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Atrás da chuva de Collor (17/9/1989)

Recordar é viver

Por Ricardo Noblat
Atualizado em 30 jul 2020, 20h20 - Publicado em 17 set 2018, 11h00

No primeiro dia de propaganda eleitoral gratuita na televisão, o Oscar de efeitos especiais pode ter sido ganho pelo candidato Collor de Mello.

Um assessor do candidato Mário Covas percebeu que havia alguma coisa estranha naquela chuva que molhava Collor na sacada de uma casa de Limoeiro de Anadia, município do interior de Alagoas. Fora justamente ali, há alguns anos, que Collor desafiara seus adversários a assassiná-lo.

Na época, ele governava Alagoas. Correu em Limoeiro que Collor seria morto se ousasse comparecer ali para criticar seus adversários políticos. Collor foi lá e os criticou. Chovia muito naquele dia.

Recentemente, o agora candidato à sucessão do presidente José Sarney retornou a Limoeiro para relembrar a cena do passado. Foi filmado debaixo de chuva, como no dia em que ofereceu o peito às balas assassinas.

Não houve balas – ou porque não haveria, de fato, ou porque os adversários do então governador de Alagoas se intimidaram com tamanha demonstração de coragem dele.

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Pode não ter havido chuva de verdade na visita que Collor fez a Limoeiro há poucas semanas. A desconfiança assaltou os espíritos de assessores de candidatos que disputam com ele a eleição de novembro. E não se dissipara até ontem à tarde.

“Chuvinha marota essa do Collor, você não acha?” – comentou um assessor de Covas em telefonema para um assessor do candidato Ulysses Guimarães.

Os comitês de Covas e de Ulysses começaram, então,a operar em ritmo frenético. O programa de Collor fora gravado para ser revisto nos dois comitês. Repetiu-se a gravação diversas vezes. O som foi ampliado para uma altura muito além do normal. Uma coisa foi descoberta.

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Exatamente aos 2 minutos e 21 segundos do programa de Collor, uma voz alerta o responsável pela gravação da cena: “Molha a câmera”.

Os adeptos de corridas de Fórmula 1 pela televisão estão acostumados a ver molhada em dias de chuva a câmera acoplada a um dos carros que participam da competição. Os pingos da chuva batem, diretamente, na lente. A imagem fica embaçada.

As demais câmera que registram a corrida recebem algum tipo de proteção. A que focalizou Collor debaixo de chuva poderia, também, estar protegida dela por qualquer coisa. Se não estava, os pingos da chuva, naturalmente, a atingiram. Se o responsável pela gravação do programa alertou alguém para que a molhasse, pode ter sido porque só chovia em cima de Collor – a poucos metros dele não chovia.

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Os especialistas em fenômenos naturais poderão afirmar se isso, de fato, é possível. Se for, e se tiver sido isso o que aconteceu, o candidato perdeu uma ótima oportunidade de se associar à ocorrência de um fenômeno. A associação renderia a ele mais votos. Os eleitores do Nordeste seco poderiam ser induzidos a imaginar que Collor detém a extraordinária capacidade de fazer chover no lugar onde se posiciona.

Então não seria o caso de elegê-lo presidente da República. Mais indicado seria encarregá-lo de desfilar pelas regiões do sertão semi-árido do Nordeste – de preferência acompanhado sempre por uma equipe de televisão e um atento diretor de programa. É impossível, contudo,que de fato chovesse em Limoeiro de Anadia no dia da gravação da cena exibida na televisão na sexta-feira.

Assessores do candidato Covas apuraram junto ao Instituto Nacional de Meteorologia, seção do Recife, que nos primeiros 16 dias deste mês choveu 18 milímetros em Maceió e nos arredores dela. Limoeiro fica a 60 quilômetros de Maceió. Uma chuva de 18 milímetros distribuída ao longo de 16 dias é considerada “uma chuva irrisória, inapreciável”, segundo técnicos do Instituto. Mas só no dia 12 choveu 9 do total dos 18 milímetros.

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Quem sabe não foi, justamente, no dia 12 que Collor esteve em Limoeiro para fazer a gravação? Quem sabe o diretor do programa não mandou molhar a lente que estava, até então protegida, para conferir mais realismo à cena? O diretor teria introduzido um pequeno, irrisório, falso elemento à cena, oferecida como real aos telespectadores ( o elemento falso teria sido a lente molhada, não o candidato).

O pessoal de Covas e de Ulysses pretendia ir até o fim nas investigações sobre a chuva de Collor. Em segredo, um dos dois comitês já dera ordem para que viajasse a Limoeiro uma equipe de televisão. Ela irá tentar desvendar se a chuva caiu, de fato, no dia da gravação do programa de Collor ou se foi provocada como em filmes de cinema ou de televisão. Em uma campanha eleitoral, costuma valer tudo.

A chuva de Collor não ficará como a polêmica mais acesa de uma campanha que mal começou a esquentar seus motores. Nos dois primeiros dias de horário gratuito de propaganda eleitoral, os candidatos foram cautelosos como pugilistas que se enfrentam nos assaltos iniciais de uma luta.

Haverá muita pancadaria daqui para frente. Os golpes serão aplicados com dureza. A chuva real ou falsa de Collor será lembrada como um episódio ameno.

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