Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Imagem Blog

Murillo de Aragão

Por Murillo de Aragão Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Continua após publicidade

A República Orçamentarista

No Brasil, o dinheiro público é central nas disputas institucionais

Por Murillo de Aragão Atualizado em 4 jun 2024, 09h37 - Publicado em 4 fev 2024, 08h00

Em um contexto mais amplo da América Latina, a dinâmica política brasileira ecoa uma longa disputa entre federalistas e centralistas. Os federalistas desejam que o dinheiro seja controlado pelos estados e municípios, enquanto os centralistas pregam o controle financeiro do governo central.

No entanto, o Brasil inovou ao criar um sistema em que o centro do poder está no controle do Orçamento. Uma espécie de caixa eletrônico da República onde somente os poderosos têm as senhas. Decisões são nubladas pela opacidade. Programas e projetos, em parte expressiva, são apenas rótulos para compor uma narrativa de poder.

A expressão “República Orçamentarista” introduz um olhar irônico sobre a complexa realidade política e econômica do Brasil, destacando um ambiente em que a gestão do Orçamento público assume um papel central nas disputas institucionais. Essa expressão foi cunhada por uma figura influente nos altos escalões da República que se mostra um bem-humorado observador da cena política nacional.

Na República Orçamentarista, o cenário político é dominado pela luta por recursos. O governo busca incessantemente formas de aumentar a arrecadação para combater o déficit, enquanto o Congresso empenha-se em assegurar mais verbas para suas emendas e projetos. O Judiciário, independente, também se fecha para manter suas franquias intocáveis.

A batalha é contínua, assemelhando-­se a uma briga de rua pela apropriação de fatias do Orçamento, em detrimento de um planejamento estratégico abrangente e visionário para o país. O resultado é que a prioridade é o interesse específico, refletido na expressão “farinha pouca, meu pirão primeiro”.

Continua após a publicidade

“Há uma batalha por fatias do Orçamento em detrimento de um planejamento estratégico”

Para sustentar o status quo, há uma guerra de narrativas, na qual setores públicos e privados frequentemente manipulam informações. Alegações sobre isenções fiscais bilionárias frequentemente ocultam a realidade da carga tributária pesada e injusta. Parte da máquina pública vive em mundo paralelo de ganhos regulares e cobranças erráticas. Quem pode tenta não depender do Estado.

Isso leva à constatação de que no “orçamentarismo” não se observa uma discussão genuína sobre a diminuição das despesas governamentais, tampouco um foco nas melhorias de eficiência e na qualidade dos serviços públicos.

Continua após a publicidade

A transição para a República Orçamentarista marcou a substituição de um modelo em que o Executivo detinha domínio absoluto, em que o hiperpresidencialismo subjugava os demais poderes e a federação aos interesses do governo central.

Hoje, observamos uma descentralização maior do poder, o que, em princípio, representa um avanço. No entanto, a lógica do caixa eletrônico sem limites não funcionará se a economia não crescer de forma sustentável, com clareza de propósitos, com uma visão pragmática e desprovida de preconceitos ideológicos.

Não podemos abrir mão da construção de um futuro estruturado por causa do imediatismo e da lógica do “meu pirão primeiro”. Porém, a curto prazo, os avanços no controle dos gastos públicos dependerão de crises que ainda não estão no horizonte. Continuaremos, alegremente, a correr da cozinha para a sala sem pensar seriamente no futuro.

Publicado em VEJA de 2 de fevereiro de 2024, edição nº 2878

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

a partir de 39,96/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.