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Um presidente que fala bobagem, xinga jornalistas, tem crise com o dólar

É, obviamente, Javier Milei: o estilo agressivo faz parte do perfil que o levou à presidência e de um padrão político contemporâneo

Por Vilma Gryzinski 4 jul 2024, 06h42

Javier Milei teve uma série de vitórias recentes. A mais importante foi a aprovação da Lei de Bases pelo Congresso: apesar das alterações, previsíveis quando se negocia politicamente, ele tem condições de fazer mudanças enormes e necessárias no modelo econômico e na estrutura administrativa da Argentina. Por que obscurecer uma conquista tão fundamental com declarações intempestivas?

Porque faz parte do hardware, da essência política, não só dele como de outros contemporâneos. Mesmo quando são antagônicos, seguem a mesma lógica: criar inimigos tem suas recompensas. Ou acham que tem.

O dólar passou dias subindo na Argentina, o que pode ter consequências catastróficas para uma economia em transição, totalmente dolarizada. Como em qualquer outro país do mesmo nível, as consequências são piores para os mais pobres, sem condições de se proteger das pressões inflacionárias.

Foi exatamente esse o momento que Milei escolheu para ampliar a briga que tem com o radialista Marcelo Longobardi, um dos mais conhecidos do país, chamando-o de “perfeito dinossauro idiota”, num post em que reitera as críticas ao presidente Lula da Silva.

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AUTOGOLPE BOLIVIANO?

O motivo principal dessa etapa da briga é relativamente obscuro: o que de fato aconteceu na Bolívia durante a furada tentativa de golpe militar. Estranhamente, tanto Milei quanto Evo Morales, em guerra com o presidente e ex-pupilo Luis Arce, dizem que o golpe foi uma armação. Evo comentou até a foto em que Arce aparece no mesmo time de basquete que o general golpista Juan José Zúniga.

O golpe teve mesmo aspectos surreais, que podem ser atribuídos tanto a uma armação – que precisaria ter um bocado de conspiradores – quanto às condições endógenas da Bolívia.

Milei resolveu chamar Longobardi para a briga nos seguintes termos: “É conhecida a fraude montada na Bolívia e o perfeito idiota, em lugar de aceitar seu erro, me critica por deixar sua estupidez evidente”.

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“Depois das agressões de Lula (em especial sua forte interferência na campanha eleitoral e o apoio sólido à campanha mais suja da história), queixa-se porque respondo com a verdade (esteve preso por corrupção e é comunista)”.

“Assim são os idiotas que exaltam as formas por carecer de conteúdo”.

HIPÉRBOLE ARGENTINA

Milei não citou o nome de Longobardi, mas pelo contexto ficou óbvio. Respondeu o jornalista: “Seus comentários foram tão impróprios e equivocados; no afã de criticar a imprensa, cometeu um erro de comunicação. Seja por mal-entendido, seja por má fé. Esta compulsão por tuitar leva você a postar algo que não tem nada a ver”.

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Milei está sendo processado por dois nomões do mundo da mídia, Jorge Fontevecchia, dono da Editora Perfil – “Vão quebrar, que bom”, comemorou o presidente -, e pelo jornalista mais conhecido do país, o impagável Jorge Lanata, cujas críticas ao peronismo da era K eram seguidas como uma novela.

Numa entrevista ao El País, Fontevecchia fez um vasto leque de críticas ao presidente, ao qual qualificou de “um pesadelo”.

“Milei é o paroxismo da polarização. Borges dizia que a Argentina sofre de hipérbole. Acho que Milei é o maior representante disso; é um produto claramente argentino. Parte do processo que levou à nossa decadência tem a ver com a polarização, com o contínuo aprofundamento dos extremos. Quero crer que Milei não é o começo de algo, mas sim o fim de uma época de decadência”.

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REMÉDIO DO ESQUECIMENTO

O permanente estado de agressividade, que o leva a ser processado por personalidades da mídia que não eram nada simpáticas à esquerda, conduziu o presidente, como definiu o jornal La Nación, a “coincidir num de seus últimos arrebatamentos verbais com Evo Morales, o autêntico líder da esquerda boliviana”.

A diferença, obviamente, é que “Evo Morales tem condições de denunciar um autogolpe em seu país; Milei é o presidente em exercício de outro país, vizinho da Bolívia e não pode (ou melhor, não deve) imiscuir-se em questões internas da Bolívia”.

Por causa das declarações oficiais, completamente desnecessárias, a Bolívia retirou sua embaixadora da Argentina.

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Sobre as críticas a Lula, embora admitindo a interferência na eleição presidencial e a escolha deliberada da tática de atacar Milei, o La Nación comentou que “o esquecimento seria o melhor remédio em se tratando do Brasil, o principal sócio comercial da Argentina”.

MODUS OPERANDI

Obviamente, o modus operandi de Milei é o de não só não esquecer nada, como dobrar a aposta, o que fez com sua anunciada vinda ao fórum conservador em Santa Catarina no qual estará presente Jair Bolsonaro.

Milei continua com uma aprovação impressionante, considerando-se o massacre do ajuste e do corte dos gastos públicos. Segundo pesquisa da CB Consultora, está no alto da lista dos presidentes sul-americanos, com 55,3% (Lula fica em terceiro, com 51,3%; o equatoriano Daniel Noboa fica entre os dois).

Por que não usar a tática di esquecimento, recomendada pelo La Nación? Estadistas praticam essa arte política muito bem.

O que está em jogo no dois países é enorme e muito mais grave na Argentina, onde não há espaço para piorar, como no vizinho.

O vizinho sofreu uma “intervenção” para moderar o tom e o dólar caiu – provando que os jornalistas cretinos tinham razão.

O dólar também se estabilizou na Argentina com o envio ao Congresso do orçamento para 2025 com elementos vitais da política a ser seguida: equilíbrio fiscal, assistência social sem intermediações (não através de organizações de esquerda como agora), modernização e simplificação do Estado, reequipamenito e modernização da forças de segurança e defesa. Se fizer pelo menos uma parte disso, Milei ganhará o direito de falar o que quiser. Até bobagens.

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