Venezuela: russos na praia, iguana terrorista, alta tensão
Regime de Maduro se blinda contra golpe e solta as feras na rua, armando o cenário que pode levar à prisão de Juan Guaidó

Sem água, sem luz, sem comida e sem esperança, ainda sobra aos venezuelanos senso de humor suficiente para se divertir com situações surrealistas.
Uma ida à praia, por exemplo, revelou a um grupo a presença de vários loiros fardados numa base militar.
Especulação: estavam reprogramando os radares afetados pelas constantes quedas de energia e, provavelmente, pela fuga de técnicos militares venezuelanos.
A chegada no aeroporto de Maiquetía de um Ilyushin e um Antonov, em 23 de março, numa missão chefiada por um general de alto coturno, Vassili Tonkoshkurov, deixou muitos quepes desconcertados mundo afora.
Não houve nenhuma preocupação em disfarçar as grandes quantidades de equipamentos e os 99 militares.
Dessa vez, mais do que um “desfile de moda”, como aconteceu com os dois bombardeiros Tupolev, os elegantes Cines Brancos, que fizeram patrulhas conjuntas em dezembro, a missão é mais concreta.
Os russos estão recuperando a operacionalidade dos armamentos sofisticados que venderam para a Venezuela e que, como tudo o mais no país, entraram em processo de deterioração. Entre eles, possivelmente, os sistemas de mísseis antiaéreos S-300.
Colômbia, Estados Unidos e até Brasil entraram na lista de alvos potenciais, na hipótese muitíssimo remota de uma intervenção armada.
Mas existe um outro possível objetivo que tem sido ignorado. O regime de Nicolás Maduro e seus generais podem estar se preparando para conflitos internos no caso de um racha nas Forças Armadas..
Existe o precedente de 1992 , quando os militares liderados por Hugo Chávez deram um golpe fracassado. Quem gosta de batalhas aéreas pode procurar as cenas em que um F16 tritura um Bronco, o turbohélice feito para ataques leves e reconhecimento aéreo. Ao todo, quatro Broncos foram abatidos.
Seja lá o que os russos estejam fazendo, duas coisas são certas.
Primeiro, não é boa coisa, principalmente pela presença desestabilizadora de uma potência nuclear na América do Sul.
Segundo, eles estão achando que dá para segurar Maduro, ou até um substituto da mesma laia, no poder.
Os sinais de fortalecimento do regime, mesmo num país onde tudo fica cada vez pior, incluem a cassação da imunidade parlamentar de Juan Guaidó, que fez o arriscado lance de se declarar presidente provisório, na qualidade de autoridade maior da Assembleia Nacional.
Apesar das enormes manifestações de apoio interno e do reconhecimento internacional a Guiadó, a dissolução do regime, possível apenas com a mudança de barco de uma parte considerável da cúpula militar, não se concretizou.
Além de perder a imunidade, Guaidó e outros líderes oposicionistas estão vendo os “coletivos” , bandos de civis armados pelo regime, chegar cada vez mais perto.
É como se o laço em torno dele estivesse sendo estrategicamente apertado. Obviamente, haveria enormes reações de protesto.
Para relaxar do clima de alta tensão, os venezuelanos ainda têm as cretinices do regime Maduro. Entre elas, as desculpas pela falência do sistema elétrico.
O capitalismo, o imperialismo, raios invisíveis, El Niño, Donald Trump e outros suspeitos de sempre já foram acusados.
Inesperado foi a direção do sistema elétrico atribuir um dos muitos apagões a uma iguana que teria roído fiação.
Iguanas treinadas pela CIA em sabotagem viraram incontáveis memes. Isso quando dava para carregar os celulares.
Maduro demitiu o ministro da Energia, um general, e encarregou a vice-presidente Delcy Rodríguez do projeto de “intervenção, reestruturação e modernização “ da Corporação Elétrica Nacional.
Anos atrás, numa época de seca, o novo ministro havia convocado os funcionários da estatal para uma missa pedindo intercessão divina em favor de chuva.
E o último projeto confiado à vice Delcy foi o Programa Nacional de Combate à Corrupção.
Ainda bem que os venezuelanos ainda têm senso de humor para rir de tantas farsas.