
Escaldado por suas derrotas anteriores, Ciro Gomes procura dar copy-paste no “Lulinha, paz e amor”. É como se o espírito do Lula-2002 tivesse baixado no presidenciável do PDT, tal a semelhança entre a estratégia cirista e a de Lula na sua primeira vitória para presidente. O pedetista está à procura do seu José de Alencar – quem sabe Benjamin Steinbruch – para sinalizar para o “mundo da produção e da oferta” a busca de alianças “amplas, magnânimas e sem purismo ideológico excludente”, segundo seu guru Roberto Mangabeira Unger.
O corte e cola não para aí. Ciro demoniza o PMDB, a quem várias vezes chamou de quadrilha, assim como Lula demonizou no início do primeiro mandato. Também persegue aliança com o PP do seu xará Ciro Nogueira, um dos partidos mais envolvidos na Lava-Jato. O PR de Waldemar da Costa Neto é outro que será muito bem vindo no caminhão da sua campanha. O mesmo PR que deu o vice de Lula.
Mas todos na carroceria, pois os partidos de centro-direita serão aliados de segunda categoria, uma vez que a boleia está reservada para o PSB e o PC do B, segundo lideranças pedetistas que adoram repetir a frase de Leonel Brizola: “na carroceria cabe todo mundo, mas na boleia só quem confia”. Nos anos do lulopetismo, quem estava na carroceria pulou rapidinho para a boleia do aparato estatal. E com Ciro, como será?
Utilitarismo à parte, Ciro vem se pautando por uma verdade cristalina: a esquerda sozinha não ganha eleição, assim como discurso radical de qualquer coloração é o caminho mais rápido para a derrota. Sua guinada à “direita” faz sentido. O pedetista ainda não tem a sua “Carta aos Brasileiros”, mas está perto.
Em recente entrevista, o responsável pelo programa econômico de sua campanha, Mauro Benevides Filho, adiantou ideias capazes de provocar infarto em segmentos da esquerda. Segundo ele, “sem o ajuste fiscal o Brasil irá a bancarrota” e, pasmem, “é preciso migrar o sistema da Previdência para o de capitalização de contas individuais, no qual a aposentadoria é resultado do que cada um poupa na vida”.
Só para lembrar: na ditadura chilena, o general Augusto Pinochet fez uma reforma previdenciária por meio da adoção do sistema de capitalização, o que não retira o mérito da proposta.
Ciro em 2002 dizia “o mercado que se lixe”, hoje seu coordenador econômico busca aproximação e acena para o mercado assegurando que contratos serão respeitados e juros não irão cair por decreto. E mais: discorda dos economistas petistas segundo os quais ‘os problemas fiscais se resolvem pelo crescimento”.
O “Ciro, paz e amor” não passou no teste da sabatina desta semana do jornal Folha de S.Paulo. Sem papas na língua, desdisse Benevides Filho nas questões da Previdência e do Teto dos Gastos, além de anunciar que entrará em rota de colisão com o Congresso para revogar a reforma trabalhista. Sua metralhadora giratória não poupou ninguém, nem o PSDB, a quem xingou de golpista e antipovo, mas quer os tucanos no seu palanque de segundo turno. Só foi generoso mesmo com Maduro, ao criticar o “ativismo antichavista” e relativizar a ideia de fraude na eleição venezuelana.
Com não tem perfil de aglutinador e é conflitivo, seu pavio curto, mais uma vez falou mais alto.
Não é à toa que Lula o apelidou de Tilápia, aquele peixe que para ser fisgado não precisa de isca. Basta o anzol.
Hubert Alquéres é professor e membro do Conselho Estadual de Educação (SP). Lecionou na Escola Politécnica da USP e no Colégio Bandeirantes e foi secretário-adjunto de Educação do Governo do Estado de São Paulo