Príncipe Harry: “William quebrou minha correntinha”; “Matei 25 talibãs”
Entre o ridículo e o bombástico, intimidades da família são constrangedoras, ainda mais quando o objetivo é a autopromoção com fins de vantagem comercial
O príncipe Harry é um homem de 38 anos, embora continue a se comportar como um adolescente rebelde.
Durante muito tempo, a instabilidade emocional dele foi perdoada pela opinião pública britânica pelos motivos óbvios: havia perdido tragicamente a mãe com apenas doze anos, tentava encontrar seu lugar como o segundo filho numa família real em que o irmão mais velho, herdeiro do trono, era a figura mais importante e se dava pessimamente com a imprensa.
Essa boa vontade foi queimada há muito tempo e agora dá lugar à revolta pelo claro motivo comercial do livro que um ghost writer, orientado por editores espertos, escreveu e que Harry promove numa série de entrevistas. Ganhar dinheiro expondo a si mesmo e à família queima o filme.
E não é pouco. Pelo contrato que ele e a mulher, Meghan, assinaram, receberão 20 milhões de dólares por um pacote de quatro livros.
Em troca, o príncipe conta coisas como ter matado 25 talibãs quando serviu no Afeganistão, como artilheiro de helicóptero: “Um fato que não me enche de satisfação, mas também não faz com que me sinta constrangido”.
Vários especialistas dizem que Harry nunca foi colocado nem perto de situações de combate, mas a revelação indubitavelmente aumenta o barulho que ele está causando. E o transforma num alvo de eventual terrorismo, o que não é uma boa ideia.
As novas revelações já foram descritas como a maior crise da família real desde a morte de Diana, em 1997.
Qualquer coisa que envolva a intimidade da família mais famosa do mundo tem esse efeito. Inclusive as queixas de um caçula eternamente choramingão, querendo acertar as tradicionais rivalidades entre irmãos.
Entre as declarações bombásticas, pingam informações que revelam o caráter infantilizado de Harry – e a análise bem dura que William fazia da cunhada. “Rude”, “difícil”, “cáustica”, disse ele na conversa que, segundo Harry, acabou com o irmão o agarrando pelo colarinho e jogando no chão.
No entrevero, William quebrou a correntinha de Harry, que caiu de costas sobre a tigela do cachorro. Cacos da tigela deixaram arranhões nas costas do agredido.
A cena algo patética revela que a convivência entre os irmãos não tinha nada de shakespeariana, embora no livro o autor real, J. R. Moehring, use uma palavra difícil – arquinêmesis, ou grande inimigo – que Harry deu de repetir nas entrevistas de divulgação. É difícil imaginar o príncipe não exatamente brilhante, que no colégio pedia aos seguranças que resolvessem os problemas de matemática, tendo intimidade com conceitos da dramaturgia grega.
Harry também fala sobre o motivo do entrevero aberto entre as concunhadas em torno do ensaio e da roupa das daminhas de honra antes do casamento em que o marido e ela ganharam o título de duques de Sussex.
Numa conversa por telefone, Meghan disse a Kate, que havia acabado de dar à luz, que devia estar alterada “por causa dos hormônios”. Realmente não é o tipo de coisa a se dizer a uma mulher com um bebê de um mês. Houve um chá de reconciliação onde Meghan foi repreendida por William pelo tratamento rude à esposa- “Não fazemos esse tipo de coisa aqui” – e ficou “ofendida”. Também disse ao herdeiro que não colocasse o dedo no seu nariz.
O príncipe Harry, pelo menos através de seus assessores de imagem, sabe muito bem que o público britânico está perdido. O alvo verdadeiro é o público americano, ao qual vendem a versão de que o casal Sussex é moderno, antenado, identificado com causas “woke” e com grande capacidade de promover o bem, a verdade e a justiça. Suas nêmesis, claro, são os membros de uma família antiquada, agarrada a conceitos do passado, superada e até racista.
“Por favor, meninos, não façam meus últimos anos serem uma desgraça”, disse Charles, depois do enterro do pai, segundo o filho caçula.
Através de seus assessores de imprensa, Charles e William plantam que permanecerão estoicamente em silêncio seja qual for a provocação. Sabem muito bem que qualquer reação favorece a Casa de Sussex, como Harry e Meghan são ironicamente chamados.
A íntegra das entrevistas ainda não foi ao ar, mas livrarias espanholas quebraram o compromisso de só vender o livro a partir da terça próxima.
Mais revelações virão, inclusive sobre a relação com Camilla. O que já saiu: Harry diz que temia ser “a madrasta má das histórias”, comparando o primeiro encontro com ela a tomar uma injeção. Implorou ao pai que não se casasse.
E vem mais chororô também.
Num dos mais ridículos, Harry diz que o irmão e a cunhada o aconselharam a se fantasiar com um uniforme nazista para uma festa no longínquo ano de 2005 – um despropósito que o tornou alvo de críticas pela primeira vez.
De chororô em chororô, ele vai ficando milionário. E não é de se eliminar a hipótese de que venha a fazer um curso de “reeducação”, abrindo caminho ao mea culpa pelas mortes no Afeganistão.
Milionário progressista tem dessas coisas.