![(COMBO) This combination of pictures created on August 16, 2022 shows Brazil's President Jair Bolsonaro (L) speaking during the launching of his re-election campaign for the upcoming national elections in October, in Juiz de Fora, Minas Gerais state, Brazil, on August 16, 2022; and Brazilian presidential candidate for the leftist Workers Party (PT) and former President (2003-2010), Luiz Inacio Lula da Silva, delivering a speech during the launching of his campaign for the upcoming national elections in October on a rally at a Volkswagem car factory in Sao Bernardo do Campo, Sao Paulo, Brazil, on August 16, 2022. - The race for Brazil's October elections formally opened Tuesday, with dueling campaign events by far-right incumbent Jair Bolsonaro and leftist ex-president Luiz Inacio Lula da Silva highlighting the South American giant's deep divides. Front-runners Bolsonaro and Lula, who have in reality been on the campaign trail for months, made it official on opening day with rival events showcasing their polar-opposite styles. (Photo by MAURO PIMENTEL and Miguel SCHINCARIOL / AFP)](https://veja.abril.com.br/wp-content/uploads/2022/08/000_32GM6DB.jpg?quality=90&strip=info&w=1280&h=720&crop=1)
Passamos do meio de agosto e, até agora, tudo bem. Os ventos não ultrapassaram intensidade razoável, parte expressiva da sociedade civil se manifestou a favor da democracia e os polos de atrito entre Executivo e Judiciário parecem ter acalmado as suas narrativas. Como o Brasil é imprevisível, a trégua pode durar pouco ou apenas o suficiente para chegarmos ao 7 de Setembro em bom estado institucional.
No entanto, é difícil crer que o ambiente eleitoral seguirá sem turbulências, dado o nível de polarização da disputa entre o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O saldo acumulado de energias políticas é negativo, e o desejo de cada um de vencer é exacerbado. Para piorar, as escolhas são negativas, baseadas na rejeição aos candidatos que lideram por ora as pesquisas eleitorais.
Basicamente, o que mais preocupa nas próximas semanas envolve as comemorações do Bicentenário da Independência, em 7 de setembro. Nesse caso, o pior cenário seria a ocorrência de algum tipo de insurreição pontual nas ruas, com violência contra instituições públicas. O melhor cenário seria tudo correr dentro de uma necessária e desejada tranquilidade.
As possibilidades, porém, estão apontando para algum tipo de cenário intermediário, com manifestações que poderão lançar mão de narrativas anti-institucionais, mas sem protestos violentos. Por que esse cenário intermediário é o cenário básico?
“A prudência indica que todos devemos trabalhar para o melhor, mas estar preparados para o indesejável”
Primeiro, porque tumultos prejudicariam Bolsonaro, que poderá vir a se aproveitar eleitoralmente de amplas e pacíficas manifestações a seu favor. Segundo, porque Lula e seus militantes não parecem ter o poder de mobilização para enfrentar os militantes bolsonaristas, o que, a princípio, afasta o cenário de grandes confrontos.
O terceiro aspecto é que governadores que disputam a reeleição não querem ser acusados de omissos, caso ocorram graves desordens em seus estados. Isso vale para São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, os principais colégios eleitorais do Brasil.
O quarto aspecto é que o comando do Supremo Tribunal Federal, nas mãos do ministro Luiz Fux até 12 de setembro, está atento e atuando para mediar o diálogo institucional, de forma a manter a paz entre os poderes.
O quinto aspecto é que as Forças Armadas, em sua esmagadora maioria, estão comprometidas com a constitucionalidade e o respeito às leis.
A combinação desses cinco vetores aponta para perspectivas moderadamente positivas. O que trabalha contra, como mencionei, é o saldo de energias negativas acumulado por embates políticos e jurídicos, narrativas agressivas e anti-institucionais e agressões verbais inadequadas ao ambiente democrático, no qual a maioria dos brasileiros deseja viver.
Em política, porém, tudo pode acontecer. Até mesmo nada de mais. A prudência indica que todos devemos trabalhar pelo melhor, mas estar preparados para o indesejável. Sobretudo devemos valorizar o que construímos em termos de avanços sociais e econômicos e enfrentar os desafios que nos atrasam.
O mundo anda estranho. Desde a pandemia de Covid-19, tivemos a guerra na Ucrânia, os surtos inflacionários, a crise dos combustíveis e a varíola dos macacos. Não queremos que o Brasil engrosse a lista global de episódios exóticos e repudiáveis. Os brasileiros devem cuidar do Brasil com responsabilidade. Principalmente os formadores de opinião e os eleitores.
Publicado em VEJA de 24 de agosto de 2022, edição nº 2803