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Coronavírus e a crise com a China (por João Bosco Rabello)

Governo continua politizando com doença

Por João Bosco Rabello
Atualizado em 4 jun 2024, 14h24 - Publicado em 21 mar 2020, 11h00
Menos de 24 horas depois de o presidente Jair Bolsonaro comprometer-se com uma trégua política em nome da união contra o coronavírus, o deputado Eduardo Bolsonaro, seu filho, construiu uma crise diplomática com a China, acusando-a de negligenciar a pandemia.

O deputado Eduardo Bolsonaro fala pela casa real, ainda que na sua longa explicação, muitas horas depois da reclamação do embaixador chinês, tenha se amparado na liberdade de opinião parlamentar.

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Até que se encontre explicação mais plausível, vigora a leitura de que buscou desviar para a China as críticas ao presidente Bolsonaro pelo desdém com que se comportou desde que a pandemia alcançou o Brasil. Só anteontem o presidente mudou a prosa.

O tom da reclamação chinesa, por meio de seu embaixador em Brasília, é incomum no contexto diplomático. E preocupou imediatamente os parceiros comerciais brasileiros, entre os quais se insere o agronegócio, que sustenta o PIB nacional e tem na China sua maior parceira comercial.

A dupla identidade que ora o faz diplomata, ora parlamentar – fez com que Eduardo Bolsonaro utilizasse a verdadeira para rebater a reclamação chinesa e receber a aprovação do chanceler Ernesto Araújo. A China, porém, não aceitou o truque.

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Na noite de ontem, em nome do governo chinês, a embaixada em Brasília não reconheceu a manifestação do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e disse continuar esperando desculpas formais. Considera que Eduardo falou pelo governo.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, não perdeu tempo: muitas horas antes do governo brasileiro se manifestar, pediu desculpas ao governo chinês em nome do parlamento brasileiro. Maia respondeu porque Eduardo disse ter se manifestado como parlamentar.

Extrai-se do episódio que o governo continua politizando o coronavírus. Ao fazê-lo distancia-se daquilo que a população mais requer em momentos dramáticos como o da epidemia atual: quem demonstre cuidados com ela.

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Os cuidados formais já começaram, mas aqueles que distinguem os líderes, o da palavra que conforta, da mensagem que transmite esperança, da demonstração de importância exclusiva à saúde de todos, está em falta.

 

João Bosco Rabello é editor do Capital Político (capitalpolitico.com

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