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O peso político dos evangélicos

Os fiéis foram determinantes nas últimas eleições presidenciais

Por Murillo de Aragão Atualizado em 4 jun 2024, 12h34 - Publicado em 26 fev 2022, 08h00

Na medida em que o debate eleitoral se intensifica, os principais candidatos buscam se acertar com segmentos importantes de eleitores. Com mais de 30% da população de 210 milhões de brasileiros, os evangélicos são determinantes para a eleição do presidente da República. No pleito de 2014, o voto desse rebanho — que chegou a ser cortejado por Aécio Neves (PSDB) — foi essencial para Dilma Rousseff se reeleger. Em 2018, também foi determinante para a vitória do presidente Jair Bolsonaro. Na pesquisa do Datafolha de 4 de outubro daquele ano, 48% dos evangélicos declaravam voto no então candidato do PSL. O porcentual representava mais que o dobro do segundo colocado, Fernando Haddad (PT), que obteve apenas 18%.

Recentemente, segundo pesquisa do PoderData divulgada dias atrás, Bolsonaro continua liderando entre os evangélicos. Hoje o presidente venceria Lula por 44% a 32%. Ou seja, a distância dele para o candidato do PT, que em 2018 era de 30 pontos porcentuais, caiu para apenas 12 pontos. Atento à perda de terreno em um importante segmento de sua base social, Bolsonaro prepara uma série de encontros com as principais lideranças das igrejas e com parlamentares da poderosa “bancada evangélica”.

Setores do governo têm dúvidas quanto ao apoio de lideranças importantes dos evangélicos como Edir Macedo (Igreja Universal do Reino de Deus), Manoel Ferreira (Ministério Madureira da Assembleia de Deus) e o missionário R.R. Soares (Igreja Internacional da Graça de Deus). Marcos Pereira, presidente do Republicanos, partido ligado à Igreja Universal, declarou que Bolsonaro teria atrapalhado a filiação de novos parlamentares à legenda. Estaria o Palácio do Planalto trabalhando para impedir o crescimento da agremiação?

“Mesmo que a pauta econômica tenha um peso maior, a agenda de costumes continuará a ser importante para o eleitorado mais conservador”

Lula, por sua vez, tem reconstruído pontes com os evangélicos que apoiaram a eleição e a reeleição de Dilma Rousseff. Recebeu do pastor Paulo Marcelo, ligado à Assembleia de Deus, um plano de ação para cooptar votos junto aos fiéis. O petista sabe que dividindo o voto das igrejas pentecostais terá maior chance de consolidar sua liderança. Em dezembro, pesquisa do Datafolha apontava que Lula teria sido o melhor presidente do Brasil na avaliação da maioria dos evangélicos. A movimentação do ex-presidente e o resultado das pesquisas determinaram a ofensiva de Bolsonaro sobre esse segmento.

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Não será, porém, uma tarefa fácil para o PT transformar a admiração em votos. Nas eleições de 2018, um fator que ajudou Bolsonaro na conquista do apoio evangélico foi a aposta na agenda de costumes. Mesmo que neste ano a pauta econômica tenha um peso maior, a agenda de costumes continuará a ser importante para o eleitorado mais conservador. Lula enfrentará problemas em abraçar de forma mais explícita essa agenda.

Enfim, mesmo que não exista uma hegemonia do voto evangélico para um determinado candidato, é certo considerar que o segmento terá relevância crescente na formatação política do Brasil em 2023 — tanto pela influência que exercerá junto ao vencedor quanto pela relevância na composição do futuro Congresso. Lembro que em 1994 eram apenas 21 deputados federais que se declaravam evangélicos. Na atual legislatura, já são mais de 100. Tudo indica que a bancada deverá prosseguir crescendo em tamanho e em influência.

Publicado em VEJA de 2 de março de 2022, edição nº 2778

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