“Não logrará”: aviso de Mourão ( e decisão de Fachin) (por Vitor Hugo)
O pescoço do ex-juiz Sérgio Moro

Diga-se, a bem de Sua Excelência, o Fato ( no dito famoso do estadista francês Charles de Gaulle, que Ulysses Guimarães, “Senhor Constituição” de 1988, tanto repetia em seus discursos, entrevistas e escritos): Foi o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, com um firme e objetivo “não logrará”, o primeiro a reagir à pretensão do presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, da aprovação de lei, em cima da perna, que estabeleça “quarentena” de 8 anos, para que juízes e procuradores de justiça possam concorrer a mandatos políticos. Atitude – já se vê e já se disse – de lastimável casuísmo. Com sinais de ter sido bolada, sob medida, para acorrentar o pescoço do ex-juiz Sérgio Moro, que arranca em seus primeiros movimentos na direção de concorrer às eleições presidenciais de 2022.
O que, temem, poderá abalar o projeto que aparenta ser prioritário para os atuais donos do poder e dos que o cercam, mesmo a mais de dois anos antes das próximas presidenciais: manter o presidente Jair Bolsonaro por mais quatro anos no Palácio do Planalto, apoiado no “novo normal” da aliança com o Centrão, que avança e se aprofunda agora no Nordeste, em tempo de pandemia, ainda mais dependente do Bolsa Família e de outros históricos pequenos “favores” do governo, que dão votos e apoio político. Das barrancas do Rio São Francisco, da minha infância, a outros redutos da região, onde a covid-19 isola e dificulta mais a vida das pessoas, abrindo portas aos avanços das entradas e bandeiras destes novos e temerários dias, em pleno século XXI.
Semelhante – fora a praga do Covid –19, e felizmente sem o mal da seca neste 2020, de muita chuva no sertão – à buchada de bode servida, em Canudos (BA), ao ilustre acadêmico, candidato em campanha, Fernando Henrique Cardoso, que mereceu honrosa e inesperada comparação com um dos pratos da refinada cozinha francesa, servida nos restaurantes de Paris, servida nos melhores restaurantes de Paris.
Semana passada, de passagem por Campo Alegre de Lourdes, na Bahia, e noutras empobrecidas áreas de São Raimundo Nonato, no Piauí, aquele velho e irônico viajante francês, vendo o capitão mandatário montado a cavalo com chapéu de vaqueiro na cabeça, sem máscara, trocando abraços e apertos de mãos com a gente pobre do lugar, seguramente comentou com os seus botões: “Amaldiçoado seja aquele que pensar mal destas coisas” !!! .
É igualmente justo reconhecer: foi o ministro do STF, Edson Fachim, quem estabeleceu a primeira medida de contenção na ofensiva do procurador Geral da República, Augusto Aras (com sinais explícitos de referendo do ministro Toffoli) de acorrentar também as pernas do ex-ministro da Justiça. E nas dos procuradores de justiça, principalmente da força tarefa (em Curitiba) da maior e mais eficiente operação de combate a corruptos e corruptores no País. Dia 3 de agosto, o ministro relator da Lava Jato no STF, em decisão monocrática – de inegável coragem e presteza – revogou a liminar concedida pelo presidente do Supremo – a pedido de Aras –, determinando que a Lava Jato compartilhasse com o PGR todos os dados recolhidos no Paraná.
Jogo empatado. Aguarda-se o próximo lance desta partida alucinante, disputada entre surpresas, avanços e recuos estratégicos no movimentado jogo de xadrez no tabuleiro da política, da justiça e do poder no País, em tempo de pandemia. Quem o fará? De onde virá? Como será? Façam apostas!
Vitor Hugo Soares é jornalista, editor do site blog Bahia em Pauta. E-mail: vitors.h@uol.com.br