
Domingo, 12/01, morreu Roger Scruton. Um conservador inglês de mente brilhante e enciclopédica. Sua extensa obra, mais de 40 livros, de filosofia (ética e estética), ficção, ciência política, ecologia, música, (compôs duas óperas), o coloca entre os maiores pensadores contemporâneos.
Ao lado do americano Russel Kirk (1918-1994), Scruton (1944-2020) compõe o núcleo do pensamento conservador cuja paternidade está certificada na obra seminal do irlandês Edmund Burke (1729-1797), Reflexões Sobre a Revolução em França, publicada em 29 de setembro de 1790.
Lamentavelmente, a superficialidade e o radicalismo do debate político no Brasil está povoado de dogmas ideológicos, rótulos, clichês e a miséria do obscurantismo.
Neste sentido, as ideias dão lugar aos conflitos e afrontas. Para enfrentar o clima beligerante, João Pereira Coutinho, em As ideias conservadoras explicadas a revolucionários e a reacionários, injeta uma forte dose de serenidade ao afirmar: “Todos somos conservadores […] O conservadorismo não existe. Existem conservadorismos no plural, porque plurais foram as diferentes expressões da ideologia no tempo e no espaço”.
Para o autor, toda a dinâmica da vida humana e do sistema social obedece aos ciclos de conservar/mudar, tradição/inovação, reformar/romper que, por sua vez, se transformam na força dialética que anima o debate e a ação política. No entanto, existem princípios comuns aos conservadorismos que dão sustentação dialógica ao sistema de pensamento conservador.
Na Política da Prudência, Russel Kirk enumera 10 princípios básicos que têm como fonte o costume, a convenção e a continuidade. Não nascem de uma cartilha. Daí, o apego dos conservadores à tradição/estabilidade, o sentido da realidade/pluralismo e a imperfectibilidade humana/reformas incrementais que são, ao mesmo tempo, a força e a vulnerabilidade da visão conservadora.
Por sua vez, merecem referências algumas reflexões de Roger Scruton extraídas do livro Como Ser um Conservador: a tolerância implica “aceitar o direito dos outros de pensar e agir do modo como desaprovamos”; “O Estado só pode redistribuir a riqueza que foi criada por aqueles que esperam deter uma parcela”; “A cultura deve permitir uma grande variedade de modos de vida”; a maioria dos problemas ambientais “surgiu do nosso hábito, bastante razoável, de desfrutar os benefícios das atividades e transferir os custos. A solução é fazer os custos regressarem a quem os criou”; “A família é a base e a fonte dos vínculos afetivos fundamentais e essencial para uma educação moral”.
Pela amostra, no Brasil, o conservadorismo são ideias fora do lugar.