![Brazil's President-elect Luiz Inacio Lula da Silva (C), future Minister of Economy Fernando Haddad (L) and future Minister of Planning Simone Tebet (R) pose for a picture during a press conference at the transitional government building in Brasilia on December 29, 2022. - Luiz Inacio Lula da Silva appointed this Thursday the environmentalist Marina Silva as Minister of Environment, and the indigenous leader Sonia Guajajara at the head of the unprecedented portfolio of Original Peoples, completing his cabinet three days before beginning his third presidential term in Brazil. (Photo by EVARISTO SA / AFP)](https://veja.abril.com.br/wp-content/uploads/2022/12/000_33694N8.jpg?quality=90&strip=info&w=1280&h=720&crop=1)
As predições, de acordo com Georges Minois em seu magnífico História do Futuro — Dos Profetas à Prospectiva (Unesp, 2016), sempre correspondem a uma intenção, um desejo ou um temor. No entanto, ao fazer um cenário prospectivo, devemos lutar contra as nossas preferências. Sobretudo porque elas não são garantia de precisão. O futuro do Brasil em 2023 está em aberto. Existem sinais ruins e que foram abordados em coluna anterior. Mas também existem aspectos que podem fazer a balança pender para uma situação positiva.
Três aspectos vão decidir a qualidade do ano que se inicia. O primeiro deles é a capacidade de Lula administrar as contradições de um governo de amplo espectro ideológico. Desde já se verifica uma disputa interna pela predominância de agendas. O que faz o novo presidente jogar com as cartas altas e não dividindo muito as suas intenções. Lula sabe que o petismo raiz quer uma guinada à esquerda que ele não consegue entregar.
O segundo aspecto é que a recomposição do presidencialismo de coalizão não é garantia de que o novo governo terá maioria no Congresso para o que der e vier. A distribuição de cargos somente será efetiva se houver uma efetiva distribuição de poder. O que esbarra tanto nas disputas internas do PT quanto na representatividade no Legislativo na composição ministerial.
“O desafio é compatibilizar a eficiência econômica, a justiça social e a liberdade individual”
O terceiro aspecto é que o novo governo terá uma oposição consistente. Fato praticamente inédito nas últimas décadas. Existem forças políticas organizadas, com agendas próprias e que não se coadunam com as pautas originais do PT. O bolsonarismo deve sobreviver como força política. Podendo crescer caso o novo governo não tenha sucesso inicial visível. Além do mais, existem bancadas de interesses muito fortes e atuantes.
Mesmo se saindo bem nos três desafios mencionados, não há garantia de que o ano será um sucesso para o novo governo. Existem expectativas negativas no campo econômico que precisam ser revertidas. As confusões, os equívocos e os tropeços na largada já provocaram consequências: a deterioração das expectativas; a perda de valor das empresas; o aumento do custo do capital. Muitos setores já entraram em compasso de espera e as expectativas para investimento estão piorando.
Assim, as narrativas acerca da economia devem buscar ampliar os horizontes de investimento e redução de incertezas. O mercado deveria — como pensou Deng Xiaoping — ser tratado como uma alavanca de prosperidade e instrumento de governo. Até pelo fato de que o mercado é um sistema que busca o equilíbrio entre os desejos dos consumidores e os riscos de quem investe e produz. Sem o mercado, a economia não funciona. E a razão de termos desigualdade aguda no Brasil também está na ainda fragilidade do mercado.
Conforme disse Montaigne, a vida é “um movimento desigual, irregular e multiforme”. Assim tudo pode melhorar ou piorar de acordo com o comportamento do novo governo. Por isso o futuro do Brasil em 2023 está em aberto. Por fim, vejo que o caminho apontado por Keynes deveria ser levado ao pé da letra pela nova administração: o desafio político da humanidade é compatibilizar a eficiência econômica, a justiça social e a liberdade individual.
Publicado em VEJA de 4 de janeiro de 2023, edição nº 2822