A pedagogia da residência
Todos dizem que a educação é o passaporte para o futuro do país a caminho da revolução da inteligência artificial
Assumo o risco de afirmar: contra fatos, há argumentos. Fato inconteste: a educação brasileira, padece de “irrefletida negligência”. Vem de longe. A primeira escola de medicina, em Salvador, chegou com dois séculos e meio de atraso em relação às colônias hispanoamericanas e dois séculos em relação às colônias inglesas. Pasmem, o invento da tipografia deu as cara por aqui com 358 anos de atraso, abrigada pela estatal Imprensa Régia. Em 1800, 1% da população brasileira era alfabetizada contra 70% dos norte-americanos adultos (sexo masculino).
Outro fato relevante é que nunca nos faltaram grandes pedagogos, pensadores e educadores exemplares, planos, programas, projetos, bunkers burocráticos com incontrolável fúria regulatória. Também é factual a despesa constitucionalmente vinculada à educação, atingindo 6% do PIB, equivalente aos gastos dos países da OCDE.
Mais um fato: houve avanços na universalização do ensino fundamental, na criação de instrumentos de avaliação e na ampliação da responsabilidade social. No entanto, as incontestáveis deficiências do setor (evasão, analfabetismo funcional, grade curricular e, a mais perversa, que é a precária formação do professor), colocam o Brasil em posição crítica na avaliação do PISA e com enorme desvantagem comparado aos emergentes. Tal desempenho opera graves efeitos sobre a competitividade e a produtividade da economia nacional.
Mais um fato: todos dizem que a educação é o passaporte para o futuro do país a caminho da revolução da inteligência artificial.
Ou seja, contra todos os fatos, existe, tão somente, o argumento da educação de qualidade. O tema entrou na agenda nacional. E, por mais que se avance, o objetivo a ser alcançado é a sólida formação do professor, efetivo agente do processo de mudança.
Com efeito, o programa de Residência em Pedagogia pode ser, somado às iniciativas da atual gestão, um ponto de inflexão na educação brasileira, assim como foram os exemplos de Sobral, no Ceará, ao criar o Programa de Albetizacão na Idade Certa e do Ginásio Pernambucano ao implantar o Programa de Escola em Tempo Integral, adotados pelo MEC.
A qualidade da Residência em Pedagogia, inspirada na Residência Médica, criada em 1977, dependerá do conteúdo pedagógico que alia saber, fazer e ser; acrescido pelas lições de Edgar Morin em Os sete saberes necessários à educação do futuro que propõem a essência transdisciplinar do conhecimento, condicionada às relações do indivíduo-sociedade-natureza, estimulando a sede da curiosidade, a capacidade da observação e a sensibilidade da imaginação.
Gustavo Krause é ex-ministro da Fazenda do governo Itamar Franco