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Triste Natal: cristianismo no Oriente Médio, onde nasceu, está acabando

Perseguição de radicais muçulmanos e más condições de vida desidratam populações da região onde a tradição cristã remonta a dois mil anos

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 25 dez 2024, 09h14 - Publicado em 25 dez 2024, 08h43

Por essa via andou Jesus em Jerusalém, na estrada de Damasco São Paulo teve a visão que o converteu, São Marcos evangelizou o multimilenar Egito e São Pedro foi o primeiro bispo de Antióquia, na Turquia. Na região hoje conhecida como Oriente Médio expandido, o cristianismo nasceu e rapidamente se propagou. Nas últimas décadas, entrou em declínio, não por falta de fé, mas pela diáspora dos descendentes dos primeiros cristãos.

Na Síria, onde o incêndio criminoso de uma árvore de Natal simbolizou o perigo maior ainda que os cristãos enfrentam com a vitória de grupos jihadistas, o declínio é catastrófico. De 10% da população, os cristãos caíram para 2%. Durante a guerra civil, fugiram de áreas dominadas por grupos armados fundamentalistas cuja doutrina exige a perseguição aos cristãos e praticantes de outras religiões que não seja a muçulmana. Uma convivência de um milênio e meio se derreteu, repetindo o que aconteceu no Iraque pós-Saddam Hussein.

Por falta de opção, muitos cristãos sírios apoiaram o regime de Bashar Assad: era a única garantia de que poderiam praticar sua religião livremente, embora outras liberdades fossem tolhidas. Mesmo tendo se aproximado do Islã xiita e suas regras rígidas, para ter o apoio do Irã, a ditadura de Assad era secular e, originalmente, modernizadora.

Agora, o grupo jihadista que tomou o poder em Damasco (várias regiões sírias continuam por conta própria) diz que foram militantes estrangeiros que incendiaram a árvore de Natal numa praça pública perto da cidade de Hama e prometeu severa punição. Para demonstrar seriedade, anunciou que os dias 25 e 26 de dezembro passam a ser feriados nacionais.

O grupo rebelde quer passar uma imagem de moderação e de protetor da liberdade religiosa, mas muitos cristãos já estão pensando no próximo passo: deixar o país antes que as mulheres sejam obrigadas a usar o véu islâmico, as igrejas sejam fechadas ou até destruídas e lugares como bares e casas noturnas, onde se consome bebida alcoólica, tradicionalmente de propriedade de cristãos, recebam o selo da proibição.

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Narrativa de reconquista
Em Israel e nos territórios ocupados, que originalmente resistiram mais à expansão e à conquista muçulmana, o quadro é igualmente triste. Apesar das garantias fornecidas por Israel, existem tensões sobre posse de imóveis, mas é o fundamentalismo muçulmano a força mais deletéria.

Muitos cristãos militaram em organizações armadas e, por causa da proximidade com as ideias ocidentais, formaram grupos de inspiração comunista. Isso hoje é praticamente outro retrato na parede. Os militantes palestinos de origem muçulmana se reislamizaram e a narrativa dominante é a da reconquista de territórios muçulmanos, com a religião em sua variante fundamentalista se sobrepondo vastamente ao nacionalismo. Em Gaza, sobra uma única igreja católica.

Os coptas – ortodoxos e católicos – também estão refluindo no Egito. O aramaico, a língua de Jesus, pode simplesmente desaparecer das regiões do Iraque e da Síria onde ainda é falado.

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Caldeus e assírios, com vários milênios de história, antecedendo amplamente a conquista muçulmana, podem virar apenas referências bíblicas. No Líbano, recriado na era moderna para ser justamente o país dos maronitas católicos, a tendência também é de declínio.

Segundo alguns especialistas, a população cristã quando o Oriente Médio e o Norte da África estavam sob domínio otomano era de 20% – aumentando em lugares tradicionais como Belém e arredores. Em projeções para 2050, está abaixo dos 2%, uma realidade que já existe na Síria.

É essa a história que está por trás da árvore de Natal incendiada, um episódio que simboliza problemas passados e conflitos ainda por vir. Não existe hoje religião mais perseguida do que a praticada pelos seguidores do menino cujo nascimento é celebrado como o prenúncio da salvação que trouxe a todas as almas do mundo.

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