Surpresa, surpresa: algumas coisas estão dando certo no governo Trump
Ao contrário do que dizia a maioria dos prognósticos, há indicadores positivos na economia e a paz trumpiana tem chance de emplacar

Donald Trump quer bombar a economia e pacificar as regiões mais conflagradas do mundo. Parece óbvio, mas vale a pena dizer isso diante do tsunami de opiniões que sustentam o contrário – e de algumas decisões tão caprichosas que realmente pareciam autodestrutivas.
Alguns dados são positivos para a economia, como o índice de preços de Gastos para o Consumo Pessoal, que teve um aumento mensal de 0,1% e anual de 2,1% – o menor desde fevereiro de 2021. O índice é um dos indicadores de inflação considerados importantes, sem a volatilidade, por exemplo, dos preços dos alimentos.
O preço dos bens duráveis caiu 0,3% e o dos não-duráveis, 04%.
Outro indicador positivo: a renda pessoal subiu 0,8% em abril – quase o triplo das expectativas. Os cortes de impostos prometidos pela lei-ônibus, que inclui desde o orçamento até mudanças fiscais, vão “aumentar em milhares de dólares o rendimento anual das famílias”, disse Trump. É um processo complexo, contrabalançado por aumentos em outras despesas, mas não tem nada, por enquanto, das hordas de americanos empobrecidos e enfurecidos com o fim da festa de produtos chineses baratos que os críticos do presidente antecipavam.
Pelos cálculos do Conselho de Consultores Econômicos, a renda média anual de um casal padrão com dois filhos pode aumentar de 7,8 mil a 13,3 mil dólares, uma boa diferença. Será um contrapeso para a pior notícia de todas, a contração do PIB em 0,3% no primeiro trimestre – e isso ainda sem o pleno impacto do tarifaço.
ALEGRIA DA PEÃOZADA
Trump também celebrou o acordo entre a U.S. Steel e a Nippon Steel trazendo de volta o que parecia impossível, a produção de aço, com grandes investimentos dos japoneses. Até políticos democratas elogiaram o acordo, com a garantia de que “a U.S. Steel será controlada pelos Estados Unidos”. Para quem achava que esta fase da industrialização jamais voltaria, Trump demonstrou o contrário e a euforia de trabalhadores siderúrgicos da Pensilvânia marca um ponto extra, acrescida da tarifa extra de 50% para o aço importado, para alegria da peãozada.
Na política externa, os contornos da pax trumpiana estão ficando claros e mostram um gosto pela quebra de regras que pareciam definitivas. Quem imaginaria que Trump se reuniria com o novo presidente da Síria, que há menos de seis meses estava dando tiros com seu bando rebelde islamista? Ou que fizesse um acordo com os hutis do Iêmen para não bombardeá-los em troca de que não ataquem a navegação internacional no Mar Vermelho – mas sem incluir Israel no pacote?
A influência de países como Arábia Saudita, Catar e Emirados Árabes Unidos, cheios de uma palavra que Trump adora – investimentos – é um fator que pode contar numa mudança nas regras do jogo. Todos têm interesses em comum: acalmar o Oriente Médio, neutralizar o poder nuclear do Irã e, digamos, persuadir Israel a ceder na infernalmente complicada questão de Gaza, sem que isso signifique um Hamas triunfante.
Muitos não davam nada por Steve Witkoff, o investidor imobiliário que Trump colocou como resolvedor dos maiores problemas do mundo, mas ele tem mostrado resultados.
CICLO ISOLACIONISTA
A guerra na Ucrânia é o menos promissor dos projetos porque Vladimir Putin não quer paz coisíssima nenhuma: está em vantagem, militarmente, apesar de golpes espetaculares como o ataque em massa de ontem contra quatro bases aéreas russas, com drones infiltrados em caixotes de madeira de cobertura retrátil transportados por caminhões.
O Hamas muito provavelmente vai acabar concordando com o acordo colocado na mesa por Witkoff (sessenta dias de cessar-fogo, libertação de dez reféns vivos e entrega dos corpos de dezoito mortos).
Poderá o Irã resistir à pressão americana e continuar enriquecendo urânio, seu caminho para a bombar nuclear? Trump até agora tem tido palavras de otimismo, mas a ameaça de um bombardeio como alternativa ao entendimento corre o risco de perder efetividade. Os interlocutores iranianos são astutos e entendem muito bem o novo ciclo isolacionista: Trump não quer se envolver em nenhuma aventura militar no exterior.
Ainda é cedo para dizer se ele vai escapar dessa “síndrome de superpotência” e se conseguirá pacificar conflitos tão extremos. Mas, por enquanto, a turma segundo a qual não havia a menor chance de que Trump desse certo não está empilhando argumentos.