Texto do dia 28/07/2005
O ministro Nelson Jobim, presidente do Supremo Tribunal Federal, está indo muito além dos seus chinelos quando se reúne com deputados e senadores de vários partidos e diz o que pensa ou o que deixa de pensar sobre a crise política em curso.
O jornal O Globo publicou hoje que Jobim tem dito que o país ficará ingovernável pelos próximos 10 anos se a oposição tentar abreviar o mandato de Lula. Se isso ocorresse,”provocaria uma radicalização política na sociedade devido à popularidade e ao carisma do presidente”.
Preocupado, Jobim propôs a parlamentares da oposição”que se sentem à mesa com Lula e busquem um entendimento prévio para assegurar que o presidente eleito em 2006 tenha condições mínimas para administrar o país”.
Jobim pode ter razão no que diz – o que ele não poderia é estar dizendo. Nem isso nem qualquer outra coisa a respeito de como devem se comportar oposição e governo. Juiz só fala nos autos. É quando decide que ele toma partido. Antes disso, não. Exige-se dele que silencie e que se porte como magistrado.
Tanto mais quando o juiz em questão é nada menos do que o presidente da corte suprema de justiça do país. Cabe a ele, por exemplo, presidir uma eventual sessão do Congresso onde esteja em jogo a sorte do mandato presidencial. Como Jobim o faria se desde já desaconselha tal desfecho para a crise?
De resto, com base no quê ele diz que o país ficaria ingovernável por 10 anos se o Congresso encontrasse razões para cassar o mandato de Lula? Poderia ficar ingovernável por 20 ou 30 anos. Ou por cinco. Ou por um dia. Ou por nenhum. Collor caiu, Itamar assumiu o lugar dele e a vida continuou.
O que leva Jobim a ter certeza de que dessa vez seria diferente?
O discurso de Jobim é mais de candidato à sucessão de Lula do que de presidente do Supremo Tribunal Federal. É com a candidatura que ele sonha. O deputado José Dirceu (PT-SP) vê nele uma excelente opção caso Lula desista da reeleição. E Jobim tem todos os atributos para ser visto assim.
O que ele não merece é ser visto como um juiz que por ambição política se despiu da toga antes do tempo.