Namorados: Assine Digital Completo por 1,99
Imagem Blog

Noblat

Por Coluna Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
O primeiro blog brasileiro com notícias e comentários diários sobre o que acontece na política. No ar desde 2004. Por Ricardo Noblat. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.

A espada de Dâmocles

Moral

Por José Paulo Cavalcanti Filho
Atualizado em 30 jul 2020, 19h25 - Publicado em 27 set 2019, 12h00

Trata-se de antiga lenda. Uma história moral, se algo assim for possível. Aconteceu, primeiro, com Timeu de Tauromênio (356-260 a.C.). Mas acabou famosa, só depois, nas mãos do cônsul romano Cícero (106-43 a.C.), em sua Tusculanae Disputationes. Ao mostrar que todo poder é incerto e transitório. Mais tarde, o próprio Cícero provaria desse fel. Acabou proscrito. Executado. Com mãos e cabeça exibidos nas ruas de Roma. Só, que essa é outra conversa.

Aconteceu, no caso, com Dionísio, O Velho. Que, depois de libertar Siracusa do domínio de Cartago, tornou-se um tirano sanguinário. Invejado por governar a mais rica cidade da Sícilia, ninguém o cortejava mais que Dâmocles. Dionísio, irritado com tanta bajulação, pediu que ocupasse o seu posto ao menos por um dia. Foram então dados, a esse aprendiz de ditador, riquezas muitas e as mais belas mulheres (hoje, esse relato seria politicamente incorreto). E tudo corria bem. Até que Dâmocles percebeu haver, pendurada sobre sua cabeça, uma espada afiadíssima. Presa por frágil fio do rabo de cavalo. Dionísio explicou que assim vivia. Sob o permanente risco de perder tudo. E, com receio de morrer, Dâmocles  preferiu devolver ao tirano seu posto.

Espada é palavra que vem do grego. Numa referência a Esparta, cidade conhecida por seus guerreiros ferozes. Muitas outras histórias envolvem espadas. Como a de Excalibur, cravada na pedra. E que só poderia ser removida por homem destinado a ser Rei da Inglaterra. Um conto que talvez seja baseado em fato real, ocorrido no século XII. Quando um cavaleiro, Galgano Guidotti, depois de ter renunciado à nobreza, tornou-se eremita. Devotado às lições da Sagrada Escritura, em seus delírios teria se encontrado com os 12 apóstolos. Junto a uma cruz. E, para marcar o local, fincou sua espada no chão úmido, que alí ficou depois petrificado. Tudo como ainda hoje se pode ver na Capela de São Galgano, na cidade de Montesiepi (Itália).

Indo adiante, e não por acaso, a deusa grega Themis, símbolo do Poder Judiciário, tem na mão uma balança; e, na outra, uma espada. Que representa distinção entre o verdadeiro e o falso. Em desalinho com a visão de Ruy Barbosa (Discursos e Conferências), para quem “A espada não é a ordem, mas a opressão”. Em sua homilia desta semana, o padre Sérgio Absalão, na capelinha dos Aflitos, lembrou que o próprio Deus é por vezes apresentado com uma espada. Sendo, sua palavra, uma “espada de dois gumes”. Segundo ele, Santo Agostinho explica essa metáfora dizendo que Deus fala “das realidades temporárias e das realidades eternas”. Seja como for, a lenda parece boa lição para nossos homens públicos em nosso país. A partir da frase atribuída a Shakespeare, “O mal da grandeza é quando ela separa a consciência do poder”.

O Congresso quer mandar em tudo. O Supremo até lei criou, para beneficiar réu condenado (em 3 instâncias) por corrupção. O Executivo, sem qualquer coordenação, se perde numa radicalização insensata. A oposição esquece o interesse coletivo e só pensa em votos para as próximas eleições. Enquanto nós, indeterminados cidadãos comuns do povo, assistimos, incrédulos e perplexos, a um Brasil que sofre. Essa gente parece não perceber que, sobre todos, pesa a opinião pública. Uma Espada de Dâmocles. Lembro nosso queridíssimo Dom Helder: “Eles pensam que o povo não pensa. Mas o povo pensa”. É isso, meus senhores de Brasília. Não abusem, por favor. Vocês podem até não acreditar, mas o povo pensa mesmo.

Continua após a publicidade

José Paulo Cavalcanti Filho

jp@jpc.com.br 

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

OFERTA RELÂMPAGO

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
Apenas 1,99/mês*

Revista em Casa + Digital Completo

Receba 4 revistas de Veja no mês, além de todos os benefícios do plano Digital Completo (cada revista sai a partir de R$ 7,48)
A partir de 29,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$23,88, equivalente a R$ 1,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.