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Salvando o soldado Azaria: maioria dos israelenses defende perdão

Ele executou um palestino que havia esfaqueado um colega, foi julgado e considerado culpado, mas o caso ainda está longe de acabar

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 30 jul 2020, 21h04 - Publicado em 6 jan 2017, 16h00

Numa comparação com o Brasil, seria como se um policial tivesse matado um assaltante já “deitado” – ferido e imobilizado. Não é absurdo imaginar que a maioria dos brasileiros daria razão ao policial. 

Como nada é simples em Israel,  o caso do sargento Elor Azaria tem desdobramentos que vão além do habitual confronto entre os partidários  do estado de direito em todas as suas exigências e os defensores da mão dura, e até ilegal, contra os que os atacam e, quando podem, matam. 

No dia 24 de março do ano passado, dois palestinos atacaram a facadas um soldado israelense em Hebron, um dos lugares mais complicados dos territórios palestinos. Na reação, um deles foi morto na hora e o outro, baleado, ficou caído na rua. 

O sargento Elor Azaria, de 19 anos, paramédico do Exército, chegou ao local e ficou indignado. “Ele feriu meu amigo, merece morrer”, disse para um colega, que o acalmou dizendo que o soldado esfaqueado tinha sofrido ferimentos leves. Não funcionou: Azaria armou o fuzil e acertou uma bala na cabeça de Abdel Fattah Al-Sharif. 

Os militares presentes na cena não parecem nem um pouco preocupados. Sabemos disso porque tudo foi registrado em vídeo por um militante palestino e divulgado pelo B’Tselem, uma organização esquerdista de defesa dos direitos humanos. 

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Por causa do vídeo, o caso teve grande repercussão, muitas vezes distorcida: as notícias sobre a  execução ilegal costumam passar por cima do motivo pelo qual Sharif havia sido imobilizado. 

Levado a julgamento em tribunal militar, Azaria foi considerado culpado na quarta-feira passada pelos quatro juízes que desmontaram suas alegações, como a de que temia que Sharif tivesse uma bomba escondida debaixo do casaco. 

A sentença ainda não saiu, mas o caso já provocou grandes estragos. Um dos maiores foi a queda de Moshe Yaalon como ministro da Defesa. Yaalon condenou o crime de Azaria  do ponto de vista moral, legal e hierárquico. Um soldado que age por conta própria é um dos maiores perigos para qualquer organização militar. 

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Yaalon disse que, depois de ver o video, ele, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e o general Gadi Eisenkot, chefe do Estado Maior das Forças Armadas, decidiram “dar uma resposta dizendo que condenávamos o incidente e, a partir daí, os procedimentos legais foram acionados”. Netanyahu, afirmou, depois “mudou de lado”. 

Agora, o primeiro-ministro defende que Azaria seja anistiado. E é fácil perceber os motivos: 67% dos israelenses concordam com o perdão oficial ao soldado. Surpreendentemente, a deputada Shelly  Yachimovitch, ex-jornalista que liderou a oposição trabalhista de esquerda, também apoia o perdão. Seria como se uma ex-ministra dos Direitos Humanos do PT defendesse o policial hipotético mencionado lá no início. 

Durante o julgamento, o pai, que depois sofreu um derrame,  e a mãe de Azaria foram fotografados várias vezes abraçando o filho, enfatizando a imagem de juventude do soldado. É claro que muitos israelenses cujos filhos e filhas fazem o serviço militar obrigatório se identificaram com as cenas. 

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Azaria é de uma familia de mizrahim, como são chamados os judeus provenientes de países árabes. Os mizrahim se mesclam aos sefarditas, designação dada aos judeus expulsos da Espanha e de Portugal. Mais ricos e cultos, eles impressionaram os judeus dos países orientais, que acabaram incorporando suas práticas religiosas. 

Os “judeus árabes” de forma geral são mais pobres, menos instruídos e  muito mais à direita do que os descendentes dos ashkenazi, os judeus provenientes da Europa central e do Leste. Existe uma tensão intrínseca entre as duas populações, hoje praticamente equilibradas em 50% para cada lado. 

Os mizrahim mais radicais são aqueles que aparecem gritando “Morte aos árabes” e “Maomé está morto”, entre outras provocações.  Não são muito diferentes dos fundamentalistas de origem ashkenazi que moram em assentamentos instalados em cidades palestinas com o objetivo especifico de proclamar o direito divino sobre toda a antiga terra de Israel. Hebron, onde aconteceu o caso Azaria, é uma dessas cidades. 

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Depois de atirar no palestino esfaqueado, Azaria foi filmado cumprimentando Baruch Marzel, do Kach, um movimento politico extremista criado por Meir Kahane, assassinado em 1990. A ideologia fundamentalista de Kahane inspirou Yigal Amir a assassinar o primeiro-ministro Yitzhak Rabin em 4 de novembro de 1995.

Amir, que é de uma família de judeus iemenitas, casou-se na prisão, teve um filho e continua a se orgulhar de ter matado um politico que, de seu ponto de vista, havia traído Israel ao devolver territórios palestinos. 

Nos protestos contra a condenação de Elor Azaria, os mais exaltados gritavam: “Gadi, tome cuidado, Rabin está procurando um amigo”. A ameaça nada sutil foi dirigida ao já mencionado  Gadi Eisenkot. O chefe do Estado Maior também é mizrahi, mas isso conta menos do que seu apoio aos procedimentos legais contra Azaria. 

Os quatro integrantes do tribunal militar também receberam ameaças de morte. Se depender de um perdão do presidente Reuven Rivlin, Elor Azaria dificilmente sairá livre. A tensão tenderá a diminuir com o tempo, mas as divergências de fundo permanecerão. 

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