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Fazer a economia circular (por Emiliano Lobo de Godoi)

80% dos produtos fabricados se transformam em lixo em até seis meses após sua compra

Por Emiliano Lobo de Godoi
28 dez 2020, 11h00

Em termos históricos, nossa economia se baseia na premissa de que a natureza é uma fonte inesgotável de recursos, explorável sem qualquer tipo de planejamento. Porém, a crescente escassez de matéria-prima nos processos produtivos tem evidenciado que essa premissa não corresponde à realidade.

A economia tradicional é fundamentada em um modelo linear de negócios que consiste em um processo de mão única de extração, produção, utilização e descarte das mercadorias.  Este modelo é conhecido como “do berço ao túmulo”, ou seja, um produto “nasce”, é utilizado e, depois, descartado. Não são concebidos para reaproveitamento e, em muitos casos, são propositalmente planejados para se tornarem obsoletos ou não funcionais, forçando o consumidor a comprar uma nova geração do produto.

Por maior que seja o esforço em tentar se descartar algo de maneira correta, existe uma grande fragilidade neste propósito. Quando se descarta algo se despreza também todas as tecnologias, matérias-primas e insumos que foram utilizados para sua produção. Ou seja, se descarta a água, a energia, a mão de obra, conhecimento e tudo mais empregado na sua produção. Uma prática assim, pode ser correta?

Pesquisas indicam que 80% dos produtos fabricados se transformam em lixo em até seis meses após sua compra. Segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), no ano de 2019 o Brasil gerou 79,6 milhões de toneladas de lixo, um aumento de quase 1% em relação ao ano anterior.

Deste total, apenas 3% foram reciclados e 29,5 milhões de toneladas de resíduos acabaram em lixões ou locais similares, ou seja, 40,5% do total foram destinados a locais desprovidos de qualquer tipo de controle. Neste cenário, o caminho de mão única da economia linear apresenta um risco cada vez mais iminente.

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Como alternativa, surge o caminho representado pela economia circular. Este conceito está associado à fase inicial de planejamento de novos produtos para que, ao final de seu ciclo de vida, se transformem em outras mercadorias. Assim, através de um novo conceito, o resíduo deixa de existir, passando a ser matéria-prima de novos produtos.

Com isso, as empresas se tornam, simultaneamente, consumidoras e fornecedoras de materiais que serão reincorporados, reduzindo o consumo de recursos naturais, gerando menor degradação ambiental e maior eficiência econômica.

Repensar a forma de implementação da economia é um caminho necessário e urgente para um mundo mais sustentável e racional. Ao contrário do que possa parecer, fazer a economia circular não é gastar mais e, sim, aproveitar melhor o que já está disponível para produzir sem a necessidade de se extrair novos recursos naturais.

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Não é deixar de produzir e, sim, produzir melhor, com menos desperdício, com mais eficácia e menor impacto ambiental.

Fazer a economia circular, portanto, é se inspirar na natureza. Já no longínquo século XVI, Nicolau Copérnico, famoso astrônomo e matemático, afirmou que “a sabedoria da natureza é tal que não produz nada de supérfluo ou inútil”.

É, pois, pensar que algo só se torna lixo quando não temos a capacidade de dar novo uso a esse produto. É pensar que não existe o termo “jogar fora, porque todo descarte é feito dentro de nosso espaço comum, que é o planeta Terra.

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É, por fim, pensar que o caminho do “berço ao túmulo” deve ser redesenhado para um novo horizonte que é “do berço ao berço”. É entender que o planeta terra é maior e mais forte que a espécie humana e pode sobreviver muito bem sem a nossa presença.

 

Emiliano Lobo de Godoi escreve no Capital Político. É Diretor Geral de Extensão e coordenador do Programa Sustentável da Universidade Federal de Goiás. Graduado em engenharia agronômica pela Universidade Federal de Viçosa (1988), com mestrado e doutorado pela Universidade Federal de Goiás, estágio de pós-doutoramento em Licenciamento Ambiental pelo Instituto Superior Técnico de Lisboa. É professor visitante da Universidade de Playa Ancha, Valparaíso, Chile, Universidade de Lisboa e Universidade de Sevilha.

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