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Por que iranianos querem eliminar Israel em vez de cuidar da própria vida?

O Irã do aiatolá Ali Khamenei já é uma potência regional movida a uma ideologia político-religiosa que precisa de um inimigo permanente

Por Luana Zanobia Atualizado em 9 Maio 2024, 12h22 - Publicado em 13 abr 2024, 18h00

Sob a nuvem de drones dirigidos pelo Irã contra Israel, é impossível não se perguntar qual o interesse existencial do Irã numa guerra?

A resposta é: nenhum. Fora, infelizmente, a lógica do extremismo.

O fundamentalismo xiita, base ideológica do sistema iraniano, é a maior coluna de sustentação do regime que se instalou no Irã com a revolução de 1979. Ele ajuda a entender a bem sucedida expansão regional iraniana, que hora abarca Líbano, Síria, uma parte do Iraque e Iêmen – e também por que os regimes sunitas da região veem o vizinho persa como uma ameaça constante.

Ter um grande exército, perseguir a bomba nuclear, operar um braço armado responsável por operações militares e atos de terrorismo no exterior obedece à mesma lógica: o Irã precisa se proteger dos vizinhos sunitas, que apoiaram em massa a malfadada guerra promovida por Saddam Hussein contra o país, e ao mesmo tempo perseguir o lema central de sua ideologia resumido no slogan “Morte a Israel”. “Morte à América” também é um dos hits.

Isso ajuda a explicar porque o Irã, um país de 87 milhões de habitantes assentado num mar de gás e petróleo, tem um PIB de 415 bilhões de dólares, menor do que os 520 bilhões de Israel, com zero de recursos naturais, população de 10 milhões e um território 75 vezes menor. O regime iraniano busca o conflito, mesmo quando terceirizado, para justificar a própria existência, Israel faz a guerra para sobreviver.

Todos os países que tem uma parte da população xiita, portanto mais sujeita à radicalização promovida pelo Irã, têm medo da capacidade de desestabilização promovida pelo regime dos aiatolás. A liderança iraniana e seu chefe supremo, Khamenei, de 84 anos, também fizeram uma jogada astuta ao se aproximar de grupos como o Hamas, nascidos do fundamentalismo sunita tal como proposto pela Irmandade Muçulmana.

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CIVILIZAÇÃO PERSA

É via essa aliança que o Irã treina, arma e financia organizações palestinas hostis a qualquer tipo de acordo de paz um anátema para um regime onde a religião dita tudo, inclusive a aversão a não muçulmanos

Ali Khamenei já disse que Yasser Arafat, o falecido líder da Organização de Libertação da Palestina que pode ir morar no que seria um futuro estado ao assinar um acordo de paz regional, foi “envenenado e assassinado” por Israel, não obstante “colaborasse” com a “entidade sionista”.

Ou seja, na visão fundamentalista do Irã, Arafat era um traidor. E seus herdeiros da Autoridade Palestina seguem pelo mesmo caminho.

Um Irã sem a missão de destruir Israel seria um país mais próspero e menos perigoso – e talvez até tentado a lembrar que os persas foram colonizados pelo expansionismo árabe, conduzido sob a bandeira do Islã.

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Os momentos máximos da civilização persa precedem esta conquista. E as minorias que continuaram a seguir a religião original, o zoroastrismo, sendo perseguidas por causa disso, demonstraram na Índia e em outros lugares que são excelentes na arte de produzir riquezas.

Em particular, iranianos em posição de comando expressam muito claramente  sentimentos de superioridade em relação aos árabes, vistos como tribos sem disciplina.

CAUSA PERMANENTE

Foi o deposto xá Reza Pahlevi que mudou o nome de Pérsia para Irã, um erro grave de branding, mas que pretendia enfatizar a origem ariana do país. O orgulho pela antiga civilização, saudada como criadora da primeira superpotência do mundo, sob o comando de Ciro, o Grande, 500 anos antes da era cristã, persistiu mesmo depois da revolução dos turbantes, conduzida pelo falecido aiatolá Khomeini. Todas as outras forças, principalmente de esquerda, que participaram do levante foram devidamente varridas do mapa e a eliminação do Estado judeu se tornou uma causa permanente.

Da sentença de morte contra Salman Rushdie – quase executada por um fanático simpatizante do Irã em 2022 – aos atentados na Argentina contra alvos judaicos, o “totalitarismo religioso”, na definição do escritor que perdeu um olho a facadas, se tornou uma política de estado.

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A expansão externa do regime teocrático começou pelo Líbano, com a radicalização da população xiita e a ascensão do Hezbollah. Mulheres libanesas desse ramo muçulmano chegavam a ser pagas para usar o negra cobertura que só deixa o rosto de fora, em lugar das tradicionais túnicas e véus coloridos.

Hoje o Líbano corre, de novo, o risco de ser arrastado para uma guerra só por causa do poder do Hezbollah. Não existe nenhuma disputa territorial significativa nem qualquer outro motivo que não seja o extremismo religioso para colocar o Líbano, de novo, sob risco de graves perdas.

Na expansão de sua influência, o regime iraniano teve, ironicamente, uma enorme ajuda dos Estados Unidos. Ao derrubar Saddam Hussein, George Bush filho e companhia desencadearam um novo equilíbrio de forças, favorecendo os xiitas iraquianos.

CONFLITO DESCONTROLADO

O “arco xiita” habilidosamente construído, hoje vai do Iêmen, em plena península arábica, até o Líbano, passando pelo Iraque e pela Síria, salpicado por radicais sunitas como as organizações palestinas insurgentes. Evitar o que parecia inevitável – a queda do regime sírio – foi um feito que alterou o panorama geoestratégico no Oriente Médio.

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A resposta das potências sunitas foi se aproximar dos Estados Unidos e de Israel. A possibilidade de um grande acordo, encabeçado pela Arábia Saudita, que consumasse o reconhecimento de Israel empurrou o Hamas, certamente com o beneplácito do regime iraniano, a desfechar o ataque em massa de 7 de outubro.

A dinâmica desencadeada desde então conduziu o Oriente Médio à atual situação de um conflito com a possibilidade de escapar a qualquer tipo de controle.

O Irã teria muito mais a ganhar se o governo se ocupasse do próprio país e até fizesse uma reconciliação verdadeira com os países sunitas mais importantes.

Apesar de todas as restrições previsíveis, pesquisas de opinião indicam que aumenta entre a população o sentimento de que as mulheres não devem ser obrigadas a usar a cobertura obrigatória do corpo e dos cabelos e também o desejo de separação entre estado e religião. Motivo, obviamente, de preocupação para o regime fundamentalista.

Nada como uma boa guerra para trazer de volta ao rebanho os que começam a ter ideias sobre alternativas ao regime teocrático.

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