
A Polícia Federal deflagrou mais uma ação para combater uma rede de distribuição de pornografia infantil na internet: a operação Cabrera. A ação contou com o trabalho de 370 agentes para cumprir 83 mandados de busca e apreensão, dois mandados de prisão preventiva e um de condução coercitiva em 18 estados e no Distrito Federal. Merece todo apoio. Mas é arar no mar.
A pornografia é um negócio poderoso, crescente e devastador. Causa dependência, desestrutura a afetividade, destestabiliza a família e passa uma pesada fatura no campo da saúde mental. Mas o mais grave, de longe, é a estratégia de “mesmitificação”do material pornográfico. Eliminou-se o carimbo de proibido. Superou-se o constrangimento da vergonha. Deu-se ao conteúdo pornográfico um toque de leveza, de algo sexy, divertido e moderno. Na prática, no entanto, a pornografia tem a garra da adicção e as consequências psicológicas, afetivas e sociais do vício mais cruel.
A situação é grave. E exige uma forte autocrítica. A culpa é de todos nós –governantes, formadores de opinião e pais de família-, que, num exercício de anticidadania, aceitamos que o Brasil seja definido mundo afora como o paraíso do sexo fácil, barato, descartável. É triste, para não dizer trágico, ver o nosso país ser citado como um oásis excitante para os turistas que querem satisfazer suas taras e fantasias sexuais com crianças e adolescentes. Reportagens denunciando redes de prostituição infantil, algumas promovidas com o conhecimento ou até mesmo com a participação de autoridades públicas, crescem à sombra da impunidade.
Mas a raiz do problema, independentemente da irritação que eu possa despertar em ambientes politicamente corretos, está na onda de baixaria e vulgaridade que tomou conta do ambiente nacional. Hoje, diariamente, na televisão, nos outdoors, nas mensagens publicitárias, o sexo foi guindado à condição de produto de primeira necessidade.
Atualmente, graças ao impacto da televisão e da internet, qualquer criança sabe mais sobre sexo, violência e aberrações do que qualquer adulto de um passado não tão remoto. E não é necessário ser psicólogo para que se possam prever as distorções afetivas, psíquicas e emocionais dessa perversa iniciação precoce.
Por isso a multiplicação de descobertas de redes de pedofilia não deve surpreender mais ninguém. Trata-se, na verdade, das consequências criminosas da escalada de erotização infantil promovida por alguns setores do negócio do entretenimento.
A internet salienta uma nova realidade: chegou para todos, sobretudo para a família e para os educadores, a hora da liberdade e da responsabilidade.
Jornalista. E-mail: difranco@ise.org.br