
Parece estranho falar sobre doenças do progresso. Mas elas existem. Ficam evidentes quando o progresso se confunde com o conceito aritmético de crescimento econômico a qualquer custo. Seu efeito devastador é a destruição da natureza: ar poluído, águas contaminadas, florestas devastadas e terras desérticas. Este o passivo ambiental do industrialismo desenfreado e a cobiça da acumulação.
Felizmente, apesar das reações obscuras, o desenvolvimento sustentável é o único caminho para salvar o planeta de uma catástrofe apocalíptica, queiram ou não queiram os governantes.
É bem verdade que o progresso material trouxe grandes benefícios para humanidade. Entre eles, um indesmentível avanço na longevidade: quando nasci a expectativa de vida no Brasil não chegava aos 50 anos (já estou devendo muito); atualmente a média homem/mulher chega a 77 anos com expressivo aumento de sobrevida de acordo com a tábua de mortalidade do IBGE. A pergunta: é vive-se melhor?
Depende. Os mais pobres sofrem em qualquer idade; os mais ricos sofrem menos e têm que enfrentar as enfermidades da velhice – o esqueleto dói todo; o Parkinson tá na esquina; o infeliz Alzheimer e outras demências dão o ar da graça a tal ponto que geram novas drogas, especialidades médicas, e postos de trabalho; o velho coração resiste bravamente; até mesmo o famigerado câncer tem tratamentos eficazes. Perigo mesmo é queda, caganeira e resfriado. E agora a pandemia do COVID-19.
Porém, a mais grave das doenças que afeta o organismo brasileiro é uma bactéria chamada o STREPTOCOCCUS BRASILIENSIS, colônia contagiosa, que afeta sentidos e sentimentos, em especial, a visão, a audição e o senso de responsabilidade de um grupo de riscos que são as autoridades. Exigem até “quarentena” para novos empregos.
Demoram tanto a ver, ouvir e sentir que, no Brasil, especialmente os mais pobres, continuam vítimas da velha tuberculose, malária, febre amarela, dengue e suas variações letais (a hemorrágica), a condenação perpétua dos efeitos da Zika, subnutrição/obesidade.
Enquanto isso, a ligeireza do Congresso na aprovação das pautas-bombas explode o orçamento de 2020 na razão inversa da lentidão de votar o marco regulatório do saneamento básico e a leniência de erradicar os lixões.
A constatação da doença não se aplica a governos recentes. Lula ironizou a devastadora crise do sub-prime nos EUA chamando-a de “marolinha”; Bolsonaro referiu-se desdenhosamente à pandemia como uma “pequena crise, mais fantasia e não é isso tudo que a mídia propaga”.
Nos idos 1975, o Recife foi devastado por uma cheia. O governo Geisel prometeu e cumpriu a promessa de proteger o Recife do flagelo. Na época, o Ministro do Interior, Rangel Reis, veio inspecionar o início das obras e, diante da crucial questão do abastecimento d´água, aconselhou candidamente que os recifenses bebessem água de coco”. Afinal, o nosso hino começa exaltando Pernambuco: “Salve a terra dos altos coqueiros”.
Gustavo Krause foi ministro da Fazenda
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