As manifestações de condolências dos adversários políticos de Bolsonaro, em face do atentado, embutem uma mensagem subliminar (ou nem tanto), segundo a qual ele teria sido vítima de um ambiente por ele mesmo criado – o ambiente de ódio.
Ou seja, o culpado é ele mesmo. “Semeou o ódio e colheu o ódio, nas palavras solidárias da pacifista Dilma Roussef.
Tal ambiente, no entanto, o precede em décadas. Começa com o advento do PT e de seu ideário de luta de classes, a partir de 1980, e chega ao paroxismo com a tomada do poder federal pelo partido, a partir de 2003. Tudo isso está muito bem documentado.
Não é preciso farejar arquivos, em busca de documentos secretos. Está tudo no Youtube e no Google.
São incontáveis (e não cabem neste espaço) os episódios que atestam esse pioneirismo. Remontam a um tempo em que Bolsonaro era um ilustre desconhecido – ou conhecido apenas nos círculos do baixo clero do Congresso.
O seu protagonismo político começa exatamente quando foca sua atuação parlamentar no enfrentamento à bancada mais radical da esquerda. Pode-se, portanto, classificá-lo como personagem meramente reativo dentro de um quadro que já estava instalado.
Comparadas à de seus adversários da esquerda (que punham em prática o que diziam), suas declarações mais ferozes soam como as de um escoteiro-mirim. Coube ao PT dividir a sociedade em “nós” e “eles”, sendo que o “eles” abrangia todos os que não eram da esquerda – e, por isso mesmo, eram vilões, a ser esmagados.
Data de 2000 a famosa incitação de José Dirceu, numa greve de professores em São Paulo, a que os militantes batessem nos opositores. “Eles têm de apanhar nas ruas e nas urnas”, conclamou.
Nas urnas, não apanharam, mas nas ruas, sim. Dias depois, a militância agrediu o governador Mário Covas, já padecendo de um câncer que o mataria. Dirceu disse que usara “força de expressão”.
Num seminário do PT, em maio de 2017, o senador peemedebista Roberto Requião, um aliado convicto, disse, para os aplausos da galera, que “não há mais espaço para conversas e bons modos”. Foi complementado pela deputada Benedita da Silva, que berrou: “Sem derramamento de sangue, não há redenção”.
O professor Mauro Iasi, da UFRJ, candidato em 2006 a vice-governador de São Paulo pelo Psol, na chapa de Plínio de Arruda Sampaio, disse, em 2015, a uma plateia de alunos, como deveria ser o diálogo com a direita: “Um bom paredão, onde vamos colocá-los frente a uma boa espingarda, com uma boa bala, e vamos oferecer depois uma boa pá e uma boa cova”. Ódio? Não: força de expressão.
A senadora e presidente do PT Gleisi Hoffmann, quando do julgamento de Lula pelo TRF-4, em Porto Alegre, em janeiro deste ano, avisou: “Para prender o Lula, vai ter que matar gente”.
João Pedro Stédile, do MST, na mesma ocasião, avisou: “Vamos ocupar terras porque queremos Lula livre”. E “ocuparam”.
José Dirceu, solto, porém condenado em segunda instância, tem emitido sucessivos vídeos, conclamando a militância a retomar, se necessário pela força, o poder. Num deles, diz: “A hora é de ação, não de palavras; de transformar a fúria, a revolta, a indignação e mesmo o ódio em energia, para a luta e o combate”.
Lula, em fevereiro de 2015, numa famosa fala à militância, na sede da ABI, no Rio, fez uma ameaça: “Quero paz e democracia, mas também sabemos lutar, sobretudo quando o Stédile colocar o Exército dele na rua”. Stédile, obediente, tem atendido o chefe.
E há ainda o líder do MTST, Guilherme Boulos, candidato do Psol à Presidência, que invade prédios e residências e cobra aluguel dos invasores. Este não apenas prega a luta armada: pratica-a.
Ódio como fonte de energia, conforme as palavras de Dirceu, é a grande contribuição da esquerda à democracia brasileira.
Ruy Fabiano é jornalista