Último mês: Veja por apenas 4,00/mês
Imagem Blog

Murillo de Aragão

Por Murillo de Aragão Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Continua após publicidade

Fragmentação partidária e eleições

O sistema vigente cria um ambiente de competição desordenada

Por Murillo de Aragão 13 out 2024, 08h00

Dos 5 466 prefeitos eleitos no primeiro turno no pleito municipal deste ano, 4 955 pertencem a “apenas” dez partidos: PSD, MDB, PP, União, PL, Republicanos, PSB, PSDB, PT e PDT. O PSD, liderado por Gilberto Kassab, foi a legenda com mais prefeitos eleitos, totalizando 878, seguido pelo MDB, com 847, e pelo PP, com 743. Esses dez partidos concentram 90% das prefeituras conquistadas. Dada a existência de aproximadamente trinta legendas no Brasil, esse dado pode até sugerir uma aparente concentração relativa, mas reflete a elevada fragmentação partidária.

Essa fragmentação é um sintoma da fragilidade estrutural do sistema político brasileiro. Apesar de reformas sucessivas, a redução do número de partidos tem ocorrido de forma lenta e gradual. A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que, em 2006, declarou inconstitucional a cláusula de barreira se revelou um retrocesso significativo. A medida estabelecia um desempenho mínimo para que um partido tivesse acesso a recursos públicos e tempo de propaganda. A anulação manteve a proliferação de partidos, prejudicando a estabilidade do sistema. Somente em 2017, com a Emenda Constitucional nº 97, uma nova versão da cláusula de desempenho foi introduzida, de forma mais moderada e aplicada gradualmente.

A multiplicidade de partidos, muitos deles sem uma ideologia ou orientação política clara, criou um ambiente de competição desordenada. Nesse contexto, a formação de alianças tornou-se a principal estratégia para viabilizar candidaturas, mesmo sem o estabelecimento de qualquer vínculo com programas ou plataformas consistentes. As regras eleitorais, até recentemente, facilitavam a criação de novas legendas, contribuindo para um sistema multipartidário excessivamente fragmentado.

“A ausência de partidos robustos e coerentes compromete a governabilidade e dificulta a formulação de políticas públicas”

Continua após a publicidade

Esse cenário afetou diretamente a relação dos partidos com os eleitores, diluindo a identificação ideológica e gerando maior volatilidade eleitoral. A multiplicidade impede a formação de maiorias coesas no Legislativo, tanto em nível municipal quanto estadual e nacional. A consequência é a construção de coalizões que acabam mascarando as legendas. Para os candidatos, o foco passa a ser a inclusão do maior número possível de partidos em suas coligações, visando aumentar o tempo de propaganda eleitoral no rádio e na televisão e o número de candidatos que apoiam a chapa. A convergência programática ou ideológica fica em segundo plano. A identidade dos partidos se perde.

A fragmentação também torna a governabilidade mais complexa no período pós-eleitoral. Prefeitos, governadores e presidentes são obrigados a negociar com um espectro amplo e heterogêneo de legendas, quase sempre sem coesão programática, dificultando a construção de maiorias no Legislativo. Isso gera instabilidade na formulação de políticas públicas e nas decisões de governo. Esse cenário ficou evidente nas eleições municipais e pode até ser interpretado como sinal de pluralidade democrática, mas é um alerta sobre as debilidades do sistema político. Reformas estruturais são necessárias para torná-lo mais eficiente, representativo e menos suscetível a crises de governabilidade. A ausência de partidos robustos e programaticamente coerentes compromete a governabilidade e dificulta a formulação de políticas públicas estáveis e de longo prazo.

Publicado em VEJA de 11 de outubro de 2024, edição nº 2914

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Veja e Vote.

A síntese sempre atualizada de tudo que acontece nas Eleições 2024.

OFERTA
VEJA E VOTE

Digital Veja e Vote
Digital Veja e Vote

Acesso ilimitado aos sites, apps, edições digitais e acervos de todas as marcas Abril

1 Mês por 4,00

Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (equivalente a 12,50 por revista)

a partir de 49,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a 9,90/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.