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Ser rico demais atrapalha a carreira política? O caso de Rishi Sunak

Com fortuna própria, além de uma mulher “mais rica do que a rainha”, o ministro das Finanças do Reino Unido descobre que dinheiro demais é problema

Por Vilma Gryzinski 12 abr 2022, 05h46

Os muito ricos são diferentes de mim e de você, inclusive porque contratam os melhores especialistas para otimizar o pagamento de impostos.

Ou pagar o mínimo possível, dentro da lei – quem não gostaria de poder fazer o mesmo?

O problema é quando práticas assim entram em conflito com carreiras na política. Aconteceu com Donald Trump, com declarações de rendimento que continuam sob sigilo, cercadas de suspeitas de que ele conseguiu pagar menos do que devia. E está acontecendo com Rishi Sunak, o ministro das Finanças que chegou a ser o mais cotado para substituir Boris Johnson no comando do Partido Conservador e do governo britânico.

Rishi, que tem a vantagem de ser conhecido pelo primeiro nome, é rico por direito próprio: conseguiu uma fortuna de 260 milhões de dólares trabalhando no mercado financeiro antes de entrar para a política. 

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Muitos eleitores já se sentem desconfortáveis com esse nível de dinheiro, ainda mais em relação a um ministro cuja função é tentar equilibrar o orçamento depois da gastança provocada pela pandemia e que não teve dó na hora de aumentar a contribuição para o equivalente ao INSS de patrões e empregados num momento de inflação alta e renda em baixa.

Mas as encrencas se acumularam depois de revelações constrangedoras sobre a mulher dele, Akshata Murty

Como filha do bilionário Narayana Murty, dono da gigante multinacional da informática Infosys e conhecido como “o Bill Gates da Índia”, ela tem uma fortuna de 900 milhões de dólares. O que a torna “mais rica do que a rainha”, como rotularam os tabloides assim que veio à tona uma complicada revelação sigilosa sobre a mulher do ministro: ela não tem domicílio fiscal no Reino Unido. Portanto, não paga impostos nos domínios onde seu marido tem o tradicional título de “Chancellor of the Exchequer”, o guardião do caixa do governo. Há uma certeza generalizada de que o arranjo é altamente benéfico para Akshata.

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Mais: ela tinha investimentos na Rússia, o maior anátema dos tempos atuais. E mais ainda: Rishi Sunak manteve seu green card, o documento de residência legal nos Estados Unidos, onde ele e a mulher se conheceram quando faziam pós-graduação em Stanford, até um ano depois de nomeado para o segundo cargo mais importante do governo. Possivelmente o green card  foi obtido através da porta de entrada para os ricos: investimento de um milhão de dólares que gere pelo menos dez empregos nos Estados Unidos.

O Partido Conservador carrega a fama de ser o “partido dos ricos”, mas nem sempre seus líderes são do topo da pirâmide de renda. Boris Johnson, por exemplo, tem sotaque e formação de elite – Eton e Oxford -, mas pouco dinheiro, o que o leva a viver aceitando favores altamente discutíveis, como viagens de férias em mansões de milionários amigos e verbas para redecorar a residência oficial, no andar de cima do sobrado número dez de Downing Street.

Ter dinheiro pode ser uma vantagem – “Pelo menos não está lá para roubar” – ou contar pontos contra quando o político parece muito desligado da realidade – “Quanto custa um pãozinho?”, é a pegadinha clássica.

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O rótulo de “presidente dos ricos” colou em Emmanuel Macron, que agora está prometendo dinheiro como um marinheiro bêbado a aposentados e assalariados de baixa renda para garantir a reeleição no segundo turno na França, no próximo dia 24.

No caso de Donald Trump, seus simpatizantes mais ardorosos encararam a carreira política como uma prova de abnegação: ele não precisava meter a mão na massa, mas fez isso para engrandecer a América. Outros presidentes americanos milionários, como Franklin Roosevelt, John Kennedy e Lyndon Johnson criaram a imagem de defensores dos menos privilegiados.

Antes que a revelações constrangedoras sobre Rishi Sunak viessem à tona, ele já estava perdendo pontos por bobagens, embora simbólicas, como usar um tênis de mais de 400 dólares (da marca Common Projects, de couro branco com um número de série folhado a ouro) e emprestar um Kia de um integrante de sua equipe para ser fotografado colocando gasolina que agora tem um pequeno subsídio do governo (na hora de pagar, aproximou o cartão do leitor de código de barras, dando a entender que não está acostumado ao ritual).

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Rishi usa um Gol, mas os incontroláveis tabloides descobriram que tem também um Range Rover, além de um Lexus elétrico e um BMW no seu domicílio americano.

Ter dinheiro, no caso de ministros da Economia ou presidentes de bancos centrais, é geralmente considerado um ponto positivo, uma prova de que sabem como funcionam os mecanismos financeiros, inclusive os truques das feras do mercado.

O importante é isolar suas fortunas em “fundos cegos”, nos quais não saberão como as decisões que tomam na condição de ministros afetam os próprios portfólios – embora os céticos acreditem que fazem uma ideia muito boa de onde o dinheiro está.

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Até isso está sendo discutido em relação a Rishi Sunak, um sinal de que sua carreira política não parece muito promissora. Ele sempre terá a alternativa de largar a política, ir morar na cobertura que tem em Santa Monica e ganhar dinheiro “sério” no universo da alta tecnologia, onde o sogro já lhe dá uma porta de entrada de luxo.

Não será um castigo excepcionalmente severo, mas o Partido Conservador perderá um nome que parecia uma alternativa boa no caso de uma derrocada de Boris Johnson, ainda enrolado no caso das festinhas durante a pandemia, e a chance de eleger o primeiro chefe de governo de origem indiana.

Se a eleição fosse agora, o Partido Conservador teria 35% dos votos e o Trabalhista, 37%, um baque atribuído principalmente ao comportamento errático de Boris Johnson, mas também ao problema comum a quase todas as economias pós-pandêmicas: inflação, gasolina cara e queda no padrão de vida.

Rishi Sunak nunca virá a mostrar que era o homem certo para resolver essa encrenca.

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