Bolsonaro vai abrir o playground
O que sobrará de Bolsonaro durante e depois desse processo também não se sabe bem.

Jair Bolsonaro está para o Congresso como aquelas crianças de antigamente – já que as de hoje só querem saber de games eletrônicos e vídeos no Youtube – quando ganhavam um brinquedo novo, tipo carrinho com controle remoto ou boneca que fala, e resolviam desmontá-lo para ver o que tinha dentro ou só por diversão. Daí a pouco, tinham pela frente um belo amontoado de pecinhas soltas que nunca mais conseguiam juntar, e mesmo quando conseguiam, estavam tão avariadas que o pneu ia parar no teto do carro, a boneca ficava com o pescoço torto… Nada funcionava mais.
A narrativa sobre o fim do toma-lá-dá-cá, a suposta negociação de ministérios e cargos com bancadas temáticas, a esnobada nos líderes e partidos tradicionais, as trapalhadas dos articuladores palacianos e, agora, o desmoralizante episódio da demissão de Gustavo Bebianno encolheram politicamente o presidente da República. Tanto, mas tanto, que ele agora é uma criança diante diante de um brinquedo espatifado – sua suposta base parlamentar.
Não aproveitou a hora da festa para brincar comportadinho com as outras crianças e saiu logo quebrando tudo. Ninguém entrou melhor no clima da derrota acachapante da última terça-feira no plenário da Câmara – que em boa hora derrubou o decreto que tentava limitar a Lei do Acesso – do que o vice Hamilton Mourão, que tinha assinado a peça: ”Perdeu, playboy!”. Até no seu PSL o Planalto teve votos contrários, incluindo o do presidente Luciano Bivar. Foi uma votação articulada pelos principais líderes, inclusive o presidente da Casa – aqueles que os neogovernistas gostam de chamar de representantes da velha política.
Evidentemente, tratou-se de um recado da turma excluída do playground nesses primeiros cinquenta dias de governo. Não foi um sinal de que a reforma da Previdência não será aprovada um dia desses, até porque essas forças que querem arrombar a porta do parquinho têm compromissos com ela. Mas foi um jeito de dizer que sem o DEM, o MDB, o PP, o PR, etc, o brinquedo não vai funcionar. O DEM de Maia e do presidente do Senado, Davi Alcolumbre, sobretudo, anda saudoso de um governo. Vai querer ganhar mais espaços além dos três ministros que tem, influir nas decisões e interferir nas regras do jogo da liberação de recursos e emendas.
Uma volta ao que esse pessoal moderno chama de velha política, justamente aquele discurso que Bolsonaro satanizou na campanha e nos primeiros dias de governo? Exatamente, sem tirar nem por. Cedo ainda para saber quem mais entrará no play Esplanada – de onde, é claro, alguns vão ter que sair em breve. Mas a Previdência, que não é brincadeira, só será aprovada desse jeito.
O que sobrará de Bolsonaro durante e depois desse processo também não se sabe bem. Por mais estabanada que seja a criança, porém, em algum momento, diante daquela pilha de pecinhas sem sentido, ela tem que perceber que, ou cede às exigências do chato do irmão mais velho para que ele o ajude a consertar o brinquedo ou fica sem o brinquedo…
Helena Chagas é jornalista
Essa é uma matéria exclusiva para assinantes. Se já é assinante, entre aqui. Assine para ter acesso a esse e outros conteúdos de jornalismo de qualidade.
Essa é uma matéria fechada para assinantes e não identificamos permissão de acesso na sua conta. Para tentar entrar com outro usuário, clique aqui ou adquira uma assinatura na oferta abaixo
Informação de qualidade e confiável, a apenas um clique. Assine VEJA.
Impressa + Digital
Plano completo da VEJA! Acesso ilimitado aos conteúdos exclusivos em todos formatos: revista impressa, site com notícias 24h e revista digital no app, para celular e tablet.
Colunistas que refletem o jornalismo sério e de qualidade do time VEJA.
Receba semanalmente VEJA impressa mais Acesso imediato às edições digitais no App.
Digital
Plano ilimitado para você que gosta de acompanhar diariamente os conteúdos exclusivos de VEJA no site, com notícias 24h e ter acesso a edição digital no app, para celular e tablet.
Colunistas que refletem o jornalismo sério e de qualidade do time VEJA.
Edições da Veja liberadas no App de maneira imediata.