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Murillo de Aragão

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Mantenham os cintos afivelados!

Seguimos sem um rumo claro para o fim da turbulência

Por Murillo de Aragão Atualizado em 15 ago 2025, 15h39 - Publicado em 15 ago 2025, 06h00

Essa dinâmica estrutural, que nos acompanha há anos, hoje se potencializa com aceleradores conjunturais específicos. O momento atual combina heranças de uma guerra institucional antiga com novos ingredientes explosivos: a questão do 8 de Janeiro e o julgamento dos envolvidos, os desencontros geopolíticos do governo e o tarifaço anunciado por Washington. Some-se a isso a pugna interna por emendas, a judicialização de impasses típicos da política e um discurso oficial que, recorrentemente, reativa a gramática do “nós contra eles”. Não há solução de curto prazo: a inércia estrutural da nossa engenharia política provocada pela polarização e a sucessão de eventos em curso desaconselham expectativas mágicas.

Para que um cenário melhor se torne possível, seria necessária uma contenção generalizada dos apetites específicos de cada poder. Três frentes exigem atenção imediata — fiscal, jurídico-política e internacional —, com a ressalva de que a agenda externa, hoje, se imbrica com a jurídica e a institucional. No fiscal, é preciso tratar a âncora como política de Estado: parâmetros realistas, contingenciamentos tempestivos, execução transparente e prioridade a investimentos que destravem a produtividade. Sem isso, o prêmio de risco sobe e as expectativas fiscais estarão cada vez mais deterioradas. No jurídico-político, urge desacelerar o espetáculo. A Justiça precisa de sobriedade, cadência, contenção, previsibilidade e proporcionalidade. “Guerra por procuração” entre Executivo e Legislativo usando o Judiciário como arena amplia a desordem.

“Hoje quem vence são a má educação, a lacração e a disputa eleitoral. O interesse nacional tem sido perdedor”

No plano internacional, precisamos de sobriedade estratégica: menos bravata e mais negociações; menos gestos performáticos e mais segurança jurídica para comércio, tecnologia e investimento. É crucial preservar pontes com os Estados Unidos, a Europa e a Ásia, evitando slogans que nos isolem. Convém lembrar que o Brasil não contará com solidariedade irrestrita dos parceiros do Brics na questão tarifária. Na arena internacional, prevalecem os interesses de cada país. Tampouco nos cabe liderar, sem lastro político, diplomático e econômico, cruzadas contra o dólar. Aliás, antes de embarcar na pauta da moeda única, teria sido prudente ouvir agentes exportadores e financeiros para avaliar a oportunidade e a conveniência em relação aos nossos interesses estratégicos.

O Brasil está no corner. Autoimposto por nossa vocação ao conflito polarizado disfarçado de intenções democráticas. Para sair dele, o país terá de exercitar tolerância, contenção e pragmatismo — três virtudes em falta no nosso mercado institucional. Hoje, quem vence são a má educação, a lacração e a disputa eleitoral que se aproxima. O interesse nacional, esse tem sido o perdedor recorrente, atropelado por questões táticas e ativismos de ocasião.

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Reverter essa lógica começa pela linguagem (menos insulto, mais argumento), passa pela governança (menos improviso, mais método) e termina na política pública (menos anúncio, mais entrega mensurável). Como escrevi semanas atrás, a crise tende a piorar antes de melhorar — e parte de nós talvez se acostume a ela, o que é ainda mais perigoso.

O fato é que, pelo andar lento e torto da carruagem, seguimos sem um rumo claro para o fim da turbulência. Mas bússola existe: institucionalidade sem exibicionismo, diplomacia de resultados e um pacto mínimo entre Poderes que devolva a normalidade do dissenso democrático. Até lá, mantenham os cintos afivelados.

Publicado em VEJA de 15 de agosto de 2025, edição nº 2957

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