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Murillo de Aragão

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A política e o bom humor

Essa combinação é sinal de inteligência e de segurança

Por Murillo de Aragão Atualizado em 26 set 2025, 11h41 - Publicado em 26 set 2025, 06h00

Sim, política é coisa séria. Mas está faltando bom humor na política de hoje. Às vezes irônico, outras vezes sarcástico ou simplesmente espirituoso, o bom humor é sinal de inteligência e tolerância. Mesmo em momentos de grande tensão, grandes políticos — como Winston Churchill — souberam usá-lo sem perder a gravidade do ofício. Quando bem empregado, o humor humaniza figuras públicas, aproxima-as do eleitorado e desarma conflitos. Em excesso, ou no tom errado, vira arma de destruição de reputações, rende gafes e desgastes. Líderes que dominam essa medida tornam-se não apenas operadores hábeis, mas personagens inesquecíveis da vida pública.

O problema é que a política brasileira tem desaprendido a rir de si mesma. A crescente agressividade do debate empurrou o humor para a margem, que foi substituído pela “lacração” grosseira. Em audiências públicas — sobretudo nas inquirições — o tom sobe para produzir o recorte perfeito para as redes sociais. Essa coreografia rende milhões de visualizações, mas empobrece a política: substitui o argumento pela caricatura, a síntese pela grosseria, o debate pelo linchamento.

“Precisamos recuperar uma cultura de tolerância, escuta e empatia — virtudes incompatíveis com o xingamento”

Não foi sempre assim. No Congresso, tivemos referências de bom humor como José Múcio Monteiro (hoje na Defesa), Inocêncio Oliveira e Marco Maciel — todos de Pernambuco. Houve também Getúlio Dias, “brizolista” fanático com histórias de gaúcho, e o paranaense Maurício Fruet, mestre em pregar peças nos amigos. Certa vez enviou para um parlamentar amigo, por Sedex a pagar no destinatário, paralelepípedos embrulhados e apresentados como livros, surpreendendo o incauto com o peso da “obra”. A lista de espirituosos inclui ainda Nelson Jobim, Delfim Netto, Paulo Maluf e Jarbas Passarinho — cada qual com um estilo, do elegante ao assertivo. Lembro também de Arthur Virgílio Neto, José Genoino e José Dirceu: combativos, por vezes mercuriais, mas capazes de rir e fazer rir sem rebaixar o adversário.

Vale a leitura de Folclore Político, de Sebastião Nery, com centenas de casos saborosos do nosso anedotário. Se vivo fosse, talvez penasse para encontrar material inédito nas primeiras décadas do século XXI: a política anda mais sisuda e, paradoxalmente, mais tóxica. Parte disso se explica pela lógica das plataformas, que premia a indignação instantânea, parte decorre da profissionalização do confronto, onde consultorias e “war rooms” administram crises com a frieza de um call center. Em meio a esse maquinário, a leveza virou suspeita — como se o sorriso retirasse seriedade do tema.

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Lembrar do bom humor na política não é nostalgia e, sim, de compromisso. Precisamos recuperar uma cultura de tolerância, escuta e empatia — virtudes incompatíveis com o xingamento e perfeitamente compatíveis com o humor. O político que ri com (e não de) seus adver­sá­rios dá um recado poderoso: está seguro o bastante para discutir ideias sem desqualificar pessoas. Brasília anda carente dessa leveza adulta. Quando ela falta, o sistema range, o diálogo trava e o país perde tempo precioso com tretas que não melhoram a vida de ninguém. Política é coisa séria — e exatamente por isso merece, de vez em quando, um sorriso que nos devolva humanidade.

Publicado em VEJA de 25 de setembro de 2025, edição nº 2963

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