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Seleção feminina espanhola: teria brincadeira virado acusação de abuso?

Pelos indícios apresentados até agora, um selinho infeliz de um homem mal comportado foi transformado em causa feminista mundial

Por Vilma Gryzinski 1 set 2023, 08h29

Um dos homens mais difíceis de defender no momento é Luiz Rubiales, o presidente da Federação Espanhola de Futebol.

Pode ser que apareçam casos comprometedores de abuso sexual e de orgias financiadas por dinheiro da Fifa (se forem autossustentáveis, entre adultos e consentidas, ainda não estão na categoria proibida).

Mas é dos casos difíceis que o senso fundamental de justiça precisa se ocupar, principalmente se um episódio de comemoração excessivamente eufórica estiver sendo transformado numa causa “feminista” em que o culpado é julgado, condenado e castigado pela opinião pública.

O que Rubiales fez na celebração da conquista do título mundial feminino? Abraçou longamente a jogadora Jenni Hermoso, pulou com as pernas abertas sobre a cintura dela, segurou seu rosto com as duas mãos e culminou tudo com um selinho.

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“Argh”, pensarão muitas mulheres, numa sensação de repulsa que aumenta quando se sabe que, pouco depois, ele tocou nos próprios genitais, num gesto de machismo primal, para comemorar o anúncio da vitória espanhola. Ainda por cima, estava ao lado de Letícia, a jornalista que virou rainha, e da filha adolescente dela, Sofía.

Mas ser inconveniente e grosso por acaso é crime?

Jenni Hermoso não se comportou, absolutamente, como se sentisse ofendida. Um novo vídeo divulgado por Rubiales mostra a jogadora no ônibus do time, feliz e tomando champanhe no gargalo – está aí uma situação justificada para isso -, enquanto as colegas brincam com a cena do selinho. “Beijo, beijo, beijo”, brincam as jogadoras. Jenni Hermoso dá risada e faz comentários jocosos. Quando entoam “presi, presi”, em homenagem ao presidente, Rubiales também ri e pede: “Parem, que fico com vergonha”.

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A ofensa veio de fora para dentro e Jenni acabou aderindo, depois de três dia, num processo crescente que culminou com a ameaça de demissão de todas as jogadoras do universo enquanto Rubiales não for queimado na fogueira e suas cinzas pisoteadas pela ministra da Igualdade, Irene Montero, a chefe da inquisição que pediu um processo criminal- talvez, para os que são um pouco cínicos, alimentada pela indefinição política na Espanha, onde ainda não se sabe se o atual governo socialista continua ou não.

Como Rubiales disse que não vai pedir demissão, em circunstância alguma, criou-se o impasse, com toques de dramalhão, como a breve greve de fome de sua mãe, uma modesta cabeleireira aposentada, numa igreja da cidadezinha onde mora.

O episódio todo deve ser visto, por quem pretende ter uma posição equilibrada e não ditada por modismos ou slogans, com uma espécie de dosimetria. Se uma mulher está andando na rua ou dançando num bloco de carnaval e um homem segura sua cabeça e lhe dá um beijo na boca, mesmo que sem língua envolvida, é uma agressão sexual. Se os dois estão euforicamente se abraçando para comemorar a melhor das vitórias, com os corpos colados e outros sinais de linguagem corporal coordenada, não significa que tenha uma conotação sexual – o que, inclusive, seria difícil no caso de Jenni, que tem outras preferências.

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Mais um vídeo para a montagem de um caso complexo: no vestiário, as jogadoras brincam que Jenni e Rubiales vão se casar em Ibiza, o centro universal da balada. Todo mundo dá risada. Os dois envolvidos jocosamente dizem que não podem.

Na verdade, as jogadoras foram sozinhas para Ibiza, comemorando a vitória num iate onde não havia o menor traço de presença masculina, uma escolha alegremente assumida delas.

“Não gostei”, disse Jenni sobre o beijo, primeiro em tom de brincadeira e depois, à medida em que se transformava em heroína feminista, de um jeito mais sério.

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Com o surgimento dos novos vídeos, os jornais que exigiam a imolação sem recurso de Rubiales agora estão propondo que o feito da seleção feminina deixe de ser eclipsado pelo caso do beijo. Em suma, estão desconversando.

De qualquer maneira que seja julgado, Rubiales não tem condições de continuar no cargo do qual foi suspenso. Outros episódios ainda podem vir a público. Pelo que foi visto até agora, ele virou um bode expiatório dos erros do passado, quando tantas mulheres eram desrespeitadas e abusadas sem que sua palavra fosse levada em conta, frequentemente no mundo do esporte, onde a proximidade física aumenta as chances de abuso. Isso é horrível e causa revolta em todas as mulheres, quer tenham ou não sido alvo de avanços masculinos agressivos.

Mas não pode justificar que a verdade seja manipulada ou distorcida para condenar alguém por um crime não comprovado, mesmo que o tal alguém seja “muito arrogante”, “sexista” e “obcecado por luxo e riqueza”, segundo o próprio tio, Juan Rubiales. Nada disso é crime.

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Segundo o tio, Rubiales “precisa de um programa de reeducação social”. Que tal? Soa como a China da Revolução Cultural?

As imagens vistas até agora formam um quadro sujeito à interpretação subjetiva de quem as observa.

Pelos princípios básicos da justiça, ninguém pode ser condenado por interpretação subjetiva.

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