Resumo da política externa de Trump: ‘Não quero que as pessoas morram’
É fácil ser a favor dos princípios que o futuro presidente enunciou – difícil é encontrar os caminhos para que isso aconteça
Donald Trump tem dado várias entrevistas a jornalistas não amigos – e tem se saído razoavelmente bem ao explicar sua visão para o governo que assume em 20 de janeiro. À revista Time, que o escolheu como pessoa do ano, ele falou mais longamente sobre política externa e os dois grandes conflitos que acontecem no momento: o de Gaza, com todo o Oriente Médio como pano de fundo, e o da Ucrânia, provocado pela invasão russa.
Para ambos, ele promete soluções, considerando o do Oriente Médio o “mais fácil” – contra as opiniões de praticamente o resto da humanidade.
Algumas de suas considerações, condensadas:
. “Os números de pessoas mortas são estarrecedores, tanto russos quanto ucranianos, e suas quantidades são bastante equiparadas. É uma loucura o que está acontecendo.”
. “Eu discordo muito veementemente de lançar mísseis a centenas de milhas adentro do território russo. Por que estamos fazendo isso? Estamos apenas escalando a guerra e a tornando pior. É um erro muito grande.” Foi a declaração mais forte que ele já fez para condenar o uso em território russo de mísseis do tipo Atacm, autorizado por Joe Biden em resposta à mobilização de soldados norte-coreanos para lutar do lado dos russos.
. Isso significa que a Ucrânia será abandonada, ou seja, impedida, pela falta de ajuda, de continuar a lutar? “Eu quero conseguir um acordo e o único jeito de fazer isso é não abandonar. Nunca deveria ter acontecido. Quando os verdadeiros números (de mortes) forem revelados, vocês não vão acreditar.”
. E a guerra de Gaza? “Acho que o Oriente Médio é um problema muito mais fácil de administrar do que o que está acontecendo com a Rússia e a Ucrânia.”
. “Foi uma coisa horrível. O 7 de Outubro foi uma coisa horrível. Todo mundo está convenientemente se esquecendo do 7 de Outubro, mas foi um dia horrível, não para Israel, mas para o mundo.”
. “Eu quero que tudo isso acabe. Não quero que as pessoas morram. Não quero que as pessoas de nenhum dos lados sejam mortas, seja Rússia ou Ucrânia, sejam os palestinos ou os israelenses ou todas as diferentes entidades que temos no Oriente Médio.”
. Apoiaria um plano de dois estados, um dos quais palestino? “Apoio qualquer solução que for para termos a paz. Existem outras ideias que não sejam os dois estados, mas apoio o que for necessário para ter uma paz duradoura. Não podemos continuar assim, quando a cada cinco anos acontece uma tragédia.”
. “Gostaria que todo mundo ficasse feliz. Que todo mundo tocasse a vida e as pessoas parassem de morrer.”
. E Trump confia em Benjamin Netanyahu?
“Eu não confio em ninguém”, respondeu, com o habitual realismo.
Trump obviamente não quer dar detalhes sobre seus planos, mas o que tem em mente não é coisa de um incendiário maluco que sonha tocar fogo no mundo, como a imagem caricatural que os adversários fazem dele.
Querer que as pessoas vivam e toquem suas vidas parece até um projeto bastante razoável, por mais que a aparente facilidade que ele denote seja na prática extremamente complicada.
Mas se não for o presidente dos Estados Unidos, quem tem cacife para promover soluções pacíficas? Certamente não os Brics.
Será a Ucrânia traída nesse processo? A realidade no campo de batalha indica que as perdas territoriais para a Rússia não pode ser revertidas. Uma tremenda injustiça, pela qual a Ucrânia tem que ser compensada.
A Rússia também está enfraquecida pela fulminante “perda” da Síria e talvez seja um bom momento para atraí-la à mesa da paz. Ou talvez Vladimir Putin precise compensar a humilhação com mais agressividade na Ucrânia. As habilidades transacionais de que Trump tanto se gaba serão postas à prova como nunca antes.