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Por que tantos seguranças deixaram solto atirador que queria matar Trump?

Um desses dois snipers na foto matou Thomas Crooks, mas soa inexplicável a sequência de erros estonteantes que deu a ele liberdade de ação

Por Vilma Gryzinski 18 jul 2024, 06h29

Até os pais do assassino ligaram para autoridades e comunicaram o desaparecimento do filho, Thomas Matthew Crooks, muito provavelmente por que deram falta, também, do fuzil AR-15 do pai.

É uma revelação espantosa atrás da outra, sobretudo envolvendo negligências do Serviço Secreto, órgão inteiramente dedicado a proteger presidentes e candidatos.

A coisa honrada que a diretora do Serviço Secreto, Kimberly Cheadle, teria a fazer seria apresentar uma carta irrevogável de demissão, com um longo e detalhado pedido de desculpas às vítimas do atentado contra Donald Trump e a todo o país. A liberdade de ação com que Crooks se movimentou durante horas – repetindo, horas – no local, até subir no telhado do laboratório de pesquisa de vidros industriais de onde disparou oito tiros de AR-15, com um morto, dois feridos graves e um candidato a presidente com a orelha cortada.

Não importa se é mulher, homem ou transespécie. Não adianta dizer que assume a responsabilidade, como fez a diretora, e ficar tudo por isso mesmo.

É inacreditável que Cheadle tenha declarado que não colocou atiradores de elite em cima do prédio industrial a menos de 150 metros do palanque do comício porque o telhado corrugado era “muito inclinado” e isso implicaria em risco para os snipers.

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Imaginem as gargalhadas que correram o mundo dos especialistas, em todos os países do planeta.

Foi um dos dois snipers fotografados no telhado de outro galpão da área – roupas pretas leves, tênis de solado fino, boné e barba, uniforme de quem não interage com o público – quem atirou na testa de Crooks, como estava treinado para fazer.

“MENOS ESSE CARA”

Mas por que levou tanto tempo? Esperou uma ordem ou agiu por própria iniciativa, como também são treinados? E alguém mandou que os dois esperassem enquanto o assassino se colocava confortavelmente, também deitado de bruços na posição de franco-atirador, para disparar os tiros que só não mataram Trump porque a mão indecifrável do destino – muitos americanos preferem dizer providência divina – fez com que movimentasse ligeiramente a cabeça?

A falta de explicações para a sequência de erros aumenta as teorias conspiratórias e mantém abertas as feridas num país com emoções já extremamente em carne viva.

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Comentou um leitor do site Breitbart, obviamente simpatizante de Trump, mas com palavras pertinentes, que todos podem entender sobre as diversas oportunidades que os órgãos de segurança não aproveitaram para impedir Crooks: “Cada vez que alguém parece suspeito para um policial, geralmente é interrogado, identificado, jogado no chão, algemado, espancado, detido, acusado, multado, preso. Menos esse cara. Eu me pergunto por quê?”.

O jornal inglês Telegraph fez uma montagem com tela dividida, de um lado vídeos de pessoas do público, de outro, Trump falando no discurso iniciado às 18,04 horas, pelo horário local. Enquanto ele discursa, segundo por segundo, aparecem na outra tela pessoas gritando que havia um atirador. “Tem alguém no telhado, olhe, ele está lá. Está vendo? Deitado, está vendo?”, diz um homem às 18,09. Uma mulher a seu lado responde que sim.

JOGO DE EMPURRA

Outras pessoas filmam o atirador. Às 18,10, um homem aponta pra Crooks e chama “Policial, policial”. Nada. Às 18,11, outro homem do público grita: “Ele está armado”. Um segundo depois, Crooks começa a sequência de disparos.

Um dos snipers da foto acima, o que parece mais próximo à câmera, já estava com o assassino na mira telescópica, mas levanta a cabeça exatamente no momento em que Crooks dispara e acerta nada menos que quatro pessoas. Dois segundos depois, os dois snipers fazem cinco disparos. Crooks está morto.

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Outros fatos espantosos: o prédio industrial cujo telhado ele usou como plataforma de tiro estava ocupado por três franco-atiradores da polícia local, reforçando o time do Serviço Secreto. Não viram que acima deles o assassino preparava calmamente o atentado. O perímetro tão próximo ao palanque, como se diz no jargão, foi deixado, absurdamente, sob responsabilidade da polícia local de Butler.

