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Se Israel disparasse 180 mísseis contra o Irã, seria proporcional?

Todos pedem moderação na resposta israelense e, se não quisermos escalar o conflito, isso é mesmo necessário - mas também é injusto

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 4 out 2024, 21h39 - Publicado em 4 out 2024, 06h36

As leis que regem o Oriente Médio são anteriores às camadas de civilização que o Ocidente colocou sobre as pulsões primárias que sempre dominaram o mundo. Não são muito diferentes do que vemos nas prisões: quem não for forte ou procurar proteção dos presos dominantes, será explorado, intimidado ou coisa pior. É, em resumo, a lei do mais forte.

Como um dos menores países da região, com apenas 22 mil quilômetros quadrados e, ainda por cima, nenhum petróleo, como os micro-estados do Golfo, Israel vive uma contradição permanente. A maioria da população se identifica com valores ocidentais, a economia hoje é movida a startups – a economia da inteligência – e as Forças de Defesa de Israel estão cheias de soldados veganos e woke. Mas que se movem num meio-ambiente onde a força, a astúcia e a ousadia sempre são os fatores que mais pesam.

Nesse pano de fundo, qual deveria ser a reação de Israel aos 181 mísseis balísticos disparados pelo Irã na terça-feira? Os Estados Unidos pedem moderação e a explícita eliminação da lista de alvos as instalações nucleares do Irã, onde se gesta a bomba atômica que mudará a equação geoestratégica da região. O temor de que ataques contra instalações petrolíferas propulsionem uma alta do óleo, derrubando as bolsas – e também as economias que vivem no fio de navalha – clama pela exclusão desse alvos.

Pela lógica sem mediação moral ou política, Israel poderia disparar 180 mísseis contra o Irã, dirigidos a alvos militares e populações civis, exatamente como foi feito pelo regime dos aiatolás. Como o aparato bélico de Israel é superior ao do Irã, muitos dos mísseis atingiriam os alvos. Afinal não foi para isso que foram feitos?

Isso não vai acontecer e os israelenses sabem disso, inclusive os que pedem uma retaliação arrasadora.

FRACASSO SUBIU À CABEÇA

Onde estão, agora, os defensores de “reação proporcional”?

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Sumiram.

Ou talvez estejam comemorando com os poucos iranianos para os quais o fracasso subiu à cabeça e foram às ruas celebrar o ataque de terça-feira como um sucesso, não obstante não tenham causado nenhum dano digno de nota e a única vítima tenha sido um palestino que andava pela rua, sem dar ouvidos aos avisos de cautela, sendo atingido pela carcaça de um míssil, perto da bíblica Jericó.

Israel era um país intimidado e traumatizado há um ano, quando militantes dos Hamas e moradores comuns de Gaza entraram em localidades israelenses para chacinar homens, mulheres e crianças, num total de 1,2 mil vítimas.

Muitos consideraram a reação de Israel desproporcional, em razão das vítimas, na casa de dezenas de milhares, na Faixa de Gaza. O Hamas opera nos subterrâneo, literalmente, e usa casas, escolas, hospitais e mesquitas como bases. É extremamente lamentável, mas não há outro jeito de alcançar seus militantes armados sem atingir a população civil.

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ENTERRADO VIVO

É para proteger a população civil que todos os organismos estatais ou paraestatais deveriam fazer de tudo para evitar a guerra.

O Hamas, ao contrário, a provocou deliberadamente. Hoje está dizimado, mas ainda parcialmente operacional, sob a liderança de Yahya Sinwar, no passado o encarregado de identificar colaboradores de Israel escondidos nas fileiras da organização fundamentalista. Ele pessoalmente torturava suspeitos com navalhas e facões. Enterrou um deles vivo, na frente do irmão. Como combater um homem assim?

Entre as várias ações que representaram vitórias impressionantes para Israel no combate ao outro inimigo fronteiriço, o Hezbollah, as Forças de Defesa de Israel disseram ontem que o principal colaborador de Sinwar, Rawhi Mustaba, foi identificado como um dos mortos numa operação de Gaza há três meses. Outros dois comandantes foram mortos com ele.

No Líbano, foi morto o comandante do Hezbollah que mandou disparar o foguete que matou doze crianças da minoria drusa, etnicamente árabes, na localidade de Majdal Shams. Também é possível que o substituto ainda não oficializado de Hassan Nasrallah, seu quase clone Hashem Safieddine tenha cometido o mesmo erro de se reunir num bunker subterrâneo de Beirute, achando que as bombas israelenses não o encontrariam,

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PODER DE DISSUASÃO

Outro cancelado: Aziz Salha, fotografado orgulhosamente mostrando as mãos cobertas de sangue de dois soldados israelenses que, por engano, haviam entrado na cidade de Ramallah. Uma multidão os chacinou, sobrepujando os policiais palestinos que tentavam mantê-los em segurança. O brutal episódio ocorreu em 2000 e foi uma espécie de prenúncio do que aconteceria 23 anos depois, nas localidades da fronteira com Gaza, com cidadãos comuns estuprando e massacrando moradores israelenses.

Assim vai o país recuperando o poder de dissuasão, nome chique da lei do mais forte.

Como vai reagir ao ataque do Irã? “Estamos discutindo isso”, disse Joe Biden, mais do que um pato manco, um pato quase totalmente imobilizado – mas ainda firme na defesa de Israel, apesar das pressões nem sempre bem sucedidas.

No momento, ele tem que pressionar, com todo o poder dos Estados Unidos, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e o aparato de segurança de Israel a modular a represália ao Irã, numa mistura quase impossível de força e moderação ao mesmo tempo.

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Como não serão disparados quase 200 mísseis para matar civis inocentes, ela não será proporcional. É injusto? Haverá israelenses que digam que sim.

Mas uma escalada rumo à guerra total seria muito pior.

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