A menos de um ano das eleições de 2026, o tabuleiro político já está armado. Luiz Inácio Lula da Silva desponta como favorito natural à reeleição — não por sorte, mas pela combinação entre o poder institucional da incumbência, a fragmentação da oposição e a habilidade política de quem já venceu três disputas presidenciais e elegeu Dilma Rousseff duas vezes. Desde a aprovação da reeleição, em 1997, apenas Jair Bolsonaro não conseguiu renovar o mandato. Mesmo assim, perdeu por menos de 2 pontos percentuais dos votos válidos. O dado mostra o peso do cargo. Quem ocupa o Planalto larga na frente. E Lula conhece a máquina como poucos — governa e faz campanha simultaneamente, com instinto e cálculo. A economia, em relativa estabilidade, favorece o presidente. O desemprego recua, a inflação está controlada e os programas sociais foram reforçados: Bolsa Família ampliado, vale-gás, crédito popular e o novo vale-energia. Cada medida tem efeito político preciso e custo fiscal administrável até 2026.
Lula domina a arte do jogo duplo: acena ao mercado com esforços fiscais, enquanto reforça a retórica social e o discurso do “nós contra eles”. Essa dualidade é sua marca e explica por que continua a mobilizar tanto o andar de cima quanto o de baixo da sociedade. Ambiguidade sempre foi a marca da narrativa lulista em contraponto ao discurso engessado do PT. Quando a popularidade estava erodindo em sua própria base eleitoral, o “nós contra eles” deu um alento ao presidente e ele ainda se beneficiou de fatores como Eduardo Bolsonaro e Donald Trump. Eduardo dividiu a direita com sua campanha contra o Brasil. Trump puniu e abriu as portas para o diálogo. Lula se beneficiou duplamente, como vítima do imperialismo e estadista que reabre as portas para o diálogo.
“O Brasil pode até estar cansado do PT, mas ainda não se cansou de Lula. O peso do cargo é muito grande”
Enquanto isso, a direita se dispersa. Sem Bolsonaro, inelegível, Tarcísio de Freitas é o nome natural. No entanto, ele não pode fazer campanha sob pena de perder apoio em São Paulo. Enquanto isso, corre o tempo para alianças regionais que estão se desenhando sem saber quem será o candidato contra Lula no ano que vem. O presidente ainda se aproveita da impopularidade do Congresso. Um Legislativo conservador lhe serve de álibi. “Queria fazer mais, mas o Congresso não deixa”, disse ele. É a velha fórmula que o mantém popular mesmo em crises. Além disso, ainda atua para dividir o Centrão.
Evidentemente que Lula corre riscos. A oposição, caso tenha um candidato forte como Tarcísio de Freitas, será competitiva. A economia global também pode desandar, um escândalo pode surgir e o debate sobre o candidato a vice-presidente pode ser problemático. Mas apostar contra a reeleição de um incumbente em um cenário de estabilidade e com a oposição desorganizada é apostar contra a lógica da política brasileira. Bolsonaro, mesmo cometendo os erros que cometeu, quase ganhou. Lula tende a errar menos. O roteiro dele é previsível: reforçar programas sociais, reatar pontes com o empresariado, manter a polarização e personificar o embate eleitoral. É o mesmo script que o fez sobreviver ao mensalão, eleger sucessora e retornar do ostracismo. O Brasil pode até estar cansado do PT, mas ainda não se cansou de Lula.
Publicado em VEJA de 24 de outubro de 2025, edição nº 2967
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