O Serviço Secreto, muito mal administrado pela atual diretora, tentou praticar o velho jogo de empurra e colocar a culpa nesses policiais municipais e estaduais. Mesmo sendo de uma cidade pequena, todos sabem que qualquer força policial nos Estados Unidos equivale a um miniexército. Poderiam ter feito a diferença.

Não fizeram e os erros de comando precisam ser expostos ao país, embora o chefe da polícia local tenha defendido o comandado que subiu – não numa escada, garante, mas nas mãos cruzadas de um colega – para ver Crooks e caiu, como numa comédia de pastelão, quando o assassino virou o fuzil para ele. Sem isso, alegou, os tiros em Trump seriam antecipados em dez segundos – e, potencialmente, teriam acertado.

CABEÇA DESPROTEGIDA

Crooks pode movimentar uma escada comprada pouco antes do Home Depot (o recibo estava em seu bolso), um telêmetro independente e um fuzil AR-15. Várias vezes foi visto mexendo no celular. Também foi encontrado um dispositivo de disparo à distância, criando a possibilidade de que explodiria material deixado em seu carro, um Sonata da Hyundai, para poder fugir.

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Testemunhas contaram tê-lo visto carregando a arma. Três horas antes do atentado Crooks já havia despertado suspeitas por carregar um telêmetro – naquele momento, sem a arma. Mas para que alguém leva um instrumento de auxílio de tiro num comício da eleição para presidente? Em vez da detenção imediata, policiais da área avisaram que era para ficar de olho nele e comunicaram ao Serviço Secreto, segundo um minucioso levantamento feito pela CNN.

No domingo, Kimberly Cheadle mandou um memorando com elogios aos agentes que protegeram Trump. Na segunda-feira, o ex-presidente apareceu na convenção republicana cercado por catorze agentes, todos homens mais altos do que ele.

Ficou claro, nos momentos angustiantes em que Trump se levantou do chão do palanque, com a orelha ensanguentada, que a mulher do círculo mais fechado de guarda-costas era mais baixa do que ele, deixando assim sua cabeça desprotegida do “escudo humano”.

Não é misoginia mostrar isso – lembrando que Kimberly Cheadle tinha uma meta de colocar 30% de mulheres no Serviço Secreto.

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VELHA GUARDA

Como nos esportes, os diferentes tipos físicos determinam papéis em forças militares ou esquemas de segurança.

Ludmila Pavlichenko, franco-atiradora do Exército Vermelho, matou 309 inimigos do exército alemão invasor durante a II Guerra Mundial. Figura entre os cinco maiores da categoria em todos os tempos. Tinha pouco mais do que 1,50 metro.

Napoleão exigia que os veteranos da Guarda Imperial (ou Velha Guarda, daí a origem do termo) tivessem no mínimo 1,76 metro de altura. Eram também chamados de Imortais. Inspiravam respeito aos pares e medo aos inimigos.

O próprio imperador, um gênio militar que muitos especialistas consideram o maior estrategista de todos os tempos, tinha um corpo miúdo. Uniformes conservados da época serviriam para meninos bem desenvolvidos de doze ou treze anos de hoje.

SEM RASTROS DIGITAIS

O FBI está fazendo as investigações do atentado de Crooks, um jovem de 20 anos que, segundo outro comentário de leitor, é “a única pessoa da face da Terra” que não tinha uma pegada digital. Não foi ainda levantada uma única linha dele pelas redes sociais ou em aplicativos de mensagem.

O assassinato de John Kennedy mostrou como é difícil ter uma única e incontestada explicação para fatos momentosos e confusos, mas não é possível deixar tudo tão mal explicado como está agora no atentado de Butler.

E quanto mais Kimberly Cheadle fica no cargo, pior para a noção de que todos, em qualquer nível, têm que responder por seus erros.”Não íamos querer colocar alguém num telhado inclinado”? Tratar os cidadãos americanos como idiotas não é uma boa política. E o secretário da Segurança Interna, Alejandro Mayorkas, a quem o Serviço Secreto está subordinado, também não deveria continuar no cargo.

Além de desonroso, é perigoso. E dá a oportunidade aos adversários republicanos de eviscerar o governo.

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