
A capital vive tempos de faroeste, porém, diferente do que acontece nos clássicos filmes de bangue-bangue, ninguém realmente sai ferido. Imagine aqueles saloons antigos, onde todos disparam uns contra os outros incessantemente. Só que aqui as balas são de paintball: causam muita sujeira, geram bastante barulho, mas não deixam danos permanentes. Com algum tempo e uma boa limpeza, as manchas quase desaparecem.
Afinal, na política brasileira, o fundo do poço tem molas. Quem é alvejado hoje pode esperar o tempo passar para retornar ao palco, muitas vezes em grande estilo. Lavou, está novo, já que a reciclagem dos atores políticos é frequente devido ao elenco reduzido e à baixa renovação no cenário político.
O conflito, porém, se intensifica mês após mês. No início do ano, predominavam a disputa acirrada pelo comando do Congresso Nacional, uma reforma ministerial que não colou e as controvérsias sobre as emendas parlamentares. Já ao final de abril, o cardápio político se ampliou significativamente, passando a incluir denúncias sobre desvios nas aposentadorias do INSS, julgamentos relativos aos atos do dia 8 de janeiro, polêmicas envolvendo o Banco Master, a condenação do ex-presidente Fernando Collor e, não menos relevante, o debate sobre a anistia.
“Os atores trocam ataques aparentemente decisivos, mas que, na prática, mostram-se temporários e reversíveis”
Paralelamente, a equipe econômica enfrenta um enorme desafio, tentando evitar um desastre fiscal projetado para 2027. A Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) trouxe péssimas notícias para as contas públicas, destacando um prejuízo estimado pelo governo em cerca de 620 bilhões de reais, decorrente de subsídios e desonerações fiscais. O cenário econômico agrava-se ainda mais devido à alta inflação e às taxas elevadas de juros, gerando um clima de incerteza e ameaçando seriamente o crescimento econômico do país.
Nesse ambiente turbulento, o governo demonstra pouco interesse pela agenda legislativa, com exceção da proposta de isenção do imposto de renda, mantendo claramente o foco na reeleição do presidente Lula. Isso, de certa forma, coloca a base aliada em apoio seletivo à agenda do governo. Brasília continuará sendo palco de intensos conflitos políticos, frequentemente percebidos como espetáculos midiáticos, onde os temas vão e voltam ao sabor das manchetes. A percepção é de um grande teatro, onde os atores trocam ataques aparentemente decisivos, mas que, na prática, mostram-se temporários e reversíveis. Porque, atrás de cada conflito, existe uma batalha de poder que mira a cena política pós-eleitoral.
O faroeste candango não tem data para acabar e tende a se intensificar por conta das estratégias postas pelos principais players e instituições políticas. O lulismo busca a reeleição e, para tal, joga para a plateia e ameaça a saúde fiscal do país. O bolsonarismo quer a anistia. O Centrão deseja continuar controlando o Congresso e parte expressiva das verbas discricionárias do Orçamento, além de eleger o próximo presidente. Já o Supremo Tribunal Federal quer, sobretudo, manter o seu protagonismo político e proteger seus ministros de futuras vinganças que poderão vir da futura composição do Senado.
E tome bala!
Publicado em VEJA de 2 de maio de 2025, edição nº 2942