imprensa. Nem todos sabem, mas sou filho do Ministro do STJ e ex-desembargador, Jorge Mussi. Nunca falei publicamente sobre isso. Mas recentemente, após uma longa batalha na justiça, tive o direito a paternidade reconhecida.

Fruto de uma relação do filho da patroa com a empregada, não tive o nome do pai no meu registro. Não tive sua presença, seu carinho, seu apoio, da infância a vida adulta. Isso nunca me impediu de trilhar o meu caminho e conquistar minhas vitórias. Lutei duras batalhas. Contra a desigualdade, o preconceito, a falta de oportunidades. A pobreza.

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O meu pai trilhou o seu também, formado em direito pela Universidade Federal de Santa Catarina e de família influente ingressou na magistratura como desembargador. Em dezembro de 2007, foi nomeado ao cargo de ministro do STJ e foi membro do Tribunal Superior Eleitoral. Assim como agora, não fui convidado para nenhuma de suas posses.

Ele se envergonha de ter um filho com a empregada doméstica. O que me leva a concluir que tal caminho de êxito e sucesso, como homem que aplica a lei, não o sensibilizou do meu direito como filho de ter um pai. Mas a justiça só é justa quando feita com coração.

Em respeito a minha mãe, não tornei pública essa luta. Não usei da visibilidade das minhas conquistas pessoais como diretor do Procon municipal ou como vereador mais votado de Florianópolis em 2008, para tornar pública essa injustiça. Mas esse ano, a vida levou a minha mãe. Uma mulher guerreira que com ajuda da minha avó decidiu não brigar com o homem que era o pai do seu filho para ajudar a me criar. Desde muito jovem, ela também precisou enfrentar inúmeras dificuldades. Entre elas a de criar um filho sozinha.

Mas eu, por decisão própria enfrentei, sozinho, uma intensa e turbulenta batalha na justiça. O meu pai, ministro Jorge Mussi, utilizou de toda a sua influência e aproveitou-se da morosidade dos processos judiciais do país para dificultar o reconhecimento de paternidade. A ponto de arrolar como testemunha a ser ouvida uma pessoa que morava nos Estados Unidos. O que não impediu que a justiça fosse feita. Venci. Me tornei, nos documentos, Tiago Silva Mussi. Porém, muitas pessoas que acompanharam essa luta me questionam porque não assino usando o Mussi. Me sinto mais confortável sendo um Silva. Somos um país construído por Silvas. Muitos, inclusive, sem pai, mas a maioria honesta e ética.

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