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Chimpanzé e Maquiavel contra Ghandi (por Gaudêncio Torquato)

Jogo político

Por Gaudêncio Torquato
14 mar 2021, 11h00

O sociólogo chileno Carlos Matus, em seu ensaio Estratégias Políticas, define assim os estilos de fazer política. O primeiro é o chimpanzé, ancorado em projeto de poder pessoal, de rivalidade permanente. Cada protagonista luta para ser o mais forte e poderoso. Partido contra partido, com foco na micropolítica, longe dos interesses coletivos. O chimpanzé quer preservar sua manada.

O segundo é o estilo Maquiavel. O Príncipe se subordina a um projeto de Estado plasmado à sua luz e semelhança, em que os fins justificam os meios. Tudo vale. A terceira vertente é a de Gandhi, que eleva os valores humanos: solidariedade, irmandade, unidade, caridade, tudo pela felicidade coletiva.

Regra geral, os protagonistas ambicionam o poder político mesmo pertencendo ao mesmo bloco do sistema representativo. E, por aqui? Luiz Inácio e Jair Bolsonaro se inclinam pelo modelo Maquiavel, com o personalismo focado em um projeto de Estado, à esquerda e à direita.

No Congresso, o pragmatismo adota o modelo chimpanzé, “o poder pelo poder”. A arma é o voto, com o qual partidos preservam e ampliam territórios, ameaçando o governo com retiradas de apoio, buscando coalizões. O instinto chimpanzé transparece na conservação da própria espécie (“o fim sou eu mesmo”). O povo? Ah, deixa pra lá.

No estilo maquiavélico, o projeto é o Brasil. Com um adendo: urge construir a Pátria que o governante pensa ser a que o povo almeja. Todos os meios devem se adequar ao objetivo de Bolsonaro: livrar o Brasil das esquerdas, do PT, do comunismo, das forças que atrasam o país. Todos os meios devem se adequar ao objetivo de Lula: lapidar a Pátria com os matizes do socialismo.

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Ambos contam com bases e grupos treinados para cortejar, aliar militares, núcleos evangélicos, novos polos de poder criados na sociedade à direita e à esquerda. Mas com flexibilidade. A conduta maquiavélica faz concessões ao estilo chimpanzé para que os políticos abocanhem fatias de poder. Já as margens sociais vivem sob a esperança de catar migalhas. E as classes médias têm um olho voltado para o espectro ideológico: centro, esquerda e direita.

Como se vê, a democracia é um jogo de cooperação e oposição. Na cooperação, as regras são persuasão, negociação, busca de consenso. Já no jogo de oposição procura-se medir forças, confrontar o adversário, provocar tensões, impor vontade pela força. O jogo político acaba de encerrar o primeiro tempo com a decisão de Edson Facchin, da 2ª Turma do STF, de retirar processos contra Lula na Vara de Curitiba. Lembrete: o ministro não entrou no mérito. Lula ainda não está inocentado.

Voltemos ao plano geral. Com olhos em 2022, Bolsonaro terá a economia, sob Paulo Guedes, como tábua de salvação para atrair as margens sociais. Conseguirá resgatar o bem-estar social? O Bolsa Família e o Auxílio Emergencial serão a cereja do bolo? O povo poderá ter esperança? Mais: como estará o Brasil até lá, com milhões de brasileiros ainda chorando a morte de parentes? (hoje, são quase 3 mil mortos diários pelo Covid-19).

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A oração de Gandhi não será suficiente para salvar um país dividido entre Chimpanzé e Maquiavel.

Gaudêncio Torquato, jornalista, escritor, é professor titular da USP e consultor político

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