Fim de 2019: entrevista de Janaína, “pelada” do MST, tombo do Presidente
Cheiro de enxofre no ar

Então, quando menos se espera passou o Natal, (com o “bom velhinho” dos presentes tomando, cada vez mais, o lugar do dono original da festa da cristandade e sua simbologia da partilha e fraternidade, entoada na canção de Paul McCartney, que Simone consagrou por estas bandas do Atlântico Sul). E chega o fim de 2019 do jeito que o diabo gosta, sinalizador por três fatos marcantes, destes últimos dias, antes de 2020 chegar. A começar pela desassombrada e relevante entrevista (política, jornalística e intelectualmente falando), ao jornal O Globo, de Janaína Paschoal (PSL-SP), a deputada mais votada da história do País. Principalmente na parte em que ela assinala a aparentemente congênita atração pelo confronto, do atual ocupante do Palácio do Planalto, e revela o seu temor de que ele “perca a mão” à medida que os conflitos tornam-se mais frequentes e cobrem faca nos dentes.
A deputada estadual jurista paulista – caso raro de parlamentar cuja voz e atuação têm ressonância nacional – fala de passado, presente, mas sempre em perspectiva de futuro, olhando além do próprio umbigo e interesses próprios ou de guetos ideológicos, caso raro entre nossos políticos e governantes. A entrevistada conta que, já na campanha, havia identificado essa tentação briguenta do então candidato Jair Bolsonaro. Eleito e já findando o seu primeiro ano de mandato, ela afirma que o mandatário da vez “é um líder do conflito”, e revela: “o meu temor é que ele venha eventualmente a perder a mão desse grau de conflito. E se os conflitos se acirrarem num ponto que ele não consiga mais governar?”. Sugestivo e tempestivo tema de reflexão para os dias que se aproximam.
Na ponta oposta da corda, mesmo disfarçada de inocente e lúdica “pelada” de futebol de velhos companheiros, não é difícil, mesmo de longe, sentir o cheiro de enxofre no ar, no segundo motivo de tensão e alerta referido na abertura deste artigo; O jogo de domingo passado, entre os times Amigos de Lula e de Chico Buarque x Amigos do MST, disputado no campo Dr. Sócrates Brasileiro, inaugurado nas dependências da Escola Nacional Florestan Fernandes, em 2017. Nas arquibancadas, cartazes de militantes e devotos do líder petista: “Toca pro Lula que ele está livre” e “Hoje tem gol do Lula, se o juiz (o jornalista Juca Kfoury) deixar”, brincavam sobre sua libertação e cutucavam o ex – juiz Sérgio Moro. O próprio homenageado ironizou a situação, antes da bola rolar.: “Eu preciso ficar livre, inclusive do goleiro, para marcar gol”, conta o repórter Breiller Pires, no completo, crítico e bem humorado relato da “peleja”, publicado no El País. Vale leitura completa, inclusive, sobre notórias e surpreendentes participações (moças da turma do PSOL, por exemplo) e as sentidas e lamentadas ausências no evento esportivo pan-ideológico..
E chegamos ao susto pregado pelo presidente Bolsonaro, na noite de segunda-feira, ao cair no banheiro do Palácio da Alvorada. O tombo e os efeitos de seu impacto levaram à condução urgente do mandatário ao Hospital das Forças Armadas, do DF, para exames específicos e o necessário período de observação médica, que durou 12 horas neste caso de tensão. Na manhã do dia seguinte recebeu alta hospitalar, com diagnóstico de que o acidente familiar não deixou sequelas e que “está tudo bem”, porém com a recomendação de completo repouso pelos próximos dias. Cumpra-se. E Feliz Ano Novo para todos!
Vitor Hugo Soares é jornalista, editor do site blog Bahia em Pauta. E-mail: vitors.h@uol.com.br