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Se Joe Biden tiver Parkinson, a reação do público americano será brutal

Inclusive contra a mídia simpática aos democratas que acobertou os sinais de deterioração e o círculo de assessores simplesmente mentirosos

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 11 jul 2024, 07h00 - Publicado em 11 jul 2024, 06h59

Os americanos são um povo estranho: esperam que os políticos digam a verdade. Revoltaram-se com as mentiras de Bill Clinton sobre o caso com Monica Levinsky (“Nunca tive relações sexuais com essa mulher”, depois mudado para uma discussão bizantina sobre se sexo oral se enquadrava na categoria). Como reagirão se descobrirem que uma verdadeira conspiração de mentiras, inclusive por parte de grandes órgãos de comunicação, impediu durante um bom tempo que a verdade sobre a saúde mental de Joe Biden ficasse evidente?

Os fatos são indesmentíveis: basta checar as declarações de líderes do Partido Democrata e os títulos de jornais e canais de televisão, desmentindo os nossos próprios olhos. Recentemente, foram “desmentidos” os vídeos em que o presidente parece perdido em duas ocasiões, tentando se sentar nas comemorações do Desembarque na Normandia e sendo levado de volta ao grupo de líderes do G7 pela primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni.

A porteira estourou depois do fatídico debate, embora as mentiras continuem. A porta-voz presidencial, Karine Jean Pierre, chegou a gritar com jornalistas, subitamente ativos, que faziam perguntas sobre as oito visitas registradas de um especialista em Parkinson, Kevin Cannard, à Casa Branca.

Mentiu, mentiu e mentiu mais um pouco. O chefe da equipe médica de Biden, Kevin O’Connor, também mentiu: disse que Cannard era um consultor de neurologia que dava “apoio a milhares de milhares de militares da ativa destacados para operações na Casa Branca”.

Nenhum militar pode servir nas Forças Armadas se tiver doenças neurológicas degenerativas.

A mentirosa porta-voz depois admitiu que o neurologista fazia parte da equipe que cuida do presidente e fez três consultas com ele.

TÊNIS COM TERNO

É errado fazer diagnósticos à distância, uma regra desrespeitada por eminentes psiquiatras e psicólogos que atribuíram a Donald Trump, quando era presidente, traços como narcisismo e psicose.

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Mas a situação de Biden é uma emergência nacional e internacional. A visita do neurologista disseminou a ideia, não confirmada, de que o presidente está com Parkinson. Em entrevista à rede NBC, o neurologista Tom Llamas disse que poderia diagnosticar a doença degenerativa só de “estar do outro lado da sala” com Biden.

Sintomas mais evidentes: hipofonia, ou falar em tom muito baixo, quase inaudível; falhas de memória; passo arrastado, rosto paralisado, rosto congelado por expressão que parece máscara e rigidez corporal. Por exemplo, se o doente vira de lado, o movimento de cabeça, ombros e tronco segue uma linha só, com musculatura numa torção antinatural.

Todos já viram isso tudo nos tropeços, tombos, discursos confusos e súbitos “congelamentos” do presidente. Viram que ele passou a usar tênis de solado bem alto, da marca Hoka, para não cair, mesmo com terno e gravata.

“DEVORADO POR CANIBAIS”

Viram que passou a entrar pela porta mais baixa do avião presidencial, o Air Force One, para evitar os frequentes tropeços na escada.

Viram que confundiu o presidente do México com o do Egito. Que mentiu, ou fantasiou dizer a verdade, sobre um tio derrubado no Pacífico durante a II Guerra Mundial e “devorado por canibais”. Que disse ter estado nas Torres Gêmeas derrubadas no Onze de Setembro “um dia depois” do ataque terrorista. Mentiu até que seu amado filho, Beau Biden, foi morto no Iraque – na verdade, foi vítima de um câncer no cérebro, uma história contada pelo então vice-presidente num livro.

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Viram também as desculpas. Estava com neuropatia nos pés, uma condição dolorosa mas longe de incapacitante. Não queria pregar a derrubada de Vladimir Putin quando disse que “ele tem que sair”, Esteve nas Torres Gêmeas nove dias depois de sua derrubada, deve ter sido um pequeno engano de datas sobre o acontecimento mais importante da história recente do país. E, claro, era tudo maldade dos trumpistas ensandecidos.

As mentiras não só continuaram como aumentaram depois do fatídico debate. Uma radialista foi demitida por dar uma entrevista confirmando que as perguntas feitas ao presidente haviam sido enviadas pela Casa Branca. Seu erro foi admitir a armação, execrável pelas regras do jornalismo honesto, mas frequentemente praticada por vários dos principais repórteres que cobrem a Casa Branca.

CREDIBILIDADE ESTILHAÇADA

Mais de uma vez, foi fotografado o cartão em letras bem grandes usado por Biden nas poucas e curtas entrevistas coletivas, com o nome do repórter de grandes agências e outros veículos importantes mostrando qual seria a pergunta de fulano de tal e como deveria responder.

Em suma, cumplicidade no crime. Jornalistas podem adiantar a assessores “vamos falar sobre tal e tal assunto”, mas não passar suas perguntas e, muito menos, ouvir respostas pré-fabricadas, como as lidas por Biden em entrevistas a amigos como Joe Scarboroough, da MSNBC – amigos de verdade, de se frequentar.

Agindo como porta-voz oficioso, o apresentador do programa Morning Joe criticou “o pessoal de Obama” que “há anos constantemente ridiculariza e zomba” do presidente. Um recado, obviamente, do próprio Biden, Até Nancy Pelosi, uma figura do panteão democrata como ex-presidente da Câmara, ela própria com 84 anos, desconversou sobre uma declaração direta de apoio a Biden. Chuck Schumer, líder da maioria no Senado, está “inalizando abertura” a uma candidatura alternativa. George Clooney ganhou espaço no New York Times para enfiar o punhal e dizer que, em fevereiro, Biden já parecia o homem doente que todos viram no debate.

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Onde estavam todos até muito, muito recentemente?

A credibilidade estilhaçada dos políticos e jornalistas cúmplices será uma das consequências graves da crise atual.

Para lembrar: Bill Clinton escapou do impeachment, mas foi temporariamente cassado da Ordem dos Advogados por mentir num depoimento oficial sobre as aventuras no Gabinete Oval com estagiária Monica Levinsky.

Qual a gravidade disso? A mentira em si, não as estripulias sexuais.

QUEM ESTÁ NO COMANDO?

Os democratas foram punidos nas urnas com a eleição, para suceder Clinton, de George W. Bush. Integrantes do governo que saía fizeram a baixaria de arrancar as teclas com a letra b em máquinas de escrever da Casa Branca.

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Sim, existiam máquinas de escrever e não o pronto e maciço acesso a todas as informações que expõe irretorquivelmente a doença, de Parkinson ou alguma outra condição similar, sofrida por Biden.

O mal de Parkinson, que afeta uma área específica do cérebro, é a segunda principal causa de doenças degenerativas na mistura de hardware e software que comanda nosso corpo. É tratável, mas não curável. Leva à morte, mais frequentemente, ao interferir no mecanismo muscular e causar pneumonia por aspiração de água, alimentos ou fluídos.

Biden está fazendo uma campanha intensa, ou tão intensa quanto consegue, para continuar na disputa pela reeleição e ficar mais quatro anos na Casa Branca, algo simplesmente impossível por qualquer critério que se use.

As perguntas atuais são de dar calafrios: quanto tempo ele vai resistir, qual será o castigo para os democratas e, principalmente, quem está tomando as decisões e mandando no governo da única hiperpotência do planeta.

Biden não é.

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