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Muda Senado

Pretextos para o toma lá dá cá

Por Gustavo Krause
Atualizado em 30 jul 2020, 19h23 - Publicado em 13 out 2019, 11h00

A atualidade do maior orador romano, filósofo e Consul Marco Tulio Cicero obrigou gerações de bachareis em Direito ao estudo de “As Catilinárias” em latim clássico. O grande pensador permanece vivo quando ensina em “Saber Envelhecer: “Os que não obtêm dentro de si os recursos necessários para viver na felicidade acharão execráveis todas as idades da vida”.

De fato, um olhar superficial identifica na velhice uma era de déficits inelutáveis: enfraquece o corpo; afasta da vida ativa; priva dos melhores prazeres e aproxima da morte.

Seria, então, uma tragédia existencial, não fosse a vida regida, silenciosa e sutilmente, por uma lei que confere harmonia e graça a todos os tempos da existência. Trata-se da lei das compensações.

Enquanto que a velhice não tem pressa porque não tem mais tempo, a juventude consome sofregamente cada instante. A razão é simples: a velhice viveu muito tempo. A juventude quer viver muito tempo. Uma tem, como paisagem, as lembranças; a outra, como o cenário, os sonhos.

A velhice é econômica: não esbanja nada. É recatada; cobre-se de roupas, resguardando o corpo sem viço e sem força. A juventude é perdulária; esbanja músculos e emite os acordes estridentes de uma guitarra. Já a velhice soa profunda como um oboé; suave e harmoniosa como um cravo.

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A velhice é lenta; a juventude é ágil; a velhice, serena; a juventude, inquieta. A velhice é apurada por conta das competências acumuladas e, por isto, é sábia, ou seja, apurou o saber e o sabor das coisas. E neste ponto, deslocam-se os prazeres voluptuosos dos sentidos para a sensação plácida das virtudes do espírito.

Em contrapartida, a juventude é forte. Tem mais músculos para remar do que clarividência para guiar.

Mais do que diferentes, a velhice e a juventude são conceitos e realidades antitéticas. E assim deve ser: cada tempo com seus atributos e deficiências. No entanto, nada é tão encantador quanto descobrir o verdor num velho e sinais de amadurecimento num adolescente.

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Pois bem, é esta simbiose que se busca realizar nas instituições sociais, como um fator de renovação permanente, equilibrada e de interação entre a tradição e a modernidade.

Nas sociedades primitivas, eram extraídas dos velhos, a sabedoria, a clarividência, o discernimento, o amadurecimento e a serenidade, como virtudes necessárias aos conselhos de anciãos na tarefa de ponderar ímpetos e apascentar a exaltação humana.

E o que vem a ser (ou o que deveria ser) o conselho de anciãos no sistema bicameral das organizações democráticas contemporâneas? Os Senados que guardam na raiz etimológica sua razão de ser ( senex, idoso). Dos seus integrantes, espera-se exemplo de moderação e temperança; capacidade do diálogo e vocação conciliadora; a autoridade da reflexão, exercida no pausado ritmo da paciência; enfim, uma natural compreensão para a complexidade do fenômeno humano na sua dimensão individual e coletiva.

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Está nas mãos do Senado a estratégica Reforma da Previdência. Tudo parecia caminhar para um desfecho consensual, rápido e que atendesse às urgências econômicas do nosso país.

De repente, o “MUDA SENADO”, proposta vinda das suas própria entranhas, transforma-se no “eco”, repetindo condenáveis pretextos do toma lá dá cá (desidratação de 75 bilhões), até se esvair, levando consigo a esperança do povo brasileiro. O que está em jogo, Excelências, não é uma agenda de governo: é o destino de uma nação.

Os tempos e os costumes são outros e o Senado tem conhecimento destes fatos, diria o sábio Cícero.

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