Black Friday: Revista em casa a partir de 8,90/semana
Imagem Blog

Murillo de Aragão

Por Murillo de Aragão Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Continua após publicidade

A vitória da narrativa

A consequência é um empobrecimento generalizado das decisões

Por Murillo de Aragão Atualizado em 4 jun 2024, 10h12 - Publicado em 16 jul 2023, 08h00

Muitos ficam irritados com o uso intenso da expressão “narrativa” nos dias de hoje. A irritação se dá tanto pela exaustão causada pela repetição quanto pelo rebaixamento de evidências e provas frente ao discurso. De fato, esse expediente está se impondo sobre a realidade. Daí o sucesso do copyright como atividade de contar histórias com o fim específico de convencer alguém. Nada mais antigo. Contudo, nada mais atual.

Quem não tem narrativa está fora do contexto das circunstâncias. A supremacia se dá em detrimento da expertise. Daí o sucesso de celebridades que opinam sobre tudo, mesmo pouco sabendo do que estão falando. Pois não importa o que falam, desde que a narrativa seja boa e, de preferência, politicamente correta.

A supremacia da narrativa também é um conforto para quem não quer pensar e deseja chegar a conclusões que lhe são confortáveis. A consequência é um empobrecimento generalizado das decisões, que acabam sendo mais influenciadas pelas narrativas do que por seus méritos.

As narrativas se relacionam também com três outros fenômenos da comunicação: o agendamento, o enquadramento e a “lacração”. A tríade é companhia inseparável da interpretação contemporânea dos acontecimentos.

Todos os grandes acontecimentos do século XX, para não ir muito longe, tiveram nas narrativas o veículo das transformações. Sem versões que mobilizassem radicais e paralisassem os moderados, não haveria a revolução soviética nem tampouco a emergência do nazifascismo.

Continua após a publicidade

“O que está sendo proposto é um mundo onde quem fala bem prevalece sobre quem fala a verdade”

A Rússia de hoje tentou criar uma justificativa antinazista para invadir a Ucrânia e agora está atolada em uma guerra que já perdeu, mesmo que ganhe militarmente. Perder a guerra da narrativa foi a primeira e decisiva derrota russa.

No Brasil, o ex-presidente Jair Bolsonaro perdeu a eleição antes mesmo da abertura das urnas por causa de uma sequência de narrativas erradas que, no fim das contas, reabilitaram eleitoralmente Lula e determinaram o resultado do pleito.

Continua após a publicidade

A importância da narrativa também está na aprovação da reforma tributária. Afinal, comprou-se uma história cujo preço para o contribuinte não está claro. Apenas alguns dias depois da simbólica votação, a opinião publicada acordou para alguns aspectos e cunhou, com imensa criatividade, o termo “emenda Cavalo de Troia” para a matéria. A maioria não sabe, de fato, o que foi aprovado.

A vitória da narrativa propõe um mundo onde quem fala bem prevalece sobre quem fala a verdade. É uma espécie de Truman Show, onde todos nós podemos ser os “Trumans”, e quem controla as narrativas controla o jogo.

A predominância das narrativas pode significar a derrota da racionalidade e um atraso gigantesco no caminho do sucesso econômico e social de um país profundamente desigual.

Continua após a publicidade

Para onde vamos? Difícil dizer, já que a maioria da nossa população aprendeu a representar antes de saber ler e, funcionalmente, não entende o que está lendo. A situação sugere que as narrativas vão prevalecer sobre a verdade dos fatos. Até que os tributos dos erros se tornem insuportáveis ou as lideranças políticas, jurídicas, econômicas e sociais fiquem mais responsáveis.

Publicado em VEJA de 19 de julho de 2023, edição nº 2850

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Semana Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

Apenas 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (a partir de R$ 8,90 por revista)

a partir de 35,60/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